Com isolamento social, atendimentos da Polícia Militar a mulheres vítimas de violência aumentaram 44,9% só no estado de São Paulo.
By Andréa Martinelli
13/05/2020
Para muitas mulheres, entrar em quarentena é sinônimo de vulnerabilidade. O melhor antídoto contra a proliferação do novo coronavírus, paradoxalmente, é um veneno para aquelas que vivem em situação de violência doméstica.
Criado pelo Instituto Maria da Penha, em parceria com as agências de publicidade F.biz e Vetor Zero, o vídeo “Call” faz parte de uma campanha da organização para conscientizar não só as mulheres, mas também pessoas que podem vir a ser uma rede de apoio diante de um caso de violência doméstica.
No vídeo, um caso é denunciado a partir de uma reunião de trabalho feita por videoconferência. Carla, personagem fictícia, aparece muito maquiada às 10h da manhã, horário da reunião - supostamente para disfarçar marcas da violência que sofreu -, e seus colegas estranham seu comportamento.
No vídeo, um caso é denunciado a partir de uma reunião de trabalho feita por videoconferência. Carla, personagem fictícia, aparece muito maquiada às 10h da manhã, horário da reunião - supostamente para disfarçar marcas da violência que sofreu -, e seus colegas estranham seu comportamento.
“E quem não está em situação de risco, fique atento aos sinais. Podemos resgatar amigas, colegas e familiares deste tipo de relacionamento, que não distingue cor, idade ou classe social”, diz texto da campanha.
Assista abaixo:
O vídeo destaca o aumento de até 50% nos casos de violência doméstica desde que o período de isolamento social foi aplicado no País e afirma que as vítimas não estão sozinhas. “Peça ajuda”, afirma o vídeo, ao ressaltar canais de denúncia como o 190, da Polícia Civil e o Disque 180. Com a circulação restrita e a convivência intensa com o agressor, a denúncia é desencorajada.
Casos de violência doméstica aumentaram em pelo menos seis estados brasileiros, segundo estudo do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). Em comparação com o mesmo período em 2019, os números aumentaram em São Paulo, Acre, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pará.
Só no estado de São Paulo, que concentra o maior número de casos de covid-19 no País, atendimentos da Polícia Militar a mulheres vítimas de violência aumentaram 44,9%. O total de socorros prestados passou de 6.775 para 9.817, na comparação entre março de 2019 e março de 2020. A quantidade de feminicídios também subiu, de 13 para 19 casos (46,2%).
Isolamento imposto pela quarentena também elevou o número de denúncias recebidas pelo Ligue 180, canal oficial do governo federal responsável por receber notificações de violência doméstica.
Como denunciar violência doméstica no isolamento socialDelegacias de Defesa e Atendimento à Mulher continuam funcionando 24 horas e casos podem ser feitos online. Saiba como registrarAs vítimas podem solicitar ainda que remotamente a implementação de medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha, como restrição do contato e saída do lar. Quando acionadas no momento da ocorrência, o pedido é encaminhado à Justiça.A Defensoria Pública de São Paulo informou que todos os serviços estão mantidos online. O atendimento à distância é feito pelo Nudem (Núcleo de Defesa das Mulheres Vítimas de Violência de Gênero) e pode ser realizado por mensagem de WhatsApp, no número (11) 9-4220-9995; e gratuitamente pelo 0800-773-4340.Em casos em flagrante, a Polícia Militar pode ser acionada imediatamente, pelo telefone 190 - seja pela vítima ou testemunhas. Além disso, não só denúncias, mas também o atendimento e orientação à vítima de violência doméstica podem ser feitos pelo Ligue 180.
Dados da ONDH (Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos), do MMFDH (Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos), divulgados nesta sexta-feira (27), apontam aumento de 18% entre as denúncias recebidas entre os dias 17 e 25 de março - período em que políticas de isolamento foram intensificadas no País -, comparado aos dias 1 e 16 do mesmo mês.
Detalhamento da pasta aponta que 829 denúncias foram registradas no início do mês, entre os dias 1 e 16 de março. Já entre os dias 17 e 25 do mesmo mês, foram registradas 978. Em ambos os períodos, respectivamente, o sistema notou aumento nos atendimentos em geral; de 3.045, o número de ligações subiu para 3.303, apontando aumento de 8,5%.
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