por Joseh Silva
Era meados de março, um sábado ensolarado. Todos estavam em casa. A conversa era sobre a vida dos vizinhos. Até ai, sem novidades. Naquele barraco, viviam nove pessoas, cinco delas crianças. O filho mais velho, com 11 anos, estava na porta da goma, saboreando um delicioso macarrão com frango assado no forno. De repente sobe ela. Vinha descalça, de pijama, cabelos despenteados, segurando a filha no colo. A menina estava assustada, mas acolhida no seio da mãe. O pai vinha logo atrás. Ela gritava: “socorro” e ele: “vagabunda, vou te matar”.
Os dois passaram pelo menino, que soltou o prato, arregalou o olho, entrou em um estado de adrenalina e impotência diante da violência contra sua a vizinha.
O homem alcançou a mulher e a puxou pelo braço. Ela, com uma mão, tentou arranha-lo. Sem sucesso. Ele levantou a mão e deu um tapa. Ela protegeu a filha. Ele, com muita covardia, encorajada pela figura masculina e de ladrão da quebrada, a espancava com mais postura e vigor. Ela murchava a cada tapa, a cada chute. Segurava a filha, apertava contra o peito.
A quebrada olhava. Só olhava. Além do discurso “briga de marido e mulher...”, tratava-se do ladrão e sua mulher, ninguém queria se intrometer. O menino estava ali, com medo, paralisado, sem saber o que pensar. Tudo muito intenso, tenso; muito frenético, muita humilhação, muita coisa.
A menina caiu do colo da mãe. Ela criou forças, mudou a expressão, saiu da posição que estava, pulou em cima do homem e batia, gritava, tentava morder, arranhar. Não fazia aquilo por ela, era pela filha, que foi acertada por um dos socos. Ela, com uma força desmedida, empurrou o homem contra a parede chapiscada, e começou a bater as costas dele, que estava sem camisa.
O menino tinha vontade de ir lá. Ajudá-la a se vingar. Mas o estado de choque era maior. Nunca havia presenciado nada parecido. Aquele ladrão, que era a referência da quebrada, perdeu uns pontos com ele.
A comunidade já estava toda na viela, assistindo à cena. Ela continuava a dominá-lo. Até que outro ladrão chegou e separou a situação. Ele de um lado, ela do outro. Olhavam-se com muito ódio. Ela, com rosto inchado, olho roxo, marcas pelo corpo, ofegante, disse: se você encostar na minha filha de novo, eu não vou pensar duas vezes para te matar. Juro!
Dedico à Verônica
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