Estudo analisa políticas laborais para apoiar quem tem filhos e conclui que elas beneficiam tanto as profissionais quanto as empresas
El País
MARIANA KAIPPER CERATTI
Brasília
Quando um bebê nasce e a mãe precisa voltar à labuta, com quem deixá-lo? Se ela pode contar com a ajuda de parentes, contratar uma babá ou pagar por uma creche, a resposta se torna fácil. Mas nem sempre essas opções estão disponíveis, cabem no bolso da mulher ou são compatíveis com a jornada laboral. Por isso, muitas mulheres acabam desistindo de trabalhar antes mesmo da licença-maternidade.
Isso afeta especialmente as mulheres mais pobres, que deixam de ter uma fonte de renda e privam seus filhos de acesso a uma educação de qualidade na primeira infância. "Sem esse benefício, essas crianças podem ficar presas em um ciclo intergeracional de pobreza, do qual é praticamente impossível se libertar", diz um estudo recenteda International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial para o desenvolvimento do setor privado.
A publicação inclui bons exemplos de empresas de vários setores – alguns com mais, outros com menos participação feminina – que oferecem diferentes tipos de apoio às mães e aos pais e conclui: ao investir em políticas para esses trabalhadores, todos ganham, começando com as mulheres, que podem conquistar mais e melhores oportunidades no mercado global.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, a participação do trabalho das mulheres ainda é cerca de 30 pontos percentuais menor que a dos homens. "O acesso ao cuidado infantil subsidiado pode ter um impacto positivo significativo nas taxas de emprego e no número de horas que as mulheres trabalham", acrescenta o relatório, com base em evidências dos países da América Latina e do Caribe e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Menos erros, mais produtividade
O relatório combina exemplos de empresas de todo o mundo com uma análise aprofundada de 10 corporações em oito países, incluindo o Brasil, o único latino-americano na amostra. Alguns dos benefícios oferecidos por eles são, dentre outros:
• Creches no trabalho;
• Parcerias com creches privadas;
• Áreas onde as mães possam amamentar;
• Licença-paternidade e outros incentivos para que os homens desempenhem um papel mais ativo na educação de seus filhos, uma vez que, na comparação com os homens, as mulheres globalmente passam três vezes mais horas prestando cuidados não remunerados;
• Horários flexíveis para mães e pais;
• Colônias de férias.
Depois de adotar uma combinação de benefícios desse tipo (para mulheres e homens), um banco japonês participante da pesquisa comemora o fato de 90% das funcionárias continuarem trabalhando ao voltar da licença-maternidade. Antes disso, elas pediam demissão sem nem sequer ter dado à luz.
No Brasil, onde se analisou uma indústria de alimentos, a pesquisa descobriu que as mulheres cujos filhos estão na creche – uma instituição privada parceira da empresa – cometem menos erros e não faltam frequentemente, o que melhora a produtividade.
"Você pode vê-lo em relatórios de saúde e segurança: as pessoas estão mais calmas se eles sabem que seus filhos estão seguros", explicou o gerente da fábrica à equipe que fez o relatório. Além de estarem mais concentrados, as mulheres são mais propensas a permanecer em empresas que oferecem esse tipo de benefício.
Ao manter essas profissionais na equipe, as empresas diminuem a rotatividade, o que afeta a produção e implica custos entre 5,8% e 213% do salário de um trabalhador (segundo dados de 2012).
O aumento da diversidade e a maior ascensão das mulheres a cargos de chefia é uma vantagem óbvia para elas e não tão explícita – mas igualmente interessante –para os empregadores. Por quê? Pesquisas em países em desenvolvimento, emergentes e desenvolvidos mostram que as empresas com maior diversidade de gênero na liderança superam financeiramente os competidores, pois tendem a inovar mais na tomada de decisões, por exemplo.
Muito além do cumprimento da lei
Em alguns países, como a Jordânia, proporcionar cuidados infantis nas áreas rurais foi crucial para convencer as mulheres com pouca experiência de emprego remunerado a buscar trabalho no setor industrial. Em outras empresas de países como África do Sul, Índia, Estados Unidos e Alemanha, mencionadas no relatório, não basta oferecer esses serviços – porque, sem eles, as companhias não seriam competitivas em seu setor ou região –, mas fazê-lo de forma que as diferencie da concorrência.
As políticas para mães e pais também podem, de acordo com o estudo, ajudar as empresas a acessar novos mercados e compradores - já que alguns começam a preferir empresas favoráveis às mulheres - ou conquistar novas fontes de financiamento e investimento. Cumprir a legislação nacional sobre o assunto é muitas vezes um requisito básico para manter relações comerciais com os principais compradores internacionais. Mas ir além disso permite às companhias se consolidar como parceiras comerciais confiáveis e de alta qualidade.
Além de discutir as vantagens dos programas de suporte para mães e pais, o relatório apresenta várias recomendações para empresas que desejam implementá-los ou aprimorá-los.
Entre elas, analisar o tamanho da demanda e o momento em que é mais necessário oferecer esses benefícios; verificar as lacunas nos serviços existentes e, por último, mas não menos importante: como o recrutamento, a produtividade, os erros, os acidentes, o volume de negócios, o desempenho, o atraso e a motivação são afetados? As respostas ajudarão a enfrentar efetivamente um dos desafios mais importantes para casais e empresas de todo o mundo.
Mariana Kaipper Ceratti é produtora online do Banco Mundial
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