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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Não é ‘1984’, mas parece



Mais que uma utopia negativa que se referisse a um futuro remoto, o que George Orwell fez em seu célebre romance 1984 foi sobretudo falar de seu próprio mundo, apontando os terríveis caminhos para os quais o haviam empurrado os regimes totalitários, o nazi-fascista e o comunista. Mas houve de fato um aspecto em que, mais que tratar de seu presente, ele se antecipava a uma sociedade futura que certamente já havíamos começado a habitar quando se chegou à data que deu título a seu livro. E é essa atmosfera rarefeita que fica resumida em um dos cartazes expostos nesse Ministério da Verdade onde trabalhava Winston, o protagonista.
“A guerra é a paz / a liberdade é a escravidão / a ignorância é a força”, diziam ali os slogans do Partido, e é essa cínica e prepotente tergiversação dos conceitos, esse convite determinado a dar a mentira por verdade, e a confundir tudo deliberadamente, o que devolveu o livro de Orwell à atualidade com a vitória de Donald Trump, o Brexit e o avanço de tantos populismos nacionalistas, até alçá-lo ao número 1 das vendas na Amazon.

É verdade que aqueles lemas podiam ajustar-se como uma luva à propaganda nazista ou à lavagem de cérebros que tão bem souberam aplicar os dirigentes comunistas, mas o que Orwell antecipava em 1984 é que essas fórmulas podiam também se transferir a outros sistemas supostamente mais abertos, graças a essa nova língua que os meios de comunicação impõem e que permite fabricar fatos — os “fatos alternativos” dos quais falava Kellyanne Conway, assessora de Trump — que nada têm a ver com a realidade, mas que grande parte dos cidadãos termina por dar por corretos.

Estamos nesse ponto, e por isso é urgente voltar ao Orwell mais briguento, ao que criticou radicalmente qualquer tipo de manipulação, por mais impecável fosse sua aparência de modernidade.

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