Após a publicação de especial, pelo menos cinco vítimas de estupro buscaram o MP-BA. Audiência com base na série debate o tema hoje, no CAB
Alexandre Lyrio, Clarissa Pacheco e Thais Borges ()
14/12/2015
Pouco a pouco, o silêncio está sendo quebrado. Pouco a pouco, mais e mais vozes começam a ecoar. E, nesse novo momento, que está sendo chamado por alguns de Primavera Feminista, mais e mais mulheres também vão dizer: machistas não passarão. Estupradores não passarão.
Desde que o CORREIO começou a publicar a série O Silêncio das Inocentes, na última quarta-feira, foram mais de 60 mil acessos ao conteúdo no site especial, além de milhares de compartilhamentos em redes sociais.
Alexandre Lyrio, Clarissa Pacheco e Thais Borges ()
14/12/2015
Pouco a pouco, o silêncio está sendo quebrado. Pouco a pouco, mais e mais vozes começam a ecoar. E, nesse novo momento, que está sendo chamado por alguns de Primavera Feminista, mais e mais mulheres também vão dizer: machistas não passarão. Estupradores não passarão.
Desde que o CORREIO começou a publicar a série O Silêncio das Inocentes, na última quarta-feira, foram mais de 60 mil acessos ao conteúdo no site especial, além de milhares de compartilhamentos em redes sociais.
E esse alcance já trouxe respostas: entre quarta e sexta-feira, pelo menos cinco mulheres vítimas de violência sexual procuraram a sede do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher (Gedem) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), mobilizadas após a leitura das reportagens. “Elas leram as reportagens e vieram nos procurar. Acho que já podemos ficar muito felizes (com a repercussão)”, afirma a promotora Márcia Teixeira, coordenadora do Gedem.
Audiência hoje
E, para ajudar a promover a reflexão e o debate para ir além das páginas do especial, hoje, a partir das 8h, uma audiência pública será promovida pelo MP-BA, em parceria com o CORREIO, na sede do órgão, no CAB (5ª Avenida, n° 750).
Com o tema “O Silêncio das Inocentes: um Debate sobre Estupros na Bahia”, o evento será baseado na série de reportagens e será transmitido pela internet, pelo site. O debate é aberto, mas a participação está sujeita à lotação do espaço, que será por ordem de chegada. Quem assistir à transmissão online, também poderá enviar suas perguntas ou contribuições.
A promotora Márcia Teixeira será uma das participantes
do debate (Foto: Humberto Filho/MP-BA) |
Momento Ideal
Para o evento, o CORREIO ainda convidou a gerente de comunicação da campanha Chega de Fiu Fiu, Luíse Bello, que vai participar da mesa junto com os repórteres Alexandre Lyrio, Clarissa Pacheco e Thais Borges — responsáveis pela produção do especial —, a promotora Márcia Teixeira, a coordenadora do Serviço Viver, Dayse Santas, o delegado Adailton Adan, titular da 1ª Delegacia (Barris), e o obstetra David Nunes, do Iperba.
“Esse tema vinha tocando não só o MP-BA, mas todo o movimento de mulheres. Quando o CORREIO se propôs a fazer essa série tratando de um tema tão importante, não só para as mulheres, mas para a sociedade baiana, entendemos que seria o momento ideal para uma parceria. É o momento adequado, logo após a publicação do Anuário de Segurança Pública”, afirma, referindo-se o relatório lançado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em outubro.
São muitos os fatores que reforçam a cultura do estupro. Por isso, é importante falar também sobre assédio. Luíse Bello, da Chega de Fiu Fiu, abordará o tema na audiência. “O assédio é mais um braço da cultura do estupro. O que gera o medo do assédio, na verdade, é o medo do estupro. É uma violência a que nós nos sentimos sujeitas. A gente está na rua com medo de ser assaltada, mas, principalmente, com medo de ser estuprada”, diz.
Já a coordenadora do Serviço Viver, Dayse Dantas, diz que a audiência deve chamar a atenção das pessoas para o acolhimento psicológico das vítimas – como mostrou a reportagem Os Caminhos, publicada na sexta-feira e disponível no site . “É para que as pessoas busquem acolhimento no Viver ou em outras instituições, para que consigam recuperar a capacidade de enfrentar a vida. E para que consigam se libertar da dor dessa mágoa, que é dolorosa”.
Aborto legal
Consequências como a gravidez também serão discutidas. Na série, duas mulheres contaram quais foram suas decisões quando se viram diante da situação. Malu*, 16 anos, e Luísa*, 54*, foram estupradas e engravidaram, mas seguiram por caminhos diferentes. Uma abortou. A outra, não.
O aborto é previsto em casos de estupro, no Brasil, desde o Código Penal de 1940. Para o obstetra David Nunes, do Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba), a maior referência no estado em serviço de aborto legal, as pessoas ainda acreditam que lidar com a interrupção de uma gravidez é uma coisa simples. “Isso é uma falácia. É doloroso o atendimento até para quem atende e para quem assiste. Vai marcar a vida da pessoa para a vida inteira”.
Atualmente, a discussão sobre aborto no Brasil enfrenta um momento crucial: tramita, na Câmara dos Deputados, o projeto de lei 5.069/2013, de autoria do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Se aprovado, o projeto classificará métodos abortivos – como a pílula do dia seguinte – como crime contra a vida.
Isso deve dificultar o atendimento das vítimas de estupro, que terão que apresentar provas de que foram estupradas. Em outubro, o projeto recebeu parecer favorável pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Para David Nunes, esse projeto é uma “violência da sociedade contra a própria sociedade”. “As pessoas têm o direito de ser contrárias, mas não pode ser impositivo em relação ao outro. É um retrocesso e uma violência de gênero”.
*nomes fictícios
Correio
Para o evento, o CORREIO ainda convidou a gerente de comunicação da campanha Chega de Fiu Fiu, Luíse Bello, que vai participar da mesa junto com os repórteres Alexandre Lyrio, Clarissa Pacheco e Thais Borges — responsáveis pela produção do especial —, a promotora Márcia Teixeira, a coordenadora do Serviço Viver, Dayse Santas, o delegado Adailton Adan, titular da 1ª Delegacia (Barris), e o obstetra David Nunes, do Iperba.
“Esse tema vinha tocando não só o MP-BA, mas todo o movimento de mulheres. Quando o CORREIO se propôs a fazer essa série tratando de um tema tão importante, não só para as mulheres, mas para a sociedade baiana, entendemos que seria o momento ideal para uma parceria. É o momento adequado, logo após a publicação do Anuário de Segurança Pública”, afirma, referindo-se o relatório lançado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em outubro.
São muitos os fatores que reforçam a cultura do estupro. Por isso, é importante falar também sobre assédio. Luíse Bello, da Chega de Fiu Fiu, abordará o tema na audiência. “O assédio é mais um braço da cultura do estupro. O que gera o medo do assédio, na verdade, é o medo do estupro. É uma violência a que nós nos sentimos sujeitas. A gente está na rua com medo de ser assaltada, mas, principalmente, com medo de ser estuprada”, diz.
Já a coordenadora do Serviço Viver, Dayse Dantas, diz que a audiência deve chamar a atenção das pessoas para o acolhimento psicológico das vítimas – como mostrou a reportagem Os Caminhos, publicada na sexta-feira e disponível no site . “É para que as pessoas busquem acolhimento no Viver ou em outras instituições, para que consigam recuperar a capacidade de enfrentar a vida. E para que consigam se libertar da dor dessa mágoa, que é dolorosa”.
Aborto legal
Consequências como a gravidez também serão discutidas. Na série, duas mulheres contaram quais foram suas decisões quando se viram diante da situação. Malu*, 16 anos, e Luísa*, 54*, foram estupradas e engravidaram, mas seguiram por caminhos diferentes. Uma abortou. A outra, não.
O aborto é previsto em casos de estupro, no Brasil, desde o Código Penal de 1940. Para o obstetra David Nunes, do Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba), a maior referência no estado em serviço de aborto legal, as pessoas ainda acreditam que lidar com a interrupção de uma gravidez é uma coisa simples. “Isso é uma falácia. É doloroso o atendimento até para quem atende e para quem assiste. Vai marcar a vida da pessoa para a vida inteira”.
Atualmente, a discussão sobre aborto no Brasil enfrenta um momento crucial: tramita, na Câmara dos Deputados, o projeto de lei 5.069/2013, de autoria do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Se aprovado, o projeto classificará métodos abortivos – como a pílula do dia seguinte – como crime contra a vida.
Isso deve dificultar o atendimento das vítimas de estupro, que terão que apresentar provas de que foram estupradas. Em outubro, o projeto recebeu parecer favorável pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Para David Nunes, esse projeto é uma “violência da sociedade contra a própria sociedade”. “As pessoas têm o direito de ser contrárias, mas não pode ser impositivo em relação ao outro. É um retrocesso e uma violência de gênero”.
*nomes fictícios
Correio
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