Como os pais podem ajudar filhos vítimas de bullying? Muitas famílias nem se dão conta de que esse tipo de violência está acontecendo. Antes de tudo, é preciso criar em casa um ambiente de confiança para que a criança sinta-se à vontade para conversar sobre seus sentimentos.
Falar é fácil, colocar em prática talvez exija mudanças de atitude. A recomendação da psicóloga Thais Moraes para que os pais formem esse laço de confiança é demonstrar interesse genuíno pelos assuntos que importam ao filho.
“É importante que os pais conversem, promovendo uma cultura familiar em que as emoções são levadas a sério. Medidas como essa criam um ambiente em que a criança se sente segura para se expressar e relatar seus sofrimentos e dificuldades”, afirma Thais, uma das criadoras do método ‘Treinamento de Pais’.
Uma vez que a criança sente segurança para contar em casa que é vítima de bullying, os pais não devem nunca pedir que ignore a agressão. “Não adianta orientar o filho negar o que está acontecendo, dizer que não liga, fingir que não está vendo”, afirma a psicopedagoga Elizabeth Monteiro.
Os pais também não devem minimizar a dor do filho dizendo que é apenas uma ‘besteira’, uma ‘brincadeira de mau gosto’ e que vai passar. “Sempre valide os sentimentos de seu filho. Expressões que negam a experiência emocional são desoladoras por si só, ainda mais num contexto em que a criança já se sente sozinha e desamparada. Aquele sentimento é a realidade concreta da criança”, diz Thaís.
Para Elizabeth, uma forma de ajudar o filho é investigar o motivo do bullying. “Precisa descobrir o que está acontecendo. É por que o filho tem espinha, orelha de abano, é muito irritadinho? Se é porque tem espinha, leva ao médico para fazer um tratamento.”
Para a psicopedagoga, existem questões que podem ser minimizadas com medidas práticas. “Se está sofrendo e quer ajuda, é a melhor maneira é ajudar a resolver o que está causando dor”, diz ela.
Mas e se o filho não conta aos pais que é vítima de bullying? Thaís afirma que o filho dá sinais de que algo vai mal. “Uma dica é observar mudanças repentinas de comportamento. De repente, a criança que adorava ir à escola, não quer mais. Ou se isola ou se torna agressiva demais. Além disso, podem ocorrer problemas de insônia, falta de apetite, queda do rendimento escolar, tristeza ou ansiedade persistentes.”
Na escola
Thaís diz que muitas crianças vítimas de bullying sentem medo de envolver os pais no problema e piorarem a situação. Mas isso não é motivo para os pais não entrarem no assunto.
“Ouça os medos e anseios da criança, não torne a experiência ainda mais difícil para ela. A mensagem que deve ser passada é que ela não está sozinha e que, juntos, encontrarão uma solução”, afirma a psicóloga.
Thaís e Elizabeth afirmam que os pais devem procurar a escola para buscar uma solução para o problema.
“É preciso acompanhar junto à escola quais medidas serão adotadas para garantir a segurança e o bem-estar da criança. Devem prestar atenção novamente às mudanças comportamentais, se há retorno do interesse pela escola, melhora do rendimento escolar, nível adequado de socialização e melhora do humor”, afirma a terapeuta.
A morte de dois estudantes por um jovem de 14 anos na sexta-feira passada em Goiânia (GO) chocou o país. O garoto disse à polícia que era vítima de bullying na escola e que inspirou nos tiroteios de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio, antes de levar uma arma para o colégio e disparar contra vários colegas de classe.
O pai do jovem, um major da Polícia Militar, disse que não sabia que o menino sofria bullying. A mãe de um dos alunos mortos, apontado como desafeto do atirador, pediu que o filho não fosse julgado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário