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sábado, 22 de dezembro de 2012


A grega e a troiana

ISABEL CLEMENTE
  
O ar condicionado do carro está ligado. O termostato indica 23 graus. Uma temperatura bem mais agradável do que a externa naquela tarde de um sábado ensolarado no Rio. Do banco de trás, uma voz infantil reclama.

“Tô com friiiiio”.
Em dois segundos, outra voz também reclama.
”Tá calôo”.

A ladainha das crianças vai aumentando. Em poucos segundos, elas estão disputando o concurso para ver que filha consegue nos irritar primeiro com informações contraditórias e descabidas. Não fazia nem calor nem frio.

Em meio à balburdia, elevo o tom da voz para perguntar ao meu marido.
 - Você acha possível que uma esteja com frio e a outra com calor?
- Não. Não acho possível.
- Nem eu.

E a reclamação continua.

Esse tipo de discussão é a tal fagulha que azeda momentaneamente o humor das crianças, que varia do vinho ao vinagre sem aviso prévio e ameaça a sua paciência.

Se você lida com crianças, sabe bem do que estou falando. Às vezes, procurar uma atividade que agrade filhos em idade diferente, propor uma brincadeira que junte menino e menina ou simplesmente deixar num canal da televisão de comum acordo vira um Deus-nos-acuda. Aí, é o caso de os poderes Executivo e Judiciário da minha casa (eu e meu marido) baixar medidas provisórias, fazer julgamentos sumários e decidir por elas.  Quem não se comporta bem de livre e espontânea vontade é obrigado a assinar termos de ajuste de conduta.

Mas você tenta não estressar, olhar a paisagem, porque dali a algumas horas elas estarão brincando de esconde-esconde na loja de tapete, outro dia estarão pedindo, implorando, porfavormamãe deixa a gente dormir junta, aí você sente o coração amolecer, mesmo sabendo que a farra ameaça o sono de todos, e você deixa, tá bom só um pouco, porque no dia seguinte elas estarão brigando novamente por outro motivo tão surpreendente quanto o frio e o calor no interior de um carro climatizado e é uma delícia vê-las abraçadas na mesma cama por alguns minutos. Vale por todas as batalhas.

Irmãos são assim. Brigam mas não vivem um sem o outro.

Parecem nutrir interesses diversos mas acabam convergindo quando a gente menos espera. Estavam lá as duas seguindo os animadores da última festa infantil que fomos. Fiquei observando para ver se aprendia como o trio de jovens conseguiu manter interessadas nas brincadeiras a menina de 7 e a outra de 3.

Encontrar saídas criativas e outras nem tanto para momentos de tensão desnecessários é parte da nossa missão como pais. Tem hora que administrar essas briguinhas é chato que dói, mas, se pensar bem, quantas vezes durante este ano você foi obrigado a administrar crises fabricadas, reações exageradas e expectativas frustradas das pessoas que te cercam e as suas próprias? Quantas frases mal interpretadas, quantas intenções não compreendidas e quantas tentativas de chegar a um acordo fracassaram?

Eu poderia dizer que lidar com o outro é o grande desafio da nossa vida. Entender as razões que podem estar por trás de uma pessoa irritada, sair da discussão que não leva a lugar algum e buscar respostas inteligentes para cobranças desarrazoadas é aquele diferencial que fará de você alguém mais preparado para a vida, ou pelo menos para uma vida mais leve.

Mas lidar consigo mesmo é mais complicado. Nem sempre estamos preparados para nos chamar de desarrazoados e reagimos mal ao inesperado da vida.

Depois que os ânimos arrefeceram e que as meninas demonstraram um padrão mínimo de educação e diálogo, desligamos o ar condicionado do carro e topamos abrir um pouco as janelas de trás.

E assim se fez a paz.  Coisas simples como vento na cara agradam greguinhos e troianinhos.

Quando algo complicar em 2013, faça o mesmo: abra a janela e deixe o vento bater na cara.

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