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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Pioneira: a mulher que ajudou a formar uma geração de engenheiros



Por Samantha Shaddock
Mary Reynolds ficou na plataforma de trem e acenou para se despedir de seus pais. Era 1946, e a moça de 20 anos trocava a poeira vermelha de Oklahoma pelos invernos gelados de Schenectady, estado de Nova York, e por um emprego como engenheira na GE.

Mas Reynolds gostava do frio. Tendo sofrido com os verões escaldantes de Stillwater, Oklahoma, ela estava obcecada com a ideia de condicionamento de ar — tanto que isso a inspirou a estudar engenharia mecânica na faculdade. Em 1943, as colegas femininas na Faculdade de Agricultura e Mecânica de Oklahoma eram poucas e dispersas. “Foi no tempo da guerra”, afirma Reynolds, 90, em sua casa em St. Louis. “Então, muitas delas não terminaram o curso.”
Mas ela terminou. Ela também ajudou o marido a concluir a faculdade e acabou formando uma geração de jovens engenheiros décadas depois. Em muitos sentidos, Reynolds foi uma precursora do atual plano da GE de empregar 20 mil mulheres em postos de trabalho nas áreas de ciência, tecnologia e engenharia até 2020 e aumentar o número de mulheres na indústria.
Nascida Mary Eager em 1926, filha de um professor de física, ela brilhou durante o curso, formando-se em apenas três anos, aos 20 anos de idade, por ter feito aulas da graduação durante o ensino médio e por ter se comprometido com um calendário anual extenuante. Rígidas regras familiares talvez tenham ajudado também. “O estudo vinha em primeiro lugar”, lembra Reynolds. “Então, nada de rádio ligado se alguém estivesse estudando em casa.” Ela foi a segunda mulher a se formar em engenharia mecânica na então faculdade de Agricultura e Mecânica de Oklahoma (atual Universidade Estadual de Oklahoma).
A aluna brilhante chamou a atenção da General Electric, que a selecionou em 1945 para um estágio em Fort Wayne, Indiana, quando ela estava no terceiro ano da faculdade, e a recrutou logo após a formatura para um emprego em tempo integral. “Eles me ofereceram um emprego em março daquele ano, e eu só me formei em agosto”, diz ela. “Então, eu conclui aquele ano universitário, peguei meu diploma e fui para Schenectady.”
Recentemente, ela contou a seu filho, Scott Reynolds, que sua mãe chorara a noite inteira após deixá-la na estação de trem. Mas os olhos de Mary ficaram secos. “Foi muito tranquilo”, ela conta, referindo-se a sua mudança, sozinha, para o nordeste dos Estados Unidos. “Eu não estava nenhum pouco preocupada. Eu não tive medo nenhum de ir para lá sozinha.”
Ela não conhecida ninguém em Nova York, mas, com a ajuda da GE, alugou um quarto no apartamento de uma senhora idosa que ficava em cima de uma farmácia. “Todas as manhãs, eu andava duas quadras e pegava um ônibus até o trabalho, na planta da GE”, lembra ela.
Lá, ela fez rodízios de três meses trabalhando em turbinas e painéis de controle industriais, bem como no departamento de pesquisa. Em seu quarto rodízio, ela foi transferida para uma fábrica em Nova Jersey, onde trabalhou como engenheira de aplicação em equipamentos de ar-condicionado fazendo cálculos de carga. “Não tínhamos calculadoras, então uma régua de cálculo era usada para todas as multiplicações.”


“O estudo vinha em primeiro lugar”, diz Reynolds sobre sua infância. Após a guerra, a GE transformou a experiência dela em uma história em quadrinhos publicada em uma revista direcionada aos funcionários. Crédito: GE
Embora projetasse ar-condicionado, a equipe dela trabalhava sem condicionamento de ar, o que Reynolds conta com tom irônico, acrescentando que ela parecia estar mais bem preparada para lidar com o calor do que alguns de seus colegas. “Um dia, eles nos liberaram do trabalho porque estava fazendo de 32ºC. Eu disse: ’Em Oklahoma, nós continuávamos trabalhando sob essa temperatura’.”
Reynolds lembra-se de ser a única mulher no centro da fábrica, literalmente rodeada por homens — não que ela se importasse muito com isso. “Todos eram muito legais comigo”, afirma. “Eu nunca ouvi ninguém falando palavrão. Os homens eram muito respeitadores, e foi uma experiência boa.”
Ela aproveitou ao máximo sua temporada em Nova York, indo ao teatro, visitando a Estátua da Liberdade e passeando em West Point com uma amiga que conheceu quando era voluntária em um grupo de escoteiras. “Ela trabalhava em Nova York para alguma revista de culinária”, conta Reynolds.
Reynolds passou dois anos na GE, até que os soldados começaram a voltar para seus empregos. Com as vagas ficando escassas, ela voltou a Stillwater, sua cidade natal.
Embora sua carreira como engenheira de aplicações tenha terminado, seu trabalho na área continuou. Após se casar — ela conhecera seu marido em um encontro às cegas e ficou com ele por 58 anos — e ter filhos, ela acabou voltando para o trabalho, agora ensinando engenharia, desenho mecânico e cinemática na faculdade onde se formara. Na época, todos os seus alunos eram homens. “Não havia meninas nas classes”, lembra.
Depois, Reynolds tornou-se supervisora do programa de extensão tecnológica em engenharia da instituição e, então, foi promovida a diretora associada do currículo de engenharia, sendo responsável por supervisionar a formação em matérias como certificação de radiação e proteção contra incêndios. “A maior parte das aulas era em cidades de Oklahoma, mas atraíamos um público nacional por causa de alguns dos temas.”
A paixão de Reynolds por tecnologia e educação é parte de seu legado. Ao garantir aquele primeiro emprego na Universidade Estadual de Oklahoma, ela possibilitou que seu marido terminasse a graduação, que ele havia interrompido para servir o Exército, e depois fizesse o mestrado. Mais tarde, ele trabalhou como editor técnico no departamento de engenharia da faculdade. O filho Brett tem formação em engenharia mecânica e proteção contra incêndio; a filha, Valerie Hyde, trabalha com o marido em uma consultoria de segurança industrial cujos clientes incluem a GE; e Scott trabalha com tecnologia da informação na American Airlines.
A filha mais velha de Valerie é analista de TI; o filho dela é engenheiro da computação; e a caçula estudará arte e psicologia. As filhas de Scott Reynolds, ambas primeiras da classe no ensino médio e na faculdade, agora trabalham com educação — uma é professora e a outra é gerente de operações em uma rede nacional de escolas particulares conveniadas à rede pública. Quando eram pequenas, o pai delas lhes mostrou uma matéria que a revista American Girl publicara sobre a carreira de sua avó na GE. “Acho que isso ajudou a reforçar para elas que as meninas podem se destacar o quanto lhes for permitido.”
Para ler o texto original (em inglês), clique aqui.

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