Entre 2013 e 2017 foram registrados 2.874 casos no Município, com evolução ano a ano
Cedoc/RAC
Protesto contra o feminicídio no Jardim São Marcos lembra também o assassinato de Thaís Fernanda, em maio deste ano, em Campinas
A violência contra a mulher continua aumentando em Campinas. Os números do Sistema de Notificação de Violências (Sisnov) mostram que entre 2013 e 2017 foram registrados 2.874 casos de violência de gênero no Município, com evolução ano a ano. Em 2013 foram 466 casos, 367 em 2014, 574 em 2015, 688 em 2016, e 779 em 2017. No entanto, o total de caso pode ser muito maior, já que o Sisnov registra as ocorrências que são de notificação compulsória, atendidas pela rede municipal de enfrentamento e prevenção às violências, principalmente, nas unidades de saúde. Não entram nestas estatísticas os casos não registrados ou aqueles informados diretamente à polícia. Até o final de outubro, Campinas registrou seis casos de feminicídio.
Segundo o levantamento, as mulheres mais afetadas pela violência no período estudado são aquelas na faixa etária de 20 a 29 anos (970) e de 30 a 39 (879). A violência física foi praticada 1.417 vezes e a sexual, 552.
Segundo o levantamento, as mulheres mais afetadas pela violência no período estudado são aquelas na faixa etária de 20 a 29 anos (970) e de 30 a 39 (879). A violência física foi praticada 1.417 vezes e a sexual, 552.
Outro ponto que merece atenção e precisa de um olhar específico é a tentativa de suicídio praticada pelas mulheres, que vem aumentando exponencialmente. Em 2013 foram 35 tentativas, já em 2017 foram 183 registros. Um crescimento de 422,8%.
Feminicídio
Campinas apresenta taxas de feminicídio acima da média do Estado de São Paulo. É o que apontou um estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e divulgado em agosto.
O levantamento, que analisou 582 declarações de óbitos registradas no Município, em 2015, constatou a incidência de 3,18 casos de feminicídio a cada 100 mil mulheres. Trata-se de taxa que deixa a cidade com um quadro acima da média estadual, que é de 2,4 para 100 mil. Os dados divulgados mostram ainda que os índices desse tipo de violência também ficam próximos da média nacional (4,8 para 100 mil).
Do total de mortes declaradas, 185 corresponderam a homicídios de homens (85,9%) e 26 de mulheres (14,1%). Das 26 mulheres assassinadas, 19 foram vítimas de feminicídio, ou seja, foram mortas pelo simples fato de serem mulheres. Dentre elas, uma parcela significativa (63,2%) foi vítima do próprio companheiro. Duas estavam grávidas. A maior parte dos crimes foi cometida no domicílio da vítima (52,6%) e na via pública (42,1%).
De acordo com Mônica Roa, principal autora da publicação, as mortes por feminicídio, em geral, são altamente violentas do ponto de vista da agressão física e sexual, tendo as vítimas poucas chances de conseguir assistência médica em tempo hábil para sobreviverem.
“A intenção de se separar, por parte da mulher, e os desentendimentos com o companheiro figuraram entre as motivações mais frequentes”, conta a pesquisadora. Atualizando dados sobre o feminicídio em Campinas, em 2019, Mônica diz que de janeiro até a semana passada ocorreram oito mortes. “Entrevistamos familiares de todas as vítimas”, destaca.
De acordo com o epidemiologista da FCM, Ricardo Cordeiro, especialista em mortes violentas, as consequências do feminicídio, apesar de grandes, ainda não foram completamente dimensionadas. “É preciso superar as limitações habituais dos estudos baseados em registros estatísticos. Conversar com pessoas próximas das vítimas, realizando verdadeiras autópsias verbais permitirá maior compreensão desse tipo de violência, da subjetividade das vítimas e motivações do agressor e, mais do que isso, em uma identificação mais acurada dos fatores de risco”, analisa.
Grupo organiza caminhada no próximo domingo
Por conta do crescimento da violência, o Grupo Mulheres do Brasil realiza, no próximo domingo, a Caminhada pelo Fim da Violência contra a Mulher, na Lagoa do Taquaral. A concentração será às 9h na Concha Acústica. A organização é do Centro de Referência e Apoio à Mulher (Ceamo) em parceria com o Grupo Mulheres do Brasil.
Segundo Luiza Helena Trajano, presidente do Grupo Mulheres do Brasil, será uma grande mobilização que colocará nas ruas a voz uníssona de pessoas de todos os gêneros, pedindo um basta aos índices vergonhosos da violência feminina. “Não podemos mais aceitar que uma mulher seja morta a cada duas horas e que haja um estupro a cada 11 minutos. Temos que mudar essa realidade urgente, é a união de todos e todas por uma causa global”, diz a executiva.
A iniciativa integra os “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres” — uma campanha Internacional de combate à violência contra as mulheres e meninas, que consiste numa mobilização global da sociedade civil em torno desse propósito. No Brasil, a mobilização dura 21 dias, pois começa em 20 de novembro — no Dia Nacional da Consciência Negra e pelo fato de mulheres negras serem as maiores vítimas da violência — e se encerra em 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Nos demais países ocorre em 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres (o “Dia Laranja”, proclamado pela ONU), e 10 de dezembro.
Adriana Camargo, Líder do núcleo em Campina, do Grupo Mulheres do Brasil, ressalta que a caminhada vai acontecer em várias cidades do mundo, simultaneamente. De acordo com ela, este tema está sendo mais falado, mas o Brasil ainda é o 5º País que mais mata mulheres no mundo. "A caminhada é uma forma de mostrar que estamos atentas e não aceitamos mais isso. Ao fazer a caminhada chamamos todos para a reflexão e mostramos que ninguém mais vai se calar sobre isso", define.
O grupo não faz apenas uma ação isolada. Forma, capacita e atualiza essas mulheres, para o empreendedorismo feminino, para que tenham empoderamento financeiro e independência.
Ericka Chioca Furlan, professora de Direito da Mackenzie e coordenadora do Núcleo de Campinas de Combate à Violência contra a Mulher, reforça que a caminhada é uma forma de mostrar o aumento "brutal" da violência contra a mulher. "O atlas da violência do Ipea de 2019, com os números de 2017, mostra que no País são 13 vítimas de feminicídio por dia. Em 2015 eram 4", aponta.
Ela reclama ainda das estatísticas. "Nós temos problemas de dados. O País não leva a sério a estatística sobre violência.. O atlas de 2019 está trazendo informações de 2017. Foram 4.936 feminicídios no Brasil, sendo que 66% eram mulheres negras. De 2007 a 2017 houve aumento de 30% na mortandade das mulheres negras", esclarece.
De acordo com ela, muitas delegacias registram as mortes como homicídio qualificado, mas não coloca o feminicídio. "Desde a Lei Maria da Penha a gente tem mais força em denunciar, mas os atos não diminuíram, aumentaram. Está aumentando a violência contra a mulher", garante.
A advogada acredita que apenas a educação é capaz de mudar este cenário. "A gente precisa estar atenta e lutar sempre. Mas apenas com educação e diálogo é possível mudar esse dado, com formação de base. As crianças veem a situação em casa e replicam. É comum isso nas crianças. É preciso mudar desde o Ensino Fundamental. São as pessoas que a gente consegue mudar ainda. Já para o homem adulto a gente pode propor que se reconheça como um ser violento e participe de grupos de apoio, rodas de conversas, mas é bem mais difícil", avalia.
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