por Carol Castro — publicado 27/08/2018
Carta Capital
Taxa rosa, padrões de beleza: tudo tem um custo. Para piorar, elas recebem até 38% menos que eles para ocupar a mesma função no mercado de trabalho
Um rímel por 50 reais, corretivo por mais 30 reais e blush por outros 50. Um creme antiidade por 100. Fora o batom, as roupas – porque não dá para repetir sempre a mesma calça básica -, os óleos corporais e faciais, os gastos semanais com manicure, cremes para cabelo. Ser mulher custa caro. E ignorar os padrões de beleza pode custar ainda mais.
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Um rímel por 50 reais, corretivo por mais 30 reais e blush por outros 50. Um creme antiidade por 100. Fora o batom, as roupas – porque não dá para repetir sempre a mesma calça básica -, os óleos corporais e faciais, os gastos semanais com manicure, cremes para cabelo. Ser mulher custa caro. E ignorar os padrões de beleza pode custar ainda mais.
É que “maquiagem ajuda os negócios a deslancharem”. Se a funcionária caprichar no visual - roupas, unhas e maquiagem -, as chances de receber uma promoção ou bônus no salário crescem. Não é escolha, é obrigação. Disso depende parte do sucesso dela na empresa.
Não é mito. Pesquisas mostram que mulheres precisam se preocupar bem mais com as roupas e a aparência para ir ao trabalho do que homens. Uma empresa australiana perguntou a 2 mil mulheres sobre sua relação com chefes e 28% delas já escutaram que “mudanças na aparência seriam boas para a empresa”, 20% sentiram que seus chefes repararam em sua aparência mais do que fazem com funcionários homens e outras 8% já foram aconselhadas a usar mais maquiagem para parecerem mais bonitas.
Outro estudo, dessa vez realizado nos Estados Unidos, com 14 mil pessoas, entre homens e mulheres, mostrou que a beleza ajuda a aumentar os ganhos salariais – para ambos os sexos. Mas beleza tem mais a ver com cuidados estéticos do que com genética. E, no caso das mulheres, era determinante.
Funcionárias bonitas, porém mal cuidadas, não tinham qualquer vantagem financeira. Mas, invariavelmente, aquelas mais arrumadas ganhavam quase 20% a mais que as outras funcionárias. Para os homens, estética ajudava, mas nem tanto – tinha metade do peso, quando comparado ao caso delas.
“Ainda há muito sexismo dentro do ambiente de trabalho. Entre as frases mais sexistas que as mulheres escutam está ‘se arruma amanhã que tem reunião com o cliente’”, conta Carolina Sandler, fundadora do site Finanças Femininas. “Nós precisamos gastar mais com roupas, com manicure. Blush, rímel não são coisas supérfluas, servem para conseguir crescer no emprego nessa cultura que valoriza tanto o corpo e a beleza”, conclui.
Não bastasse o peso dos gastos extras das mulheres com estética, as empresas costumam cobrar mais caro por produtos femininos – em média, elas pagam 12,3% a mais do que eles em produtos semelhantes, segundo pesquisa de Fábio Mariano Borges, professor da ESPM.
É só mudar a cor de azul para rosa ou vermelho para aumentar o valor. Uma saída de maternidade para bebês custa até 5% a mais só com essa mudança, enquanto as lâminas de barbear dobram de preço. Calças jeans básicas saem 23% mais caras quando colocada na parte feminina das lojas – roupas, no geral, custam 17% a mais para elas. Corte de cabelo também pesa mais para mulheres: 27% mais caro.
Não há nada, além do puro hábito de cobrar a mais, que justifique essa diferença. Hábito que dura um bom tempo. No século 20, quando as lojas de departamento inauguraram as seções masculinas, houve uma tentativa de atrair com preços mais baixos os homens, que até então nem sequer pensavam em sair para fazer compras. “Há uma falsa ilusão de que isso acontece por que as mulheres são mais consumistas. Isso não tem comprovação. Elas estão mais no ponto de vendas por que são responsáveis pela venda de vários itens da casa – não por serem consumistas”, explica Borges.
Depois das guerras e a economia em baixa, apostaram ainda mais nas vendas para o público masculino. “E aí o tempo passou e o varejo não retomou a equidade dos preços de produtos masculinos e femininos. Ao contrário, produtos voltados para elas ficaram ainda mais caros”, conta Borges.
Produtos mais caros, maior gasto com estética. Para deixar a balança ainda mais desigual e negativa, segundo dados do IBGE, em média, o rendimento mensal delas é 75% menor que o deles. Em outro estudo, o site Catho chegou a outro dado: mulheres ganham até 38% menos que homens quando ocupam as mesmas funções que eles. Em cargos de chefia, como presidente, gerente ou diretor, a diferença fica em 31%.
No fim das contas, mulheres pagam mais e recebem menos. Sempre. Ou quase sempre. E ainda vai levar um bom tempo para igualar – ou reverter – o jogo. Mas questionar é um começo. Para tudo. “O que é um produto para mulher e outro para homem? Considerar produtos sem gênero pode ser uma forma de quebrar essa desigualdade aos poucos”, aposta Sandler. “O cenário não muda por falta de conhecimento e posicionamento dos consumidores e por falta de esclarecimento dos próprios gestores”, completa Borges.
Políticas de igualdade de gêneros também precisam ser adotadas – caso contrário, segundo estudo do Fórum Econômico Mundial, levará 217 anos para chegarmos à sonhada equidade de gênero. Alguns países europeus exigem que empresas de médio e grande porte divulguem diferenças salariais.
Na Islândia, quem diferenciar o pagamento pelo gênero tem de pagar multa. Funciona bem – o país é o melhor lugar do mundo para ser mulher. Já o Brasil, bem, o Brasil ocupa a 90ª posição. Em um ranking com 144 nações.
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