ANA GASPAR
14/02/2018
Dois estudos revelam realidade preocupante, que exige uma intervenção cada vez mais precoce. Aumento de denúncias pode não significar crescimento do fenómeno.
Mais de metade dos jovens com um relacionamento amoroso (passado ou atual) já tinham sido alvo de pelo menos um ato de violência no namoro, quando responderam ao inquérito levado a cabo pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), cujos resultados são divulgados esta quarta-feira, a propósito do Dia dos Namorados.
De um universo de 3163 jovens (com a média de idades de 15 anos), 1773 (56%) foram vítimas de violência, sendo que 18% foram casos de violência psicológica, 16% de perseguições, 12% de violência através das redes sociais, 11% de situações de controlo, 7% de violência sexual e 6% de agressão física por parte de um(a) companheiro(a), lê-se nos dados a que o JN teve acesso.
A violência no namoro é um problema sério, quer entre os mais novos quer na idade adulta, e hoje, no Dia dos Namorados, são apresentados dois estudos. Além da investigação da UMAR, são também revelados os dados do Observatório da Violência no Namoro, que recebeu 128 denúncias em menos de um ano.
Mais de 500 participações à GNR
Desde 2013 que o Código Penal, no artigo 152.º - relativo ao crime de violência doméstica - tem uma alínea respeitante às relações de namoro. Facto que torna mais fácil a sua penalização, uma vez que a violência doméstica é um crime público e, por isso, não precisa de ser denunciado pela vítima.
No ano passado, a GNR recebeu 560 participações (menos 116 do que em 2016) e destas 238 foram relativas a maus-tratos físicos ou psíquicos entre namorados e 322 entre ex-namorados. Os números facultados ao JN, que não discriminam as idades das vítimas, mostram ainda que 2016 foi o ano com maior número de participações desde 2014 (ano em que se registaram 568) e que, dos quatro anos apreciados, 2017 foi aquele em que se verificou o menor o número de denúncias.
Na violência psicológica, os insultos foram os atos mais relatados pelos inquiridos da UMAR, seguindo-se o ato de humilhar as vítimas (15%) e as ameaças (11%), revelou Ana Teresa Dias, uma das autoras do estudo.
Os dados reforçam "a necessidade e urgência de uma intervenção com os/as jovens, o mais precoce e continuadamente possível, no sentido de prevenir a violência sob todas as formas", lê-se nas recomendações do documento. Mas não significa que a violência tenha aumentado. "Pode significar que há mais jovens que se identificam como tendo sofrido comportamentos de violência."
Represálias travam denúncias
Numa faixa etária superior (a média é 24 anos), o Observatório da Violência no Namoro recebeu, desde abril de 2017 (quando foi criado) até este mês, 128 denúncias de atos violentos (34 já em 2018), sendo a violência psicológica a mais predominante (116 relatos, o que corresponde a 90,6% do total).
Sofia Neves, uma das responsáveis do projeto lançado pela Associação Plano i, em parceria com o Instituto Universitário da Maia/Maiêutica, apontou como "dado mais preocupante" o número muito reduzido destas vítimas que apresentaram queixa às autoridades. Foram apenas 15 (11,7%). O motivo, explicou a investigadora, prende-se com as ameaças de represálias feitas pelos agressores, quer contra as vítimas quer contra as pessoas que lhes são próximas.
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