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terça-feira, 19 de maio de 2020

A mídia e o aborto no Brasil em tempos de pandemia

Levantamento Cfemea/SPW mostra que aborto tem abordagem neutra em 59% das matérias, mas julgamento no STF sobre interrupção da gravidez em casos de zika aumenta pressão da mídia conservadora sobre o tema 
Por Sanny Bertoldo e Maria Martha Bruno*
14 DE MAIO DE 2020
combate à pandemia de coronavírus, como não poderia deixar de ser, tem direcionado as ações e o noticiário no Brasil e no mundo, o que não significa que nada mais esteja sendo discutido e/ou resolvido. O aborto é um destes temas, e foi para entender como a mídia vem tratando do assunto que a Gênero e Número se debruçou sobre os dados levantados pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) e o Observatório de Sexualidade e Política (SPW) nos últimos três meses, já que a pandemia começou a ser notícia no país ainda em fevereiro.

“Esta iniciativa faz parte de um projeto em parceria (Cfemea / SPW), que tem o objetivo de desenvolver estratégias de lobby e comunicação na luta pelo direito de decidir por um aborto no Brasil. Monitorar a mídia foi, desde o início do projeto, apontado como instrumento essencial para seu desenvolvimento, de modo a acompanhar as repercussões das movimentações no legislativo, executivo e judiciário, assim como sentir a temperatura da opinião pública”, explica Angela Freitas, assessora do projeto, que existe há mais de dois anos.
Neste levantamento, que inclui periódicos, blogs e sites, foram destacadas 1.189 matérias nas quais aparecem a palavra “aborto”, classificadas em “favoráveis”, “contrárias”, “neutras”, “ambivalentes” e “relacionadas” ao tema. Para melhor compreensão, dividimos os veículos de notícias em tradicionais, independentes (nas quais se incluem veículos destinados a um público específico, como evangélicos e católicos) e institucionais (publicações de universidades e de órgãos públicos, por exemplo). A maior parte das notícias (705) foi classificada como “neutra”, o que se explica pelo fato de ter sido publicada em veículos tradicionais de mídia, que pregam a imparcialidade como princípio editorial. As “favoráveis” (203) aparecem em segundo, também com publicação majoritária em veículos tradicionais (144); já as contrárias (181) foram produzidas principalmente pela mídia independente (89).
O aumento do número de casos de covid-19, assim como de mortos, e o colapso do sistema de saúde em abril não arrefeceram a atenção da mídia conservadora sobre o tema. Freitas e Clara Faulhaber do Vale, assessora da SPW e mestre em Ciências Sociais pela Uerj, que também é responsável pelo projeto, destacam a pressão conservadora contra o aborto durante três semanas específicas: entre 13 e 19 de abril, 20 e 26 de abril e 27 de abril e 3 de maio, que coincidiram com o anúncio, o julgamento e o resultado do julgamento da ADI 5581, no Supremo Tribunal Federal. Esta Ação Direta de Inconstitucionalidade contempla a não criminalização do aborto desejado por mulheres grávidas que se descobrem com zika (por temer os efeitos da doença sobre o feto) e também direitos sociais e de acesso à saúde: como o direito de evitar a gravidez, de ser bem assistida durante a gestação, de acesso a tratamentos e suporte financeiro após o nascimento da criança com síndrome congênita do zika (microcefalia e outros problemas). A análise foi publicada no Boletim Radar (Cfemea):
“Com o clipping é possível observar que a pressão conservadora estava a postos para combater a ADI 558, focando exclusivamente na questão do aborto, vista de forma generalizada, como se a ADI tratasse de legalizar o aborto no Brasil. Na semana em que se anunciou o julgamento foram captadas dez matérias posicionadas contra e apenas uma favorável à ação. Ao todo, nas três semanas, foram registradas 41 matérias com posição contrária, e 11 favoráveis à ação.”
*Sanny Bertoldo é editora e Maria Martha Bruno é diretora de conteúdo da Gênero e Número

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