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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Em série, Steven Spielberg usa ciência para explicar 'Por que odiamos?'

Produção argumenta que cérebro foi moldado a ver o diferente como ameaça, mas isso não significa que não possamos mudar
RIO - Desde que gravou “A lista de Schindler”, no começo dos anos 1990, uma questão atormentava o cineasta Steven Spielberg: como podem pessoas comuns serem levadas a cometer atos tão perversos contra outros seres humanos? O assunto ganhou a ordem do dia com a ascensão de grupos extremistas no fim desta década, e dá nome à série documental “Por que odiamos?” , que estreia neste sábado, às 21h, no Discovery.

Spielberg e o premiado documentarista Alex Gibney são os produtores-executivos da atração, que é dirigida por Sam Pollard e Geeta Gandbhir , dupla vencedora do Emmy pelo documentário “When the levees broke: a requiem in four acts”, sobre o impacto do furacão Katrina.
— A ideia é realmente de Spielberg, é o bebê dele. Com ele e Gibney, era um projeto ao qual não tinha como dizer não — conta Geeta, por telefone.

Cérebro da Idade da Pedra

Para responder à pergunta que dá título à produção, a equipe não apenas estuda casos recentes de racismo e xenofobia, mas tenta compreender como o funcionamento do cérebro humano explica tais comportamentos. O argumento é que, em um ambiente hostil e de recursos escassos, o homo sapiens foi moldado pela competição com outros grupos.
Geeta explica que temos um cérebro da idade da Pedra, condicionado a procurar ameaças.
— Antes isso fazia sentido, porque vivíamos em grupos pequenos, de até 200 pessoas. Naquela época, se uma criatura estranha aparecesse, podia nos ferir. Agora, temos esse cérebro em sociedades complexas que são grandes e globais, em que temos que conviver com diferentes tipos de pessoa e lutar pela sobrevivência. Por isso, vemos que o ódio basicamente aflora quando há desigualdade, pobreza, racismo, injustiça — afirma ela.
Pensar nesses termos ajuda a definir sentimentos de amor e ódio, na visão dela:
— O que chamamos de amor é a nossa habilidade de cooperar, de viver juntos em comunidade e compartilhar recursos. E ódio é o contrário, é o desejo de sobreviver e se sair melhor, não importa o custo.
Partidário do South Carolina Secessionist Party, o americano James Bessenger abre sua bandeira dos Estados Confederados em cena do documentário 'Por que odiamos?': associado à escravidão, estandarte é considerado símbolo racista nos Estados Unidos Foto: Discovery Channel
Partidário do South Carolina Secessionist Party, o americano James Bessenger abre sua bandeira dos Estados Confederados em cena do documentário 'Por que odiamos?': associado à escravidão, estandarte é considerado símbolo racista nos Estados Unidos Foto: Discovery Channel
São, portanto, dois lados de um mesmo processo, o que também explica por que as pessoas embebidas em radicalismos e preconceitos dificilmente assumem que suas posições são nocivas.
— É gente que comete atos odiosos porque acha que está fazendo algo pelo bem maior, pelo país delas, pela religião. Elas acham que são movidas por amor, dizem “eu amo meu país, então vou fazer isso”.
Mas se tais sentimentos não são novos, porque eles parecem mais à flor da pele agora, com a ascensão de extremistas religiosos e grupos nacionalistas de extrema-direita? Para Geeta, há duas explicações: por um lado, vivemos em um mundo com informação 24 horas por dia, em que somos bombardeados com as piores notícias sobre o comportamento humano. Por outro, ela também vê a responsabilidade de empresas de tecnologia que deixam o discurso de ódio proliferar em suas plataformas. Um processo que, ela admite, é difícil de reverter.

Geeta também cita alguns exemplos positivos apresentados na série, como o do skinhead que encontrou redenção após sair da prisão e ser contratado por uma judia ou o de uma jovem criada na Westboro Baptist Church. Espécie de culto infame do Kansas, nos Estados Unidos, a igreja é conhecida por atitudes como invadir funerais de pessoas LGBT com cartazes homofóbicos. Criada neste ambiente, Megan Phelps-Roper só percebeu como era perversa a atitude de seus familiares ao, surpreendentemente, ingressar no Twitter e ter contato com o mundo exterior.
— Se as pessoas estão mergulhadas numa ideologia, você não consegue chegar nelas dizendo que está errado. O que ajuda é encontrar a humanidade do outro. Mas também é preciso lidar com questões estruturais e mudar as leis. O indivíduo só consegue atuar até um certo nível — diz a diretora.
Por outro lado, muitos jovens, hoje em dia, já estão "vacinados" contra o preconceito.
— Se você se identifica com mais grupos, maior a sua visão de mundo e a empatia que você terá por diferentes tipos de pessoas, com outras religiões, sexualidades, raças. Os jovens de hoje estão fazendo isso. Eles têm muitas identidades: ressaltam que são mulheres, bissexuais, asiáticos… Eles têm uma lista grande de coisas que são e isso é importante.
Já o Brasil, na visão da diretora, regrediu na “escala de ódio” global de uns tempos para cá.
— Visitei o Brasil algumas vezes, antes da última eleição. Na época do documentário, fizemos pesquisas sobre o país e havia exemplos mais graves. Optamos por acompanhar as eleições na Hungria. Agora, parece que vocês estão numa posição muito semelhante à nossa aqui nos Estados Unidos. Mas aqui estamos um pouco na frente, o que aconteceu com vocês, aconteceu conosco um pouco antes.

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