Pesquisa associa preocupação excessiva de jovens em criar músculos a riscos maiores de depressão, uso de suplementos e esteroides e abuso de álcool
publicado em 13 de Novembro de 2018
Um estudo recente mostra que meninos e homens jovens excessivamente preocupados em se tornar musculosos apresentam risco significativamente maior de sofrer de alguns problemas de saúde mental e comportamentos prejudiciais à saúde.
A pesquisa foi realizada por pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA, e da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e publicada em setembro de 2018 no Jornal Internacional de Distúrbios Alimentares.
De acordo com o Gemini Research News, site de divulgação das pesquisas da universidade norueguesa, trata-se do primeiro estudo a investigar a relação dos homens com seus corpos e músculos.
Segundo os pesquisadores, a obsessão em ganhar músculos pode vir associada à depressão, abuso de bebida alcoólica nos fins de semana, compulsão alimentar, uso de anabolizantes legais e ilegais e fazer dieta, mesmo sem estar acima do peso.
As condições estão ligadas a uma imagem distorcida do próprio corpo, que gera insatisfação.
A amostra
O estudo foi conduzido nos EUA com a participação 2.460 homens com idades entre 18 e 32 anos.
Os dados utilizados pela pesquisa foram obtidos através de um outro estudo americano nacional, chamado Growing Up Today Study.
A preocupação com a massa muscular foi avaliada por meio de uma escala chamada de Escala de Busca por Muscularidade, em que responder “1” significa nunca ter essa preocupação e “6” estar sempre preocupado em aumentar os músculos.
Para Tetlie Eik-Nes, coordenadora do estudo e professora do departamento de Neuromedicina e Ciência do Movimento da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, os resultados não teriam sido muito diferentes caso os participantes fossem noruegueses.
“A cultura e os padrões do mundo ocidental são muito semelhantes”, disse Eik-Nes ao Gemini Research News.
Perguntas erradas
Pesquisadores estão cientes há mais tempo dos distúrbios alimentares que afetam meninas e dos modelos prejudiciais que levam-nas a almejar a magreza extrema.
Segundo Eik-Nes, embora estudos do tipo já tenham sido feitos com rapazes, não estavam chegando ao cerne da questão, pois propunham aos meninos as mesmas questões feitas às garotas.
“Meninos não querem ser magros. Eles querem ser musculosos. As perguntas feitas para meninas são completamente inadequadas quando se quer descobrir como homens jovens veem a si mesmos e seus corpos”, disse a pesquisadora ao site de divulgação científica.
Principais descobertas em 4 pontos
- “A ‘busca por muscularidade’ é relativamente predominante em toda a adolescência e início da idade adulta dos homens e está associada a amplas e significativas consequências para a saúde”
- “Cada unidade a mais na escala de busca por muscularidade [dos participantes] esteve associada a maiores chances de apresentar sintomas depressivos, abuso de bebida e uso de produtos para ganhar massa muscular”
- “Homens gays e bissexuais apresentaram nível mais alto de busca por muscularidade em comparação com homens heterossexuais”
- O desejo por um corpo musculoso e a insatisfação com o próprio corpo estavam presentes em meninos e homens gordos e magros, mais e menos escolarizados
O estudo esclarece que meninos e homens jovens estão muito mais em conflito com sua imagem corporal do que se imaginava.
Enquanto o modelo considerado desejável para meninas é a magreza extrema, os homens jovens perseguem os parâmetros corporais de atletas profissionais, um padrão igualmente irreal.
A professora Tetlie Eik-Nes alerta para o perigo de se almejar o corpo de alguém cujo trabalho em tempo integral consiste em se exercitar. A obsessão surge quando eles não estão treinando para melhorar a saúde ou ter um desempenho melhor ao jogar futebol, mas com o único objetivo de ganhar massa muscular.
“Os sinais de alarme dos pais devem soar se eles têm um garoto que vai à academia todos os dias, que só quer comer frango com brócolis e toma shakes de proteína e suplementos o tempo todo. Se a vida deles está totalmente centrada em malhar, pais devem tirar um tempo para conversar com eles – perguntando, por exemplo, para que estão treinando”, disse Eik-Nes ao Gemini Research News.
O distúrbio caracterizado pela obsessão por um corpo musculoso leva o nome de “vigorexia”.
Começou a ser discutido publicamente nos últimos anos, mas ainda é pouco conhecido. E afeta mais homens do que mulheres.
* * *
Esse texto é uma republicação do jornal digital Nexo. O artigo original de Juliana Domingos de Lima pode ser visto na página do jornal, onde você também pode fazer sua assinatura para ter acesso a 100% do conteúdo publicado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário