SOBRE
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Gênero e Número realizaram uma pesquisa inédita no Brasil, com o apoio do Google News Lab, para investigar os desafios enfrentados pelas mulheres no exercício da profissão jornalística.
Identificar a situação das jornalistas nas redações, os tipos de assédio e violência que enfrentam em suas rotinas de trabalho e como respondem a eles, suas posições hierárquicas e o modo como enxergam a perspectiva de gênero nas coberturas é essencial para compreender o papel da mídia - interna e externamente - nas assimetrias de gênero.
"COMIGO ELE FOI BEM DIRETO E, EM TOM DE BRINCADEIRA, DISSE 'E AÍ! QUANDO VOCÊ VAI DAR PARA MIM"
METODOLOGIA
A pesquisa “Gênero no Jornalismo Brasileiro” aplicou métodos qualitativos e quantitativos, observando como se dão as relações de gênero dentro do ambiente das redações.
Na fase qualitativa, foram realizados grupos focais em Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo com 42 jornalistas. Ao longo das conversas, as participantes falaram sobre cinco eixos temáticos dentro da questão de gênero e trabalho:
- SATISFAÇÃO PESSOAL NO TRABALHO
- PERCEPÇÃO DE ATITUDES SEXISTAS E FORMAS DE ASSÉDIO NO TRABALHO
- AVALIAÇÃO SOBRE CHANCES E OPORTUNIDADES
- PERCEPÇÃO DO IMPACTO DE GÊNERO NO DESEMPENHO PROFISSIONAL
- AVALIAÇÃO SOBRE GÊNERO E A COBERTURA MIDIÁTICA. A PARTIR DO RESULTADO
Com os pontos levantados pelas respondentes, o questionamento que ficou foi: o resultado adquirido nos grupos se aplica a um conjunto maior? A partir disso, a pesquisa quantitativa foi de grande importância, pois permitiu que os resultados obtidos nos grupos focais pudessem se tornar algo mais amplo. Foi desenvolvido, a partir dos grupos, um questionário online mais abrangente que pudesse alcançar o maior número de mulheres possível. O questionário ficou no ar de 26 de junho a 28 de agosto de 2017 e obtivemos respostas válidas de 477 mulheres que atuam em 271 veículos diferentes.
"ELES NÃO TIVERAM NENHUMA VERGONHA EM ME DIZER QUE OPTARAM PELO RAPAZ PORQUE ERA HOMEM E NÃO TINHA FILHO"
MATERIAIS
- 73 % das jornalistas que responderam à pesquisa afirmam já ter escutado comentários ou piadas de natureza sexual sobre mulheres no seu ambiente de trabalho
- 92,3 % das jornalistas que responderam a pesquisa afirmaram ter ouvido piadas machistas em seu ambiente de trabalho
- 46 % das jornalistas que responderam a pesquisa apontaram que as empresas onde trabalham não possuem canais para receber denúncias de assédio e discriminação de gênero
- 64% das jornalistas que responderam a pesquisa já sofreram abuso de poder ou autoridade de chefes ou fontes
- Das jornalistas que responderam a pesquisa 83,6 % já sofreram algum tipo de violência psicológica nas redações
- 65,7% das jornalistas que responderam a pesquisa afirmaram ter tido sua competência questionada ou visto uma colega ter a competência questionada por colegas ou superiores
- 70,4 % das jornalistas que responderam a pesquisa admitiram já terem recebido cantadas que as deixaram desconfortáveis no exercício da profissão
- 70,2 % das jornalistas que responderam a pesquisa afirmaram que já presenciaram ou tomaram conhecimento de uma colega sendo assediada em seu ambiente de trabalho
- 1em cada 10 jornalistas que responderam a pesquisa já receberam, no exercício do trabalho, propostas ou demandas por favores sexuais em troca de algum benefício profissional ou material
- 59 % das jornalistas que responderam a pesquisa presenciaram ou tomaram conhecimento de uma colega sendo assediada no exercício de sua profissão por uma fonte
- 17,3% das jornalistas que responderam a pesquisa alegaram já ter sofrido algum tipo de agressão física no exercício da profissão
- 75,3 % das jornalistas que responderam a pesquisa admitiram já ter ouvido, no exercício do trabalho, um comentário ou elogio sobre suas roupas, corpo ou aparência que as deixaram desconfortáveis
RECOMENDAÇÕES
Os resultados da pesquisa mostram que há um longo caminho a percorrer para que a igualdade de gênero se estabeleça no jornalismo profissional. Algumas recomendações simples podem acelerar a transição para um período de justiça com todas as repórteres, editoras e trabalhadoras da imprensa brasileira:
- Os veículos devem produzir cartilhas para funcionários e colaboradores definindo o assédio cometido por uma fonte e indicando os procedimentos a serem adotados pelas repórteres quando forem vítimas desses atos.
- As redações devem organizar grupos de monitoramento da diversidade de gênero nas redações; esse grupo deve ter um canal de comunicação direto com a direção do veículo e a missão de produzir relatórios periódicos com análise tanto da cobertura, para identificar desequilíbrios no gênero das fontes ouvidas, quanto da composição da redação, para orientar possíveis novas contratações.
- Os veículos devem investir em capacitação de todos os repórteres em temas de diversidade; há cursos, palestras, debates e webinars disponíveis que podem auxiliar no combate a este tipo de violência.
- Todos os repórteres devem ser orientados a tratar do tema do assédio junto a suas fontes; é especialmente importante ressaltar o caráter de violação à liberdade de expressão que essa conduta acarreta.
- As redações devem criar um canal de comunicação interno para que vítimas de abuso e assédio possam fazer a denúncia formal.
- As redações devem encarar como pautas relevantes todas as investidas inapropriadas de fontes sobre jornalistas mulheres. Estampar o assédio às trabalhadoras, bem como dedicar espaço a reportagens sobre diversidade de gênero é um passo importante para desestimular o abuso.
EQUIPE
COORDENAÇÃO DE PESQUISA:
Natália Mazotte e Verônica Toste
CONSULTORIA EXECUTIVA:
Maiá Menezes, Alana Rizzo e Thiago Herdy
PESQUISADORA PRINCIPAL:
Verônica Toste
PESQUISADORAS ASSISTENTES:
Andressa Cabral e Fernanda Távora
GERÊNCIA DO PROJETO:
Guilherme Alpendre
WEBDESIGN, INFOGRAFIAS E ANIMAÇÕES
Mariana Santos, Inês Barracha, Rui Freitas, João Erbetta & Victor Abarca
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