17/11/2015
Estamos confinados em grupos de pessoas da mesma faixa etária. Não tem sido fácil o relacionamento interpessoal diversificado, em que pessoas com diferença de idade significativa consigam conviver. Será que isso é bom?
Uma amiga adora dançar. Esse é o único exercício físico ao qual ela poderia se dedicar. Desistiu da atividade, prazerosa e saudável, porque se recusa a ir a “bailinhos da terceira idade”. Tentou frequentar locais que recebem pessoas de todas as idades, mas estes quase nem existem mais. Até nas indicações de revistas há a idade do público que costuma ir ao local! Espontaneamente, mais e mais as pessoas procuram seus pares etários.
Em família, é a mesma coisa. Hoje é comum irmãos com idades muito diferentes: alguns são adolescentes, outros estão na primeira infância. A dificuldade de muitos pais tem sido enorme, porque a convivência entre os filhos é um inferno. Os adolescentes não suportam os mais novos, embora pareçam ter a mesma idade que estes quando são por eles provocados.
Nas escolas, tomamos o cuidado de separar os alunos por ciclos, também e principalmente na hora do recreio. Os pais querem que seja assim, porque temem o risco de crianças maiores explorarem ou assediarem as mais novas: o conhecido bullying. Separar os alunos parece ser a melhor solução, tanto para as famílias quanto para as escolas.
Agora, oficialmente, na reorganização de escolas públicas estaduais, os alunos já não mais serão separados no espaço interno da unidade escolar, e sim por escolas: cada uma delas atenderá os ciclos separadamente.
Sim, é mais fácil separar para melhor controlar. É mais fácil separar do que ensinar a conviver na diferença de idade. É mais fácil separar do que oferecer a oportunidade de aprender a conflitar. E justo na escola, um dos únicos locais em que ainda havia a oportunidade, para os mais novos, de ter encontros com colegas de diferentes idades.
Nossa sociedade fica mais pobre e embrutecida quando adolescentes e crianças mais velhas não aprendem a cuidar dos menores, a ter paciência, a realizar atividades em conjunto para ensiná-los, a adaptar o lazer no recreio para acolher colegas de todas as idades.
O desenvolvimento, pessoal e social, fica prejudicado se os mais novos não se interessam pelos mais velhos, não veem riqueza nessa relação, independentemente se a diferença for de 8, 10, 30 ou 60 anos.
Em casa, é preciso ensinar os irmãos mais velhos a dedicar um pouco de seu tempo para se relacionar ludicamente com os mais novos e, a estes, a aprender com os irmãos. Para isso, não basta acusar o filho maior de não saber o que fazer com o mais novo: é preciso apresentar possibilidades e apontar que esse relacionamento é de troca, e não apenas de doação.
Nas escolas, precisamos realizar atividades interciclos: colocar alunos do ensino médio em contato com o primeiro ciclo do fundamental e da educação infantil, por exemplo, mas sempre monitorando, ensinando.
Precisamos lutar contra essa segregação etária em casa, nas escolas, na sociedade em geral. Para isso, é preciso paciência e dedicação, já que o contexto em que vivemos conspira contra a convivência etária diversificada. Ou vamos continuar obedecendo ao refrão “cada um em seu quadrado”?
Rosely Sayão – Folha de São Paulo
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