Das questões da saúde do homem que a gente não vem falando
Antônio Modesto
07 de Agosto de 2018
No mês passado, um amigo médico de família mandou-me uma foto dele com seu filho de poucos meses. De rosto colado ao do pai, o bebê encantava com seus olhos grandes e atentos e as bochechas fofas. “Esse é o cara que veio pra revolucionar meu mundinho!”, escreveu. “Quando compartilho foto, algumas amigas logo me tacham como ‘pai coruja’. Uma única foto em meses é suficiente. Curiosa reação... Como se o pai não tivesse direito”.
Às vésperas do Dia dos Pais, não podíamos falar de outra coisa que não saúde e paternidade.
Um pouco de história
O Father’s Day surgiu nos Estados Unidos em 1910, ideia de uma moça chamada Sonora Louis Dodd. Sua mãe morrera durante o parto do sexto filho e ela e o pai, um veterano da guerra civil americana chamado William Jackson Smart, assumiram o cuidado dos irmãos menores. Ela tinha grande consideração por ele e, depois de ouvir um sermão de Dia das Mães, achou que seu pai merecia uma homenagem semelhante. Inicialmente comemorado em 19 de junho (dia do aniversário de William), foi designado nacionalmente para o terceiro domingo de junho pelo presidente Lyndon Johnson em 1966 e oficializado pelo presidente Richard Nixon seis anos depois.
No Brasil, a celebração foi instituída em 1953 pelo publicitário Sylvio Bhering, na época diretor do jornal e da rádio Globo – supostamente para homenagear o “chefe da família”, mas sabidamente para incentivar as vendas do comércio e, com isso, aumentar os ganhos com anunciantes. Ele foi comemorado pela primeira vez em 16 de agosto, Dia de São Joaquim, padroeiro da família, passando depois ao atual segundo domingo de agosto (por analogia com o Dia das Mães). Já em Portugal, é comemorado em 19 de março, dia de São José, pai de Jesus Cristo.
Pré-natal do homem
Quase 110 anos depois da invenção de Sonora Dodd, os homens continuam participando muito pouco do trabalho doméstico e da criação dos filhos. Dados do IBGE de 2017 mostram que, independentemente de classe social, escolaridade ou renda, as mulheres fazem mais serviço doméstico que os homens – mesmo aquelas que têm a mesma jornada de trabalho fora de casa que seus companheiros. A única tarefa que os homens fazem mais que as mulheres são reparos (trocar e consertar coisas) – ou seja, precisamos melhorar bastante. E não se trata de ajudar as mulheres, mas de entender que as tarefas domésticas e o cuidado dos filhos também são responsabilidade dos homens.
Por outro lado, muitos casais têm estabelecido relações mais igualitárias, e muitos pais vêm descobrindo como é bom cuidar dos filhos. O Ministério da Saúde tem estimulado a paternidade responsável através do “pré-natal do parceiro”, uma série de ações visando a maior participação dos homens na gestação, parto e cuidado dos filhos. Infelizmente, esses cuidados muitas vezes acabam se resumindo à realização de sorologias para HIV, sífilis e hepatites e por uma tipagem sanguínea quando a mulher tem sangue tipo negativo. Dependendo da combinação entre mãe e pai e do tipo sanguíneo dos filhos já nascidos, é necessário tomar medidas contra a eritroblastose fetal, uma anemia grave que pode acontecer em fetos e recém-nascidos.
O manual do pré-natal do parceiro está disponível aqui, e traz muitas dicas para curtir esse momento.
Depressão pós-parto... no homem?
A gravidez e o parto são situações de muita ambivalência: mesmo pais e mães que planejaram e receberam bem a gravidez podem se ver diante de pensamentos contraditórios e indecisão. A sociedade espera que a maternidade e a paternidade sejam a melhor experiência da vida de uma pessoa, mas de repente você se vê menos feliz do que esperava – ou até muito, muito triste. E como dizer a alguém que você não está feliz com a maternidade ou a paternidade?
Muitas mulheres ficam tristes e chorosas nos primeiros 10 dias após o parto, o que chamamos de baby blues ou melancolia pós-parto, condição que costuma melhorar com apoio da família ou profissional.
Entretanto, 10 a 15% das mães vão ter depressão pós-parto, um quadro depressivo que se manifesta geralmente de quatro a seis semanas após o parto e alcança um pico dos três a quatro meses de nascimento do filho.
O que é pouco conhecido é que homens também podem ter depressão pós-parto, embora em proporção menor: cerca de cinco mulheres para cada homem acometido.
Nesse sentido, duas perguntas que os médicos deveriam fazer a mães e pais nos primeiros meses após o parto (e os genitores, a si mesmos) são:
- Durante o último mês, você com frequência ficou incomodada(o) por sentir-se triste, deprimida(o) ou sem esperança?
- Durante o último mês, você com frequência ficou incomodada(o) por ter pouco interesse ou prazer em fazer as coisas?
Se a resposta a uma dessas questões for “sim”, pode ser que você precise de ajuda profissional – a começar por um médico de família, psiquiatra ou psicólogo.
E você, que tem um amigo com filho pequeno, pergunte sinceramente se ele ou o casal precisam de alguma ajuda.
Música, maestro
Muitos artistas fizeram músicas sobre pais, filhos e sua relação – a começar por Pais e Filhos, do Legião Urbana. A saudade é uma marca comum nessas dez canções que selecionei:
- Naquela mesa, de Hamilton de Holanda.
- Espelho, de Paulo César Pinheiro e João Nogueira.
- O filho que eu quero ter, de Toquinho e Vinicius de Moraes.
- Father and son, de Cat Stevens (hoje Yusuf Islam).
- Beautiful boy (Darling boy), que John Lennon compôs para seu filho Sean em 1980, mesmo ano em que morreu.
- Pai, de Fábio Júnior – deem uma chance ao pai do Fiuk.
- Tears in heaven, de Eric Clapton, cujo filho morreu aos quatro anos de idade.
- My father’s eyes, também de Clapton, que não conheceu o pai.
- Patches, de Ronald Dunbar e General Norman Johnson.
- Marvin, versão de Sérgio Britto e Nando Reis da canção Patches.
Não sei para vocês, mas para mim elas são choro na certa.
Feliz Dia dos Pais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário