Treinadoras questionam a prevalência masculina em postos de liderança que se repete em todas as modalidades, da Espanha ao Brasil
El País
ROBERT ÁLVAREZ / BERNAT COLL / BREILLER PIRES
Barcelona / São Paulo
Vadão, técnico da seleção feminina, conversa com jogadoras brasileiras. LUCAS FIGUEIREDO CBF |
Somente no fim de 2016, após três décadas de dinastia masculina, a seleção feminina de futebol do Brasil passou a ser comandada por uma mulher: Emily Lima, que, ao contrário de seus antecessores, não conseguiu completar nem sequer um ano de trabalho e acabou demitida com apenas 10 meses de experiência. Atualmente no Santos, dono da melhor campanha no torneio nacional, ela é uma das três mulheres entre os 16 técnicos das equipes que disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro feminino.
Sem nenhuma mulher em sua diretoria, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) conta com homens para dirigir as seleções femininas, sob a batuta do coordenador Marco Aurélio Cunha e do técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão. O treinador, mesmo com um desempenho irregular à frente do time brasileiro, figura na lista dos dez indicados pela FIFA ao prêmio de melhor do mundo na modalidade –as mulheres, com quatro representantes, são minoria entre os nomes recomendados.
“Se a mulher tiver oportunidade de comandar, tempo de trabalho e apoio, tenho certeza que ela será tão bem sucedida quanto o homem. Acredito que o futebol ainda vai reconhecer nosso valor”, diz Nilmara Alves, um caso raro. Treinadora do Manthiqueira, da quarta divisão paulista, ela é a primeira e única mulher a comandar um time masculino em São Paulo.
Assim como nas categorias masculinas, as mulheres em postos de liderança aparecem como exceção no esporte feminino, incluindo outras modalidades coletivas, em que medalhões como Zé Roberto Guimarães e Bernardinho (vôlei), Antônio Carlos Barbosa (basquete), Jorge Dueñas (handebol) e Oleg Ostapenko (ginástica artística) costumam pautar as escolhas de dirigentes em detrimento das treinadoras. Essa escassez reflete não só a subvalorização do trabalho da mulher na sociedade brasileira, mas também a falta de representatividade feminina em posições de comando no circuito esportivo pelo mundo.
“Algo que me acontece muito é o treinador da equipe adversária dar a mão a meu auxiliar e não a mim, subentendendo que a principal figura da comissão técnica é sempre o homem”, conta Irene Ferreras, que na próxima temporada será, com o Rayo Vallecano, a segunda treinadora da liga espanhola de futebol feminino. María Pry era até agora a única com comando entre as 16 equipes da primeira divisão, pelo Betis. Tal qual no Brasil, a figura da mulher treinadora é incomum no esporte feminino da Espanha.
Na liga de basquete destinada às mulheres, com 14 equipes, são três as técnicas: Gloria Estopa (Sant Adrià), Madelen Urieta (Rpk Araski) e Azu Muguruza (IDK Guipúscoa). “Vivemos em uma sociedade machista, por mais que muitos não pareçam se importar. Não só no basquete, mas em todos os setores, enfrentamos mais barreiras que os homens porque temos as cargas trabalhistas e as familiares”, afirma Muguruza.
Também com 14 times, a liga espanhola de handebol feminino só tem duas treinadoras: Cristina Cabeza (Alcobendas) e Susana Pareja (Canyamelar Valencia). No polo aquático, com dez equipes, só uma, Beatriz Espinosa (CN Madrid Moscardó). Da mesma forma, o corpo técnico das seleções femininas espanholas é encabeçado por homens: Jorge Vilda (futebol), Lucas Mondelo (basquete), Carlos Viver (handebol), Adrian Lock (hóquei sobre grama) e Miki Oca (polo aquático).
Skibba (à esquerda, de óculos escuros), única treinadora no Campeonato Europeu de polo aquático. DIVULGAÇÃO |
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