Redes sociais criam campanhas em vários países, mobilizam cidadãos em prol dos direitos das mulheres e se tornam importantes ferramentas contra a violência
postado em 26/12/2015
Gabriela Walker
Foram necessários 29 anos para que uma mulher voltasse a receber o título de personalidade do ano da revista norte-americana Time. Angela Merkel, chefe do governo alemão e uma das mais importantes líderes da política mundial na atualidade, se tornou a quarta mulher a receber o título desde a criação da honraria, em 1936. Marcado por discussões sobre a violência de gênero e por manifestações populares por igualdade e equidade, 2015 se despede com a inspiração da “mulher mais poderosa do mundo” e o alerta dado pelo Fórum Econômico Mundial de que serão precisos 118 anos para que mulheres e homens recebam o mesmo salário para cargos idênticos.
Nas redes sociais, dezenas de campanhas foram criadas para combater o abismo social e a violência de gênero. Em uma das primeiras mobilizações do ano, centenas de homens da Turquia e do Azerbaijão posaram de saia para demonstrar repúdio à morte da estudante Ozgecan Aslan, de 20 anos, assassinada em 11 de fevereiro, após ser atacada por um motorista de ônibus. Mais de 6 milhões de tuítes com o nome de Ozgecan foram publicados desde então, muitos com histórias de outras vítimas inspiradas a revelar suas memórias.
Três homens acabaram condenados à prisão perpétua pelo caso, e autoridades se viram forçadas a reconhecer o problema da violência no país. “É um julgamento simbólico para todas as mulheres vítimas de violência. Nossa luta por igualdade e por liberdade não termina aqui”, disse, à época, a parlamentar turca Meral Danis Bestas.
O assassinato da estudante grávida Chiara Arroyo, de 14 anos, pelo namorado de 16, que contou com a ajuda dos pais para enterrá-la no jardim, despertou um movimento ainda maior na Argentina. Nascia ali a mais expressiva mobilização do país contra a violência machista, o #NiUnaMenos (“Nem uma a menos”), que em 3 de junho reuniu 300 mil pessoas na Praça do Congresso, em Buenos Aires, para exigir políticas contra o feminicídio. A então presidente, Cristina Kirchner, se uniu às manifestações, ato acompanhado por diversos políticos, entre eles, o líder recém-empossado, Mauricio Macri, que se comprometeu com cinco demandas apresentadas pelo movimento.
Após nove mulheres serem mortas em casos de violência de gênero e depois do assassinato de uma líder transgênero, os argentinos organizaram, no mês passado, a #UnoMasXNiUnaMenos, um chamado para que os homens do país assumissem a responsabilidade de lutar contra esse tipo de crime. “Queremos exigir a nós mesmos desta vez. Não ao Estado ou à Justiça”, resumiu um dos manifestantes, em entrevista a um periódico local.
#SexismoDiário
A facilidade da comunicação pela internet fez surgir “um novo feminismo”, explica a historiadora e pró-reitora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joana Maria Pedro. Ela ressalta como as ativistas de hoje “têm menos reservas, são mais diversificadas” e usam as redes sociais como meio de conscientização. “Muitas meninas nem chamam de feminismo, mas têm a clareza de seus direitos”, observa.
As demandas vão além da luta contra a violência física. Para desafiar a ideia de que “homens e mulheres têm direitos praticamente iguais”, uma campanha que começou no Reino Unido há três anos reuniu milhares de relatos de todo o mundo sobre situações corriqueiras com a tag #EverydaySexism (sexismo diário). Desabafos semelhantes ganharam força entre os brasileiros em 2015. No país, onde uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, de acordo com dados coletados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o debate de gênero nunca esteve tão presente. A questão foi tema do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de discussões promovidas pelas hashtags #PrimeiroAbuso e #MeuAmigoSecreto.
“Por aqui, o feminismo entrou mesmo na pauta”, afirma a pesquisadora Cristina Scheibe Wolff, do grupo Fazendo Gênero. “Mas isso parece ser uma reação a uma postura contrária ao feminismo. As mulheres latinas têm muito ainda pelo que lutar”, completa.
Encorajadas pela famosa apresentação da escritora Chimamanda Ngozie Adichie na conferência TEDx talk de 2013 — intitulada “Sejamos todos feministas”, que teve trechos remixados pela cantora Beyoncé —, mulheres nigerianas também usaram as redes sociais para reivindicar direitos e contar suas versões sobre a rotina no país. Em junho, após a reunião de um clube de leitura que discutiu Adichie, um grupo lançou a hashtag #BeingFemaleInNigeria, que rapidamente se transformou em trending topic local do Twitter — um dos assuntos mais comentados na rede social.
Foi pela internet também que indianas, mais conscientes de seus direitos depois da convulsão popular de 2012 e 2013, pressionaram as autoridades por mudanças no código penal, em resposta ao estupro coletivo de uma jovem estudante. Além de abordarem um tema considerado tabu, elas disseram estar #HappyToBleed (“Felizes em sangrar”) para protestar contra um templo que impede a entrada de mulheres menstruadas.
Correio Braziliense
O assassinato da estudante grávida Chiara Arroyo, de 14 anos, pelo namorado de 16, que contou com a ajuda dos pais para enterrá-la no jardim, despertou um movimento ainda maior na Argentina. Nascia ali a mais expressiva mobilização do país contra a violência machista, o #NiUnaMenos (“Nem uma a menos”), que em 3 de junho reuniu 300 mil pessoas na Praça do Congresso, em Buenos Aires, para exigir políticas contra o feminicídio. A então presidente, Cristina Kirchner, se uniu às manifestações, ato acompanhado por diversos políticos, entre eles, o líder recém-empossado, Mauricio Macri, que se comprometeu com cinco demandas apresentadas pelo movimento.
Após nove mulheres serem mortas em casos de violência de gênero e depois do assassinato de uma líder transgênero, os argentinos organizaram, no mês passado, a #UnoMasXNiUnaMenos, um chamado para que os homens do país assumissem a responsabilidade de lutar contra esse tipo de crime. “Queremos exigir a nós mesmos desta vez. Não ao Estado ou à Justiça”, resumiu um dos manifestantes, em entrevista a um periódico local.
#SexismoDiário
A facilidade da comunicação pela internet fez surgir “um novo feminismo”, explica a historiadora e pró-reitora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joana Maria Pedro. Ela ressalta como as ativistas de hoje “têm menos reservas, são mais diversificadas” e usam as redes sociais como meio de conscientização. “Muitas meninas nem chamam de feminismo, mas têm a clareza de seus direitos”, observa.
As demandas vão além da luta contra a violência física. Para desafiar a ideia de que “homens e mulheres têm direitos praticamente iguais”, uma campanha que começou no Reino Unido há três anos reuniu milhares de relatos de todo o mundo sobre situações corriqueiras com a tag #EverydaySexism (sexismo diário). Desabafos semelhantes ganharam força entre os brasileiros em 2015. No país, onde uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, de acordo com dados coletados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o debate de gênero nunca esteve tão presente. A questão foi tema do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de discussões promovidas pelas hashtags #PrimeiroAbuso e #MeuAmigoSecreto.
“Por aqui, o feminismo entrou mesmo na pauta”, afirma a pesquisadora Cristina Scheibe Wolff, do grupo Fazendo Gênero. “Mas isso parece ser uma reação a uma postura contrária ao feminismo. As mulheres latinas têm muito ainda pelo que lutar”, completa.
Encorajadas pela famosa apresentação da escritora Chimamanda Ngozie Adichie na conferência TEDx talk de 2013 — intitulada “Sejamos todos feministas”, que teve trechos remixados pela cantora Beyoncé —, mulheres nigerianas também usaram as redes sociais para reivindicar direitos e contar suas versões sobre a rotina no país. Em junho, após a reunião de um clube de leitura que discutiu Adichie, um grupo lançou a hashtag #BeingFemaleInNigeria, que rapidamente se transformou em trending topic local do Twitter — um dos assuntos mais comentados na rede social.
Foi pela internet também que indianas, mais conscientes de seus direitos depois da convulsão popular de 2012 e 2013, pressionaram as autoridades por mudanças no código penal, em resposta ao estupro coletivo de uma jovem estudante. Além de abordarem um tema considerado tabu, elas disseram estar #HappyToBleed (“Felizes em sangrar”) para protestar contra um templo que impede a entrada de mulheres menstruadas.
Correio Braziliense
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