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sexta-feira, 12 de junho de 2015

O livro "A amiga genial" e o mistério por trás da autora Elena Ferrante

A escritora não dá entrevistas nem posa para fotos. Além do talento, o mistério contribui para o sucesso de suas obras
                           
VINICIUS GORCZESKI E NINA FINCO COM RUAN DE SOUSA GABRIEL
12/06/2015

Mulheres de bicicleta na Itália na década de 60 (Foto: Erich Lessing/Album)
FEMINILIDADE Mulheres de bicicleta na Itália na década de 1960.  Ao lado a capa de  A amiga genial  (Foto: Divulgação)
As  vozes literárias que emergem da Itália são admiradas, mas raramente vendem bem no Brasil. Umberto Eco é raro exemplo de autor italiano com apelo comercial por aqui. Best-sellers nos Estados Unidos e na Europa, as obras de Elena Ferrante prometem ser uma exceção à regra. A Globo Livros lança, neste mês, o romance A amiga genial, o primeiro da Série Napolitana, uma tetralogia que vendeu mais de 250 mil cópias nos Estados Unidos. Na Itália, foram 100 mil.
 
Por trás do sucesso, há um grande mistério: Elena Ferrante é um pseudônimo. Ninguém conhece a verdadeira identidade da autora, que já publicou nove livros, nem se tem certeza de que ela seja mesmo uma mulher. Elena dá poucas razões para evitar entrevistas de divulgação de seus livros. “Já fiz o bastante por esta história: eu a escrevi”, disse a seu editor italiano Sandro Ferri, um dos poucos que a conhecem.

 Elena, que só dá entrevistas por escrito, diz que suas razões para o anonimato mudaram nas últimas duas décadas. No início, foi timidez. Depois, medo de virar alvo de hostilidades públicas. Depois, ela diz que passou a temer que palavras ditas em voz alta e a fama destruam o sentido verdadeiro de um livro: expressar-se por si só. “É como se as obras não achassem nelas mesmas autorização para sua existência, mas precisassem de um passe”, disse.

As incertezas sobre a identidade de Elena levaram muitos leitores e críticos a especular que suas histórias sejam autobiográficas: a narradora de A amiga genial também se chama Elena e quer ser escritora. Suspeita-se também que ela tenha nascido na Nápoles do pós-guerra, onde a série se passa. Elena descreve fatos e maneirismos típicos da época e do lugar, como alguém que os conhece desde o berço. Ela demonstra também ter estudado a fundo os clássicos gregos e latinos. Referências a Eneida, de Virgílio, são recorrentes. Outra especulação é que a vida pessoal de Elena tenha atrapalhado, no início, sua carreira literária. No livro I giorni dell’abbandono (Os dias do abandono), a protagonista Olga é uma mulher casada, de 38 anos, que abandonou o sonho da literatura para casar e ter filhos. Em comum, todos os livros de Elena tratam da maternidade e de dilemas femininos marcantes.

 O mistério contribui para o marketing e para as vendas. Mas as qualidades literárias  dos romances de Elena são suficientes para destacá-los. Suas aberturas prendem o leitor. Seu ritmo é variado. Alterna o ágil e rápido com o lento e introspectivo. “Seus livros são afiadíssimos ao tratar e entrecruzar planos variados, do psicológico, sociológico e histórico ao antropológico”, diz Maurício Santana, tradutor de Elena no Brasil.

 Em uma de suas entrevistas por escrito, Elena disse que a escolha cautelosa da palavra, seu arranjo entre as frases e sua disposição nos parágrafos são os únicos artifícios necessários para falar verdades através da mentira da ficção. Do contrário, “pode-se fazer soar falsa a mais honesta das verdades biográficas”, afirmou. Elena Ferrante é a grande sensação literária que ninguém jamais conheceu.
 
 

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