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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Entenda o estado congelado da solidão no casamento


por Antônio Carlos Amador

"... solidão se manifesta fria e intensa no interior das famílias"
De um ponto de vista lógico, o lugar em que seria menos provável experimentar a solidão seria um ambiente em que as pessoas vivessem juntas, debaixo do mesmo teto, no casamento e na família. Afinal de contas há um mito de que solidão significa estar isolado, afastado das outras pessoas.

Mas o fato é que, atualmente, em nossa sociedade, a solidão se manifesta fria e intensa no interior das famílias. A proximidade física contínua contribui para consolidar mágoas e medos não solucionados. Tais sentimentos podem até ser atenuados nos momentos em que os membros da família estão separados, por causa do trabalho, ou de algum lazer. Talvez seja por isso que os fins de semana constituem períodos de crise nesses lares. Afinal de contas, passar 48 horas na companhia de alguém com quem não podemos ou não queremos nos comunicar, com medo de uma reação de incompreensão ou rejeição, é a solidão em seu estado mais puro e frio.

Quando se trata das pessoas da família, nós sempre esperamos muito mais em matéria de compreensão. Se isso não acontece, nossa experiência de solidão pode se tornar terrível. A intensidade de nossas reações às pessoas está na razão direta do grau de nossas expectativas: se esperamos que alguém nos compreenda e descobrimos que isso não acontece ficamos desapontados. Mas quando uma pessoa de nossa própria família deixa de nos compreender nos sentimos profunda e dolorosamente solitários.

Nossas expectativas em casa podem chegar a ser tão elevadas que não levamos em consideração que nossos familiares podem ser frágeis, como os outros seres humanos. É preciso lembrar sempre que as pessoas que nos amam também são humanas. E que há dias em que a saúde, a disponibilidade de tempo, os problemas no trabalho ou nos demais afazeres contribuem para a fadiga, tornando difícil, senão impossível, compreender os outros, muito menos a nós mesmos.

Quando isso ocorre, talvez seja melhor parar para conversar e explicar que estamos preocupados com algum problema e que não nos sentimos em condição de escutar, deixando claro que estamos dispostos a fazê-lo em um momento mais propício. Assim estaremos sendo sinceros, evitando que as pessoas esperem mais do que podemos dar nesse momento.

Há casais que ainda se comunicam, ocasionalmente se tocando e se olhando, numa situação em que cada um vai se sentindo mais e mais distante do outro, experimentando a angústia da solidão típica do casamento. Experimentam um tormento indescritível ao viver sob o mesmo teto, comer na mesma mesa, sentar na mesma sala e partilhar a mesma cama, sentindo medo da intimidade e do amor.

É possível que, numa ocasião ou noutra, muitos de nós já tenham experimentado esse tipo de solidão. Sentados diante um do outro, durante uma refeição, os olhos se encontrando por alguns segundos, pois olhar por mais tempo poderia nos tornar vulneráveis. Alguém já disse que os olhos são as janelas da alma, pois revelam praticamente tudo o que estamos sentindo. Por outro lado, as palavras cautelosas contribuem apenas para aumentar a tensão, que a cada momento vai se tornando mais e mais insuportável para nós. Quando pensamos nesses momentos como uma boa ocasião para partilharmos sentimentos e arriscar alguma coisa, ficamos duplamente apavorados com a possibilidade da confrontação, sem a certeza de que podemos nos arriscar a uma reação que talvez não fosse o que desejaríamos.

Querer... mas fugir, "pisando em ovos" um com o outro. Não podemos dizer nada sem antes ensaiar cada palavra. Podemos ofender, expressando sentimentos que irão derrubar de vez um relacionamento já vacilante.

Será que a outra pessoa irá aceitar se lhe contarmos o nosso sofrimento?

Teremos coragem de reagir ao que ela disser?

Seremos repelidos, se estendermos a mão num pedido de socorro?

Se manifestarmos a nossa apreciação, isso não seria mais tarde usado contra nós?

Assim é o estado congelado de solidão no casamento; duas pessoas querendo arriscar, mas paralisadas ao pensarem em fazê-lo. Não surpreende que muitas vezes essas pessoas desejem secreta e desesperadamente a mesma coisa, mas cada uma esperando que a outra assuma o risco, dando o primeiro passo.

Finalmente podemos dizer que nos sentimos importantes para as pessoas que se esforçam em compreender-nos. E que sendo compreendidos, nos sentimos amados. De um ponto de vista interpessoal o oposto da solidão é a compreensão: nada desfaz a solidão mais rapidamente do que a compreensão.

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