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sábado, 21 de outubro de 2017

Desconstruindo a macharada


O produtor Harvey Weinstein
O produtor Harvey Weinstein  AFP
Passe 45 minutos em um boteco -o tempo de uma partida de futebol- e você verá como a tal da desconstrução do macho é uma obra lenta nas mãos de um pedreiro relapso, do tipo que falta sempre ao serviço e não dá satisfação no dia seguinte. Nem carece chegar à quinta rodada de chope para a testosterona do atraso empestear o ambiente. Não escapa sequer o mais metido a consciente dos esquerdomachos. Garçom, mais uma!

É, amiga, cada vez que você pensar que estamos avançando na marcha da história, plante um gravador na mesa dos distintos cavalheiros. Escute depois a delação premiada. Vale por um tratado acadêmico de psicologia masculina.
Desculpa, querida, esta não é a crônica das ilusões perdidas. Sigamos acreditando, mesmo em câmera lenta, na evolução da macharada. Repare no exemplo do cineasta Quentin Tarantino e suas confissões fumegantes sobre o amigo Harvey Weinstein, acusado de assediar sexualmente várias atrizes de Hollywood. Num mundo macho onde a gente costuma silenciar ou passar o pano para os bons companheiros, o cara do Pulp Fiction deixou, no mínimo, um mea-culpa de responsa: "Quem dera eu tivesse assumido a responsabilidade pelo que havia escutado".

Até então tudo era silêncio dos nada inocentes rapazes do cinema. Um bom sinal, embora a gente careça muito mais. O que não falta é caso do gênero na firma, com ou sem o falso glamour artístico. É preciso desmantelar essa ciranda de malungo, uma dança na qual eu assedio, tu assedias, nós assediamos e juntos brindamos com o uiscão da canalhice. Sabemos que não é missão fácil. Somente assim, meu velho, começamos a ver o efeito da demolição da cafajestagem.
No ritmo de jogo de hoje, chega o apocalipse e não saímos do canto. Que fracasso coletivo. O momento não é de testosterona, no sentido de bater o pau na mesa, caro Ciro Gomes, o momento é de não se omitir diante dos Harvey Weinstein que arrotam suas pabulagens pelos corredores da firma. Caso contrário, voltamos ao botequim de sempre e, assim como a plaquinha do fiado, está lá escrito, eternamente, “macho em desconstrução só amanhã”.
Xico Sá, escritor e jornalista, é autor de “Os machões dançaram -crônicas de amor & sexo em tempos de homens vacilões” (editora Record). Comentarista dos programas “Papo de Segunda” (GNT) e “Redação Sportv”.

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