Dado é de pesquisa da Thomson Reuters Foundation com 380 estudiosos no mundo
Na capital paulista, crime de estupro teve aumento de 10% em 2016 em relação a 2015
São Paulo
Na sexta-feira, um homem foi detido após assediar uma mulher dentro de um ônibus na zona oeste da cidade. Com o pênis de fora, ele foi preso em flagrante, acusado de ato obsceno e deliberado. Somente em setembro, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo registrou 391 casos de abuso sexual no transporte público da região metropolitana da capital paulista. Quando o crime analisado é estupro, as estatísticas também mostram um quadro dramático e em franca piora: 2.299 notificações foram feitas em 2016 só na cidade, uma alta de 10% em relação aos casos de 2015. Neste ano, já são 1.574 reportados até agosto, num panorama que representa apenas uma parte da realidade, já que é bastante comum no Brasil não procurar a polícia após um ataque sexual.
Nesta segunda-feira, um levantamento realizado pela Thomson Reuters Foundation ilustrou o que o noticiário exibe diariamente: São Paulo é a megalópole mundial com o maior potencial de risco de violência sexual para as mulheres, na percepção dos especialistas na área que atuam na capital.
A pesquisa entrevistou 380 nomes em 19 cidades ao redor do mundo cujas populações ultrapassam 10 milhões de habitantes. Acadêmicos, profissionais da área de saúde, integrantes de ONGs e elaboradores de políticas públicas responderam perguntas de quatro áreas-chave: violência sexual; acesso à saúde, incluindo o controle de natalidade e a taxa de mortalidade materna; práticas culturais, como a mutilação de genitálias, infanticídio e casamentos na infância; e oportunidades econômicas, que incluem o acesso à educação e a serviços como a abertura de uma conta bancária.
No quesito percepção do risco de violência sexual, São Paulo amarga a primeira posição, juntamente com Nova Déli. Em resposta, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que o Estado de “São Paulo é pioneiro no aprimoramento de políticas de segurança no combate à violência sexual e de gênero”. A pasta ressalta que o Estado conta com 133 Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) e que, no primeiro semestre deste ano, o número de medidas protetivas solicitadas pela Polícia Civil, na capital, teve aumento de 37% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a 4.130.
Na capital da Índia, a realidade é tão assustadora quanto aqui. Há cinco anos, Nova Déli assistiu a um crime bárbaro: o estupro coletivo de Jyoti Singh, uma estudante de medicina que voltava para casa com um amigo, quando foi abordada, dentro de um ônibus, por seis homens que a estupraram, violentaram e arrancaram suas vísceras antes de jogá-la na beira da estrada. Jyoti morreu 13 dias depois.
"Eu não estou surpresa com os resultados", disse à agência Reuters Rebecca Reichmann Tavares, representante da ONU Mulheres na Índia. "Índia e Brasil têm estado no centro da atenção da mídia no que se refere à violência sexual nos últimos anos", afirmou ela, que já trabalhou no Brasil. Tavares lembra, porém, que o ranking é uma análise qualitativa dos dados. "A violência sexual nestas duas cidades, claro, é uma realidade. Mas não há dados definitivos para sugerir que as taxas são mais altas em Déli ou em São Paulo do que nas outras cidades [estudadas]".
Apesar da alta nos índices de violência sexual, a SSP destaca, em nota enviada ao EL PAÍS, que São Paulo tem a menor taxa de homicídios entre a população feminina. O texto cita o Atlas da Violência 2017, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e IPEA, segundo o qual a taxa de homicídios no Estado é de 2,4 por grupo de 100 mil mulheres, número 45% menor do que o índice nacional. “Isso se deve a uma redução de 28% da vitimização feminina no Estado no número absoluto de casos”, afirma a secretaria.
Depois da capital paulista e da capital indiana, estão no ranking das piores do mundo no quesito percepção de risco violência sexual para as mulheres a cidade do Cairo (Egito), Cidade do México, Dhaka (Bangladesh), Istambul (Turquia), Jacarta (Indonésia), Kinshasha (Congo), Carachi (Paquistão) e Lima, no Peru. Em último lugar, na lista das 19 cidades, está Tóquio. Mas, ainda assim, há quem relativize a percepção. "Violência sexual não é visível no Japão. As pessoas não falam (disso)", disse à Reuters o ativista Kanoko Kamata, fundador do grupo de empoderamento feminino Chabudai Gaeshi Joshi. Também foram estudadas as cidades de Lagos (Nigéria, em 14º lugar), Buenos Aires (Argentina, 11º), Nova York (EUA, 12º), Manila (Filipinas, 13º), Xangai (China, 17º), Moscou (Rússia, 18º), Paris (França, 16º) e Londres (Reino Unido, 14º).
A pior em todos os quesitos
No ranking geral, juntando-se as quatro áreas-chave avaliadas, o Cairo é a pior cidade para as mulheres . A capital do Egito é seguida pela Cidade Do México e Dhaka. No quesito violência sexual e no quesito acesso à saúde, o Cairo ficou em 3º lugar. Ficou na primeira posição entre as piores práticas culturais e em segundo lugar no quesito oportunidades econômicas. Na outra ponta, está Londres. Na percepção de especialista, a capital britânica é a com menor constrangimento para as mulheres.
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