Anvisa lança guia sobre congelamento de cordão umbilical
Clínicas privadas chegam a cobrar 7.000 reais para coletar o material. As chances de que a pessoa venha a precisar das células-tronco do próprio cordão, entretanto, são baixas
Células são armazenadas em tanques de nitrogênio líquido a 180 graus negativos: congelar o cordão umbilical em bancos privados sai caro (SPL/Latinstock) |
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lança, nesta sexta-feira, uma cartilha com esclarecimentos sobre o armazenamento de sangue de cordão umbilical e da placenta. A iniciativa surge como contraponto a propagandas feitas por parte de clínicas privadas, muitas vezes enganosas. "Queremos esclarecer, trazer todas as informações necessárias para que as pessoas possam questionar: vale a pena recorrer a um serviço particular?", explicou o gerente geral de Sangue, Tecidos, Células e Órgãos da agência, Daniel Coradi.
O gerente afirma existir 17 bancos de sangue privados de cordão umbilical no país. Juntos, eles armazenam aproximadamente 70.000 bolsas. O material, coletado durante o parto, é visto pelas famílias como uma precaução terapêutica: a criança ao crescer, ou algum membro da família, poderiam se valer das células-tronco ali contidas para tratamento de doenças.
A estratégia, no entanto, não é barata. Famílias pagam de 5.000 a 7.000 reais para coletar o material no parto e cerca de 800 reais anuais para manutenção. "Isso é o mesmo que vender um terreno na Lua. Algumas clínicas afirmam que as células poderão ser usadas para tratamento de Parkinson, Alzheimer, e uma série de tipos de câncer. Mas não há nada atualmente que comprove isso", diz Carmino Antonio de Souza, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).
Utilidade — O sangue de cordão umbilical, da mesma forma que a medula, é rico em células-tronco, que são capazes de se transformar em células de qualquer tecido do corpo. Atualmente, o material tem sido usado para tratar pacientes com doenças hematológicas, como cânceres das células sanguíneas. O tratamento é feito basicamente em bancos públicos, que armazenam células-tronco de doações. "Para que um paciente possa ter acesso ao material, é necessária apenas uma coisa: compatibilidade", explica Coradi. Quando não há material compatível, a busca é feita em bancos de sangue umbilical do exterior, com os quais o Brasil tem convênio. De acordo com Coradi, essa prática é bastante comum.
O transplante de sangue de cordão autólogo (da própria pessoa) ocorre em raras ocasiões. "Não há estatísticas quanto ao uso e eficácia dos tratamentos realizados", diz a cartilha. Coradi afirma que a chance de uma criança necessitar das suas próprias células-tronco é baixa. Segundo ele, das 45.661 unidades de sangue de cordão armazenadas nos bancos até 2010, apenas três foram usadas para transplante na própria pessoa. "Em muitas situações, o uso do próprio sangue de cordão armazenado é contraindicado", observa o gerente.
Entre as restrições estão o tratamento de doenças de origem genética, como leucemias. "O sangue do cordão pode carregar os mesmos defeitos da doença manifestada", explica. O uso do material seria possível em casos de doenças que não tenham sido provocadas por problemas genéticos.
(Com Estadão Conteúdo)
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