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sábado, 9 de fevereiro de 2019

Análise: Casos de abusos sexuais de freiras emergem das sombras

Nesta terça, em entrevista aos jornalistas, o Papa Francisco reconheceu, pela primeira vez publicamente, a existência desses casos
ROMA — O abuso sexual de freiras e religiosas por padres e bispos católicos — e os abortos que em alguns casos são resultados desses casos — têm sido ofuscado por outros escândalos na Igreja Católica nos últimos anos. O panorama pareceu mudar nesta semana, quando o Papa Francisco reconheceu publicamente, pela primeira vez, o problema. 

“Finalmente, agora muitas mulheres terão a coragem de se apresentar e denunciar seus agressores”, disse Lucetta Scaraffia, autora de um artigo sobre o tema publicado neste mês na revista “Women Church World”, distribuída ao lado do jornal do Vaticano.
As declarações do Papa no início da semana, em resposta a uma pergunta feita sobre o artigo de Scaraffia, vieram após décadas de denúncias da aparente inércia do Vaticano. Além disso, a Igreja também realizará em breve uma conferência de bispos sobre abuso sexual. 
Francisco reconheceu que “houve padres e bispos” que cometeram abusos sexuais contra freiras, e que a prática “continua, porque não é como você descobrir que isso cessa”. Segundo o Pontífice, seu antecessor no comando da Igreja, Bento XVI, ainda como cardeal Joseph Ratzinger, organizou provas contra cúmplices e as entregou ao Papa João Paulo II. Bento, no entanto, teria lamentado: “O outro lado venceu”.
O relato do Pontífice confundiu a defesa das freiras abusadas por sacerdotes:
— O Papa disse que lidavam com este problema há muito tempo, mas não vimos que ações foram tomadas — disse Zuzanna Flisowska, gerente geral do “Voices of Faith”, um grupo que reivindica maior participação das mulheres na Igreja.

Falta de dados

Segundo Karlijn Demasure, ex-diretor-executivo do Centro da Igreja de Proteção à Criança na Pontifícia Universidade Gregoriana, não há dados sobre quão disseminado são os casos de abuso sexual de menores e adultos vulneráveis.
Especialistas acreditam que membros da Igreja sofrem com a mentalidade medieval dos padres, que consideram os sacerdotes vítimas das freiras. Como as vítimas nesses casos são adultas, haveria uma tendência de culpá-las. A imagem pública da freira como uma figura existente para servir o padre e orar silenciosamente também enfraquece aquelas que fazem denúncias.
Para Demasures, há casos em que madres superiores cobriram abusos cometidos contra suas freiras, em uma tentativa de proteger a reputação da igreja. É a mesma estratégia adotada por bispos com os padres pedófilos.
A aparente preponderância de casos na África e na Índia levou algumas pessoas da Cúria a atribuir os abusos às diferenças culturais. No continente africano, as freiras eram consideradas parceiras sexuais seguras por sacerdotes que temiam a infecção pelo HIV.
Um relatório de 1998 focado na África observou que o “assédio sexual e até mesmo o estupro de irmãs por padres e bispos são supostamente comuns”:
“Quando uma irmã engravida, o padre insiste que ela faça um aborto”, destaca o documento. “A irmã geralmente é demitida de sua congregação, enquanto o padre é frequentemente transferido para outra paróquia ou enviado para estudos”.
Na época, os bispos africanos consideraram que as denúncias eram “desleais”.
Os casos, no entanto, não foram restritos aos países em desenvolvimento. A agência Associated Press documentou abusos em pelo menos quatro continentes.
Em novembro, a União Internacional dos Superiores Gerais, ou UISG, a organização que representa as ordens religiosas católicas do mundo, publicou uma declaração que instava as religiosas que sofreram abusos a denunciar os casos às autoridades da Igreja e do Estado: “Condenamos aqueles que apoiam a cultura do silêncio e do sigilo, muitas vezes sob o disfarce de ‘proteção’ da reputação de uma instituição ou nomeando-a como ‘parte da cultura’”, anunciou a instituição em um comunicado.
Em dezembro, o Vaticano começou a investigação do Instituto do Bom Samaritano, uma pequena ordem religiosa chilena de freiras, depois que a TV estatal do país revelou que algumas irmãs haviam sido expulsas depois de denunciar casos de abuso sexual cometido por padres e maus tratos por parte de seus superiores.
— Agora o Papa entende o problema. Este é certamente o primeiro passo — comemorou Lucetta Scaraffia.

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