O documentário Eu Não Sou Seu Negro, indicado ao Oscar 2017, tem uma história de bastidor tão interessante quanto a obra em si — e uma correlação de existência raramente vista entre literatura e cinema. Há 10 anos, o cineasta haitiano Raoul Peck adquiriu os direitos de manuscritos de um livro inacabado, escritos por James Baldwin, morto em 1987. Oito anos antes de sua morte, o escritor e intelectual americano propôs ao seu agente um ensaio sobre a história dos negros na América a partir da vida e assassinato de três amigos ativistas dos direitos civis: Medgar Evans, Malcolm X e Martin Luther King Jr. Distintos em suas visões e ações, os três lutavam por um fim em comum, e foram mortos em um espaço de cinco anos durante a década de 1960.
O livro, batizado de Remember This House, nunca saiu. Trinta páginas soltas de um rascunho foram encontradas. Peck, agora, finaliza o trabalho começado pelo escritor, com uma apurada pesquisa de imagens, usadas para completar lacunas do texto — narrados por Samuel L. Jackson. O filme, por sua vez, bebe com profundidade das ideias do autor que observa a construção das identidades negra e branca americanas. A soma resulta em um belo documentário, que caminha sem ordem cronológica desde a escravidão dos negros até Barack Obama e os dias atuais.
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