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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Delicado e atual, drama 'Luna' busca na tragédia feminina um raio de esperança

Longa do mineiro Cris Azzi retrata com urgência a realidade de uma adolescência permeada pelo empoderamento feminino, cyberbullying, suicídio.
HuffPost Brasil
By Rafael Argemon
15/10/2019

Desesperada depois que um vídeo íntimo seu vazou nas redes sociais, uma adolescente de 17 anos manda uma série de mensagens para sua mãe antes de cometer suicídio. “Eu te amo. Desculpe não ser a filha perfeita, mas eu tentei. Desculpe. Desculpe. Eu te amo.”
Essa história é real. Aconteceu em 2013, em uma pequena cidade no litoral do Piauí. É apenas um de muitos casos que terminam em tragédia envolvendo jovens que tiveram suas vidas expostas na internet.

E foi nesta histórias que o diretor Cris Azzi se inspirou para filmar o delicado e atual Luna, drama que estreou no circuito comercial nesta semana.
“Aquele caso me fez pensar na minha adolescência. Não que eu tenha vivido algo grave como aquilo, mas me tocou muito. Me interesso pelos dramas adolescentes, dessa noção de se sentir dentro de uma tempestade que não tem saída”, explicou o cineasta mineiro em entrevista ao HuffPost Brasil.
Ele está bem mais interessado na construção da protagonista, as descobertas da transição entre adolescência e vida adulta e de uma consciência feminista ―algo questionado fortemente após a exibição do filme no Festival de Brasília, em 2018. “Acho natural que no momento essa discussão apareça, não acho uma afronta. Apesar de ter uma protagonista mulher e que o feminino seja fundamental para a história, ainda é um filme dirigido por um homem”, pontuou.



DIVULGAÇÃO


Da esquerda para a direita: Ana Clara Ligeiro e Eduarda Fernandes como as adolescentes Emilia e Luana.

Luna conta a história da estudante Luana (Eduarda Fernandes), moradora de uma região pobre, que faz amizade com Emilia (Ana Clara Ligeiro), uma garota rica e novata na escola. Juntas, elas passam pela descoberta da sexualidade. Mas tudo muda quando um vídeo íntimo de Luana é compartilhado nas redes sociais e ela chega a ser não só humilhada no âmbito virtual, mas também é alvo de comentários e é chamada de “puta” na escola. 
Os caminhos enveredados por Luana (Eduarda Fernandes), no entanto, são diferentes. Em sua história, Azzi vai muito além da discussão sobre as consequências da exposição, cyberbullying e do machismo nas redes sociais. Nesse sentido, o longa conversa com outros filmes nacionais que abordam o mesmo tema, como Ferrugem, de Aly Muritiba, vencedor do Festival de Gramado e Aos teus olhos, de Carolina Jabor ― urgente na atualidade.
“Precisamos [homens] melhorar muito, mas o filme nesse sentido tem uma função importante para mim. Convidei 15 jovens mulheres para discutir as questões sobre o tema. E elas tinham em comum uma decepção enorme com o universo masculino. Me orgulho muito de ter tido a oportunidade de aprender com as mulheres”, justificou.
Apesar de ter uma protagonista mulher e que o feminino seja fundamental para a história, ainda é um filme dirigido por um homem.
Cris Azzi, diretor de "Luna"
“Luana e Emilia são duas garotas bem diferentes, assim como eu e Eduarda.
Faço paralelos, comparações da minha relação com a Duda e a delas, da dificuldade que eu e Duda tivemos para encontrar personagens e para entender e dialogar”, conta Ana Clara Ligeiro, que interpreta Emília, no longa.

Para ela, o começo foi difícil, “mas com o tempo a amizade que foi sendo construída na labuta do dia a dia mesmo” e que Luana e Emília tem um pouco disso também por serem duas garotas se descobrindo e se desafiando.
Essa naturalidade transparece na tela. Tanto que a atriz Eduarda Fernandes confessa que a maior dificuldade do papel foi manter-se aberta ao imprevisível das cenas após muita preparação antes das filmagens.
“Resgatar a espontaneidade, esse estado de presença, estar atenta a diferentes elementos da cena. Isso foi difícil, mas muito recompensador”, aponta Fernandes.



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Luana (Eduarda Fernandes) e sua mãe (Lira Ribas): a busca de uma jovem mulher por sua identidade.

A natureza também se faz presente na própria ambientação da história, que se passa em uma pequena cidade nas montanhas de Minas Gerais, cercada de verde, com ruas de terra e uma constante serração. 
“Quis colocar a floresta como elemento feminino e durante a construção da própria personagem da Luana. Tratamos com realismo as questões da adolescência, mas abrimos espaço para aspectos mais oníricos, íntimos. Essa noção é representada pelo mistério da floresta, que de alguma maneira aproxima a Luana dela mesma. A natureza chega ser até opressora de tanto que está presente naquele local”, reflete Azzi.
Esta “natureza opressora” a que o diretor se refere está presente na cena em que a personagem comete suicídio ― e que gerou debates sobre como abordar o tema de forma responsável no Festival de Brasília, no ano passado.
Assim que descobre que um vídeo íntimo seu foi compartilhado nas redes sociais, a personagem toma uma grande quantidade de comprimidos, mas sobrevive. No entanto, ela atravessa um delírio, vendo-se em uma floresta surrealista, onde lambe uma substância vermelha que escorre de uma árvore. 
Os elementos que separam a arte da vida são os que mais atraem nesse belo filme. Mesmo que baseado em tragédias do mundo moderno, Luna aponta para o caminho da luta e da esperança.
“Acredito que depois da tempestade é possível encontrar o sol. Precisamos ter muita responsabilidade ao falar sobre um assunto tão sério. Era muito sedutor optar pelo caminho da tragédia, mas conversei com jovens e profissionais da saúde nesse processo e achei que o filme seguiria por um caminho otimista tendo sim uma posição política, mas sem discursos, sem ser panfletário”, conclui o diretor.
Caso você — ou alguém que você conheça — precise de ajuda, ligue 188, para o CVV - Centro de Valorização da Vida, ou acesse o site. O atendimento é gratuito, sigiloso e não é preciso se identificar. O movimento Conte Comigo oferece informações para lidar com a depressão. No exterior, consulte o site da Associação Internacional para Prevenção do Suicídio para acessar uma base de dados com redes de apoio disponíveis.

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