Por Luanda Lima Fonte:Portal EBC
04/12/15
04/12/15
Enquanto 1968 foi emblemático para o movimento feminista no mundo, 2015 foi um marco para o empoderamento das mulheres, amplificado pelo poder das redes sociais. Durante todo o ano, se multiplicaram movimentos em defesa da igualdade de direitos entre os gêneros, pelo fim do machismo, da misoginia e da violência contra a mulher e a favor da diversidade de escolhas, comportamentos, paixões, penteados, cores de pele e marcações de peso na balança. A palavra “sororidade” - a aliança entre mulheres - entrou para o vocabulário de muita gente.
O discurso machista reagiu, ora de maneira sutil, ora escancarando o desagrado com mudanças sociais irreversíveis, mas ainda controversas. Para Luíse Bello, do projeto Think Olga, “não é um novo feminismo, mas trazê-lo para o lugar em que tudo acontece, que é a internet. Está sendo criada no Brasil uma cultura de mulheres que se apoiam, compartilham histórias, fazem denúncias e usam suas redes sociais para falar sobre machismo, discriminação, homofobia, preconceito e trazer a discussão para mais pessoas. A gente se articula pela internet, mas as mudanças são reais”.
Ouça a entrevista completa com Luíse Bello para o programa Ponto Com Ponto BR, das Rádios EBC.
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Vem com a gente relembrar 15 momentos em que as mulheres foram as donas da história em 2015:
1) O poder do batom vermelho
Com um vídeo falando sobre relacionamentos abusivos, a jornalista Julia Tolezano, a Jout Jout, ganhou projeção nacional. Em novembro, a YouTubber ganhou de novo as redes após sua entrevista ao Programa do Jô, da Rede Globo, quando o apresentador Jô Soares causou constrangimento ao discorrer sobre mulheres com “cara de puta”.
2) Patricia Arquette discursa pela igualdade no Oscar
Em seu discurso como vencedora da estatueta de melhor atriz coadjuvante pelo longa-metragem Boyhood, a norte-americana agradeceu às mulheres e defendeu a igualdade salarial e de direitos, sob os aplausos da plateia.
3) Transfeminismo
Mulheres transexuais ganharam mais espaço e visibilidade este ano. A estudante pernambucana Maria Clara Araújo se tornou a primeira garota-propaganda trans do Brasil ao representar uma marca de cosméticos. Já Candy Mel, da Banda Uó, estrelou uma campanha de prevenção sobre o câncer de mama, na mobilização do Outubro Rosa. Também chamou a atenção por aqui a transição da ex-atleta norte-americana Caitlyn Jenner, acompanhada em parte por dois reality shows.
4) Brasileiras brilham na disputa por vaga no Oscar
Com Que Horas ela Volta?, Anna Muylaert se tornou a primeira mulher em 30 anos a ser escolhida para representar o país na premiação. Em 1986, o filme escolhido para disputar um lugar entre os candidatos a Melhor Filme Estrangeiro foi A Hora da Estrela, de Suzana Amaral. A produção de Muylaert, que acabou ficando de fora dos selecionados para a disputa, também tem duas mulheres como protagonistas: Regina Casé e Camila Márdila, que interpretam mãe e filha e levaram o Prêmio Especial do Júri de melhor atuação no festival de Sundance.
5) #MulheresContraCunha
A aprovação do projeto de lei nº 5.069/2013, de autoria de Eduardo Cunha, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara foi criticado por tornar crime ajudar uma mulher a abortar e exigir exame de corpo de delito para interromper uma gestação no caso do estupro, entre outras medidas. Ativistas também buscam chamar a atenção para a vulnerabilidade da população negra e para as acusações de corrupção envolvendo o parlamentar.
6) #PrimeiroAssédio
Vítima de comentários de pedófilos nas redes, uma participante de um reality show de culinária inspirou a campanha, que trouxe à tona relatos sobre a primeira vez que mulheres foram assediadas, revelando para muitos a assustadora frequência com que meninas de todas as regiões e classes sociais sofrem abuso, por desconhecidos ou não. “Um véu de silêncio cobre essa situação”, avalia Luíse Bello, do projeto Think Olga, que propôs a iniciativa. “Quando a gente trouxe a hashtag e as mulheres começaram a contar essas histórias foi muito bonito a gente ver essa coragem de compartilhar e elas passarem a enxergar que o que aconteceu era errado e não era culpa delas”, completa. Saiba como denunciar.
7) Enem “feminista”
“Não se nasce mulher, torna-se mulher”. A citação da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir tornou essa a questão mais debatida do exame deste ano. Durante o programa Caiu no Enem, a gente debateu esse ponto da prova (confira aqui). Por causa também da redação, que teve como tema a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira, o Enem de 2015 foi considerado feminista nas redes.
8) Casos de racismo contra mulheres
Em 2015, personalidades como a jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju, e as atrizes Taís Araújo e Cris Viana foram vítimas de comentários racistas nas redes sociais, muitos permeados por ofensas de cunho machista. As três responderam enfatizando a importância da diversidade e da denúncia às autoridades. Em entrevista ao Repórter Brasil, a consulesa da França em São Paulo, Alexandra Loras, falou também sobre discriminação racial e as barreiras para a ascensão social da mulher negra.
Assista:
9) Vamos Juntas?
A ideia é simples: está andando sozinha em uma situação de risco e viu outra mulher no mesmo barco? Continuem o caminho juntas. Criado pela jornalista Babi Souza, o movimento estimula a união de mulheres contra a insegurança nas ruas. A página no Facebook reúne hoje depoimentos de internautas que conseguiram evitar que outras mulheres fossem assaltadas ou estupradas.
Saiba mais no Repórter Brasil:
10) #AgoraÉQueSãoElas
A iniciativa sugeriu a homens com destacado espaço na mídia que cedessem espaço para que uma mulher escrevesse. O objetivo foi reconhecer “a urgência da luta feminista por igualdade de gênero e o protagonismo feminino nesta luta”, como escreveu em seu perfil no Facebook Manoela Miklos, criadora da campanha.
11) Viola Davis é a primeira mulher negra a ganhar um Emmy
A atriz foi premiada em setembro como melhor atriz em série dramática por How to Get Away With Murder e emocionou a plateia com seu discurso. “A única coisa que separa mulheres de cor de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Não se pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”, disse.
12) Mães em evidência
A defesa do protagonismo da mulher no parto e da redução de cesarianas desnecessárias ganhou força este ano. A humanização do parto, o fim da violência obstétrica e o incentivo ao parto natural também. Outro aspecto sobre a maternidade que recebeu destaque foi o direito de amamentar em espaços públicos sem passar por constrangimentos. Em abril, os estabelecimentos da capital paulista que proibirem o aleitamento materno passaram a ficar sujeitos a multa. Em novembro, foi a vez do governo do Rio de Janeiro sancionar a medida para todo o estado.
13) Malala e Emma Watson se encontram
Como parte da divulgação do documentário Ele me Chamou de Malala, a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora do Nobel da Paz em 2014, conheceu em Londres a atriz Emma Watson, embaixadora da Boa Vontade da ONU. “Escutei seu discurso e percebi que não há mal nenhum em me definir como feminista. De modo que sim, sou feminista e todas deveríamos ser porque a palavra feminismo não é outra coisa a não ser igualdade”, disse Yousafzai a Watson.
14) #MeuAmigoSecreto
Criada pela página Não Me Kahlo e fazendo uma irônica alusão à tradicional brincadeira de fim de ano, a campanha estimulou a divulgação de casos de machismo vivenciados pelas internautas em seu círculo íntimo. O movimento fez surgir denúncias de crimes como estupro, pedofilia e violência contra a mulher.
15) #OcupaEscola
Com a proposta de reorganização escolar estadual pelo governo de São Paulo e a previsão de mais de 90 escolas fechadas em 2016, estudantes decidiram protestar com ocupações em unidades de educação e manifestações nas ruas. A participação feminina no movimento é marcante. No dia 4 de dezembro, Geraldo Alckmin recuou, anunciando a suspensão da medida, para que seja aberto diálogo com a comunidade escolar.
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