A série Jéssica Jones já está disponível no Netflix.
A série Jéssica Jones já está disponível no Netflix.

A série acabou de estrear e merece sua atenção porque cria uma metáfora incrível sobre estupro e relacionamentos abusivos de uma maneira bem pop, levando para um público bem amplo um assunto que precisa ser discutido
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ilmes e séries de super-herói podem ser um sucesso numérico, mas raramente são unanimidade para o gosto do público. Principalmente porque boa parte das produções tende a ser muito mais baseada em efeitos especiais e MUITA (muita mesmo) ação, sem grande densidade na história. Aí veio Jessica Jones.

A nova série da Marvel, em parceira com o Netflix, acabou de estrear e merece, merece mesmo, sua atenção. Mesmo que você não goste de heróis, mesmo que não seja @ maior fã de séries. Sabe por quê? Porque ela cria uma metáfora incrível sobre estupro e relacionamentos abusivos de uma maneira bem pop, levando para um público bem amplo um assunto que precisa ser discutido.
Vamos começar falando de protagonismo feminino, antes de entrar no abuso. O que não falta na série são mulheres fortes. A protagonista, todo mundo já esperava. Mas além dela temos a advogada superpoderosa e controladora, lésbica, temos a melhor amiga, celebridade e bonitona, que na hora do perigo vai aprender defesa pessoal ao invés de depender de homens e a vítima do vilão, Hope, que poderia, e muito, ser apenas uma vítima, mas que toma as rédeas e também luta pra quebrar o ciclo de violência e abuso em que acabou.
Todas essas mulheres, além de fortes, são complexas.
Elas são parecidas com nós, mesmo: cheia de lados bons e ruins, incongruências e incertezas. Inclusive a protagonista: a investigadora particular Jessica que tem uma superforça, além de ser antipática, irônica, visivelmente ferida e traumatizada, mas engraçada e fiel. Você não a ama, mas gosta — e cada vez mais.
E desde o começo, é perceptível que a heroína tem cicatrizes, cuja origem logo descobrimos . São marcas de um relacionamento mais que abusivo que teve com o vilão da história. E ele agora está de volta.
Killgrave é um britânico charmoso que consegue o que quer. Ele fez Jessica sair com ele e foi manipulando sua mente para que não o deixasse. E faz isso com outras mulheres também. O detalhe é que ele também tem um superpoder: o de controlar mentes.
Quer metáfora melhor?
Ele entra na cabeça das pessoas, persegue, abusa e violenta, e depois diz que nunca fez nada, que suas vítimas é que tomaram as ações.
Quem já leu relatos de relacionamentos abusivos, sabe muito o bem o quanto não é preciso ter esse superpoder para fazer isso.
E depois que Jéssica foge, ele não para, não. Persegue e vai cerceando sua vida e ameaçando todos a seu redor, de uma forma que ela não tem alternativa a não ser voltar a viver com ele. Outra vez: não parece muito mais com o nosso mundo real do que história em quadrinhos?
Com o vilão que representa os abusadores levados a um extremo, a série consegue trazer para a mesa de debate um assunto que PRECISA ser discutido por todos, inclusive fora do feminismo. Sem dizer que ainda fala de estupro, de aborto e de liberdade sexual.
Estes temas são sempre debatidos nas rodinhas feministas, mas  precisam circular mais. E com esse veículo popular e divertido (sim, é uma série da Marvel), vão chegar a muito mais gente fora do movimento. É impossível assistir Jessica Jones e não pensar em relacionamentos abusivos e, muito provavelmente, milhares de mulheres vão se identificar e começar a questionar o que vivem.