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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Precisamos falar de sexualidade e gênero na escola? (parte 1)

UNICAMP
15 de dezembro de 2017 Ana de Medeiros Arnt

Tão em pauta nos dias de hoje, a ideia de se trabalhar gênero e sexualidade nas escolas tem gerado polêmica e muita confusão em diferentes espaços sociais. Por um lado, há quem defenda que abordar gênero e sexualidade na escola é incentivar práticas “imorais”. Isto se contraporia ao que deveria ser obrigação somente das famílias destas crianças e adolescentes. Por outro lado, há um longo debate que aponta a necessidade de isto ser uma política pública escolar. Isto se daria em função das questões de saúde, violência e intolerância em relação aos diferentes modos de viver e existir em nossa sociedade.
Será que existe mesmo a necessidade de falarmos disso em nossa sociedade e, em especial, na escola?

Bom… Vou abordar isto em postagens divididas em várias partes, para pensarmos algumas coisas juntos… Neste primeiro post, apontarei um pouco da quantidade de componentes que constituem isto que chamamos de gênero e sexualidade. Posteriormente, tratarei de algumas particularidades e, por fim, falarei disto dentro das questões escolares e de ensino, ok?
Inicialmente, é importante delimitar que estes conceitos não são invenções recentes, com intuito de promover devassidão e promiscuidade no mundo. Muito menos que, ao trabalhar com o conceito de gênero e sexualidade como construção social, estamos negando características biológicas que nos constituem como seres humanos. O que se tem buscado apontar é que existe uma constituição que é “biossocial”. Como assim? Existem sim características biologicamente definidas, mas que são complexas e dependem de muitos fatores – genéticos, epigenéticos, ambientais, hormonais, moleculares… Se formos observar apenas os fatores biológicos, já teremos uma gama de diversidade de comportamentos e características relacionadas à sexualidade e ao gênero de nossa espécie.
Levando-se em conta as questões sociais, temos debatido gênero e sexualidade como conceitos construídos socialmente. O que isto significa? Que os modos como compreendemos e lidamos com as expressões dos desejos, vivências, interesses se relaciona com diferentes instâncias sociais. Isto inclui: as concepções da família, dos ensinamentos religiosos, da escola, dos grupos de amigos, da mídia, da ciência, etc. Em relação ao gênero, por exemplo, este conjunto de compreensões e vivências sociais e culturais, aliada à diversidade biológica (que apontei anteriormente), não podem ser enquadradas em apenas dois modos de ser humano: homem e mulher (ignorando, ainda todas as questões relacionadas ao que se conhece – e desconhece – como intersexo). Muito menos restringir a estas duas categorias, um jeito estanque de nos compreendermos.
Deste modo, hoje o debate gira em torno da existência da diversidade – biológica e social – de ser e viver. Não existem categorias tão fixas – nem sociais, nem biológicas – que podem delimitar “o que é mesmo” ser homem e mulher. Isso inclui gostos por cores, ofícios, áreas de conhecimento, esportes, ou aptidão para trabalhos domésticos e/ou técnicos, que demandam esforço físico e/ou intelectual, etc.).
Apenas para finalizar, antes de discutir se é “certo” ou “errado” a não-identificação com determinados gêneros, ou vivências sexuais e afetivas, moral ou imoral, talvez seja o caso (e é o que tratarei nas próximas postagens) de pensarmos se o que nós achamos certo e errado deve ser obrigatório para outros sujeitos que convivem em nossa sociedade – e este tem sido o grande impasse atual. Assim, a abordagem deste tema, dentro de uma perspectiva das ciências biológicas e da saúde, bem como das ciências humanas, para se pensar a escola e suas práticas cotidianas terá, nas postagens que seguirão a esta, como pressuposto básico o fato de que somos seres em constante modificação e construção. E, mais do que isso, em qualquer situação e debate a tolerância e o respeito pelo ser humano são o ponto de partida.
Para saber mais:
Jablonka, Eva; Lamb, Marion. 2010. Evolução em Quatro Dimensões. Companhia das Letras.
Louro, Guacira Lopes. 2008. Gênero e Sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, v. 19, n. 2 (56) – maio/ago. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf. Acesso em: 15/12/2017
Menezes, Aline.B.; Brito, Regina C.Z.; Henriques, Alda L. 2010. Relação entre Gênero e Orientação Sexual a partir da Perspectiva Evolucionista. Psicologia: Teoria e Pesquisa Abr-Jun, Vol. 26 n. 2, pp. 245-252. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n2/a06v26n2. Acesso em 15/12/2017.
Quer ler o próximo post do tema?
Precisamos falar de gênero e sexualidade na escola? (parte 2):

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