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sábado, 22 de março de 2014

O apartheid na literatura infantil - Opinião e Notícia

Dos mais de três mil livros infantis publicados nos EUA em 2013, somente 93 eram sobre negros. Como isso pode influenciar as crianças e o mercado?

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O livros acabam sendo um guia defasado
 da realidade
 (Reprodução/The New York Times)
As declaradas “missões” das grandes editoras estão repletas de compromissos com a diversidade, a imaginação e a pluralidade cultural. Em teoria, a intenção é dar às crianças a oportunidade de entenderem a importância de cada um e respeitar diferenças sociais, raciais e culturais. Na prática, porém, é difícil achar protagonistas negros nas histórias infantis.
Dos mais de três mil livros infantis publicados nos EUA em 2013, somente 93 eram sobre negros. Muitas vezes, os negros que aparecem são limitados às histórias que se preocupam com os legados de direitos civis e da escravidão, mas não é dada a chance de um personagem negro entrar de fato na terra da aventura, da curiosidade, da imaginação. Esse apartheid na literatura infantil tem dois efeitos.
Um deles é privar crianças negras da felicidade de se reconhecer em um texto e entender que a sua vida e a vida de pessoas como você é digna de ser reproduzida, pensada, discutida e celebrada. Acadêmicos e educadores destacam a importância da auto-estima que se adquire dos livros, que servem como espelhos para firmar as próprias identidades dos leitores.
Além disso, crianças, mais voltadas para o mundo exterior, também veem livros como mapas. Através da leitura, elas podem, na verdade, buscar seu lugar no mundo e decidir para onde querem ir. Elas criam, através das histórias que leem, um atlas de seu mundo, de suas relações com o outro e de seus possíveis destinos.
Neste sentido, a cartografia da literatura infantil é falha. Ela não demonstra o futuro para um segmento: as crianças negras. Isso significa que, quando as crianças de hoje enfrentam a realidades do mundo contemporâneo sem um mapa realista. Ou com um mapa desatualizado, o que pode deixá-las perdidas. Quantas crianças negras podem imaginar-se dentro das fronteiras de um personagem secundário? E o que pensam as crianças brancas sobre não encontrar negros nos livros, mas estar numa sociedade onde eles estão presentes? A representação da realidade está distorcida.
Em uma escola pública no sudeste de Washington, nos EUA, um aluno da quinta série disse recentemente o que ele quer fazer com a vida dele, qual mapa ele quer seguir. Ele disse que quer se juntar à liga de basquete profissional (NBA) e depois usar o dinheiro para comprar um estúdio de gravação, onde vai gravar um álbum de rap. Talvez esses não sejam realmente seus sonhos, mas somente os sonhos que foram oferecidos a ele, os lugares onde ele pode ir na geografia estreita que foi delineada para ele e onde ele se vê correspondido. Os livros infantis podem mudar isso, se o mercado editorial perceber sua importância.

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