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sábado, 18 de março de 2017

A imagem que o corpo assume no século XXI: Quanto vale um corpo bonito?

Carla Rocha Ferreira18 de Março de 2017


 
Resumo: A busca incansável pelo corpo ideal, agregada pela imposição social e cultural existente atualmente, revelam uma enorme preocupação. Dentro deste panorama, a imagem corporal se vê prestes a ser distorcida ou ainda banalizada. O presente artigo traz como objetivo realizar algumas considerações referentes à padronização estética de beleza do corpo trazendo para o estudo a importância de profundas transformações ocorridas ao longo do tempo. Busca descrever ainda, quais os motivos que impulsionaram esse padrão e como foram interpretados pelas sociedades, principalmente com relação ao papel da educação física na imagem corporal. Delimitando a pesquisa, faz-se necessária uma breve exposição acerca dessa “ditadura”, já que vive-se numa época em que músculos são sinônimos de saúde e beleza. Conclui-se que a imposição midiática é visível nos dias atuais pois o corpo continua sendo manipulado pelo modo de produção capitalista.

1. INTRODUÇÃO
A ideia da percepção do corpo surgiu no séc. XVI, na França, e este foi o primeiro país a descrever o “membro-fantasma”, ou seja, uma alucinação em que um membro amputado é percebido como ainda presente. Para Freud o corpo seria representado pelas expressões (ego e id). O ego é a instância psíquica que se diferencia do id que é o centro dos impulsos. Já Bonnier em 1905, foi o primeiro a utilizar esquema do corpo, concebendo a soma de todas as sensações do corpo, vindas de fora ou de dentro. Em 1908, Arnold Pick referiu-se a uma imagem mental do corpo, a qual seria formada através de estímulos visuais, de sensações táteis e de movimento.
A partir das premissas relativas aos significados do corpo ao longo da história humana, a constituição das aparências corporais e as consequências dessa busca incessante pelo corpo ideal, além das imposições sociais e culturais, são alguns aspectos que justificam a importância em debater esse tema. Aliás, a temática do corpo sempre esteve na ordem do dia, não apenas nos discursos, mas nas práticas sociais cotidianas, dentre as quais se destaca a hipótese da Educação Física.
Certos produtos e mercadorias podem conter, de forma explícita ou não, padrões de beleza e comportamento aos quais buscamos nos adequar. Será que somos então escravos do consumo, repetindo o que a mídia e a moda ditam? Este é um problema a ser questionado.
Para isso, os objetivos gerais foram organizados de tal forma a garantir uma continuidade na reflexão, tomando como referência três enfoques:
1. As concepções de corpo ao longo da história – associação entre as diferentes visões sobre o corpo ao longo da história e o contexto social de cada época.
2. Uma reflexão acerca dos padrões de beleza estabelecidos na mídia (indústria da beleza) identificando os critérios utilizados para sua definição.
3.  O corpo e a saúde – consequências da busca pelo corpo ideal nos dias de hoje para a qualidade de vida.
No decorrer da história, o corpo passou por diversos ideais de representação. Das cheinhas de Botero passando pelas magérrimas modelos até as musculosas mulheres atuais, a construção da beleza com o passar dos anos foi se modificando. Diante disso, o objetivo específico desta pesquisa é justamente oferecer a possibilidade de refletir sobre a forma como os "padrões de beleza" foram construídos ao longo do tempo e como foram/são interpretados pelas sociedades. Inclusive, salientando o papel da atividade física, e a influencia da mídia sobre a visão de corpo ideal em relação a padronização estética atual.

2. Referencial Teórico
2.1 Os padrões do corpo ao longo do tempo
A antiguidade clássica, entre os gregos, talvez tenha presenciado a primeira tentativa de padronização e idealização da forma humana. A beleza humana era tema de reflexão de filósofos como Pitágoras, para quem o modelo de beleza ideal deveria seguir um padrão matemático, um corpo perfeitamente simétrico e proporcional, assim como nas "justas regras artesanais" preconizadas por Platão. Assim, as belas esculturas produzidas pelos artistas helenos tinham como meta a perseguição da beleza idealizada, em nada relacionada com as imperfeições dos corpos do mundo real.
Durante a Idade Média, a nudez tão presente nas representações da antiguidade desapareceu sob as mais duras interpretações religiosas. Sob ótica cristã medieval, o corpo (sobretudo o feminino) estava intimamente ligado às concepções em torno do que seriam as virtudes morais adequadas. Nesse sentido, o próprio conceito de beleza estava atrelado ao plano espiritual, representando a criação divina, portanto sem qualquer autonomia. As imperfeições naturais do corpo eram relacionadas às imperfeições da alma, ligadas ao que seriam os pecados cometidos.
Em um tempo de sacralização e vigilância do corpo, as figuras de Eva e Maria foram adotadas como símbolos de um paradoxal ideal de beleza. A primeira das mulheres seria um símbolo de beleza ligado ao pecado e à tentação, seria a "beleza mentirosa", uma das formas de representação do próprio mal. Já a Virgem Maria seria a antítese da beleza tida como demoníaca, representando a pureza contida em sua virtude virginal. Essa oposição entre Eva e Maria indicava às mulheres medievais que o padrão de beleza a ser perseguido deveria ser o mais absoluto recato, o que resultou em representações artísticas que apresentavam as mulheres completamente vestidas, com rostos marcados pela passividade, sofrimento e resignação, uma representação do caminho a ser seguido por todas.
Já no Renascimento, as representações em torno do corpo, especialmente o feminino, têm sua liberdade devolvida. Nesse período também ocorreu um retorno à perseguição às medidas perfeitas do corpo, representada em obras como o Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, que estudou profundamente a anatomia humana, aplicando as medidas e proporções consideradas ideais em suas obras. No entanto, ao contrário da rigidez existente na antiguidade clássica, os artistas renascentistas somaram às fórmulas e proporções idealizadas a própria realidade ao retratarem os corpos, principalmente os femininos.
No século XIX, o romantismo proporcionou a construção de um novo padrão estético do corpo humano no mundo das artes, primando pela harmonia e "naturalidade". As mulheres poderiam ser retratadas com cores pálidas, longos e irrequietos cabelos, e mesmo curvas bem aparentes. Nesse período, bem ao contrário de hoje, as mulheres "volumosas" eram consideradas saudáveis, principalmente em relação ao seu futuro reprodutivo.
Também no século XIX, começaram a se disseminar manuais de medicina que indicavam a necessidade da realização de exercícios físicos como forma de se alcançar um corpo considerado ideal, tendo aí o início da relação entre saúde e elegância. Já no século seguinte, o corpo volumoso deixou de ser sinônimo de saúde e de boa aparência. A magreza começava a ser um ideal e, para muitos, verdadeira obsessão, refletida nos filmes que passavam a inundar o mundo a partir de Hollywood. 
2.2 A corporeidade no século XXI
Ao longo da história o corpo foi renegado, rebaixado, na construção de um homem abstrato, feito de ideias, sentimentos e valores. Esse ideal de diversidade se manteve nos séculos seguintes, nos círculos de elite, reforçando a necessidade dos exercícios físicos.  Segundo o antropólogo português Jorge Crespo, até por volta do século XVIII acreditava-se que o corpo era apenas o "irremediável resultado de uma herança genética”.
Aos poucos, com o crescimento das cidades e o surgimento de novas ocupações, o físico passou a ser mais exigido. Por motivos de saúde, de higiene e de necessidade para o trabalho cada vez mais repetitivo e especializado (eram os primeiros sinais da Revolução Industrial), a prática de exercícios deveria ser estendida para a maioria da população e não restringir-se ao esporte de elite. Assim entra o corpo no século XIX.
A corporeidade permaneceu no séc. XXI, sendo o palco expressivo das ideologias, preocupa-se em perder a barriga, aumentar o bíceps, como se as partes do corpo estivessem fora de nós. O homem é seu corpo e, quando age no mundo, age como uma unidade. Esse corpo expressivo não é uma simples coleção de órgãos, não é uma representação na consciência, ele é uma permanência que se vivencia.
O corpo humano, como corporeidade, que se constrói no emaranhado das relações sócio-históricas e que traz em si a marca da individualidade, não termina nos limites que anatomia e a fisiologia lhe impõem. Portanto, a corporeidade é a inserção de um corpo humano em um mundo significativo, a relação dialética do corpo consigo mesmo, com os outros corpos e com objetos do seu mundo. A consciência do corpo é definida como a maneira pela qual a atenção sobre o corpo é distribuída e, as pessoas diferem no quanto elas estão conscientes de seus corpos.  Segundo Guzzo (2005):
“O desejo de construir um corpo belo e forte não é novo na humanidade, novas sim, são as tecnologias que existem hoje para que aconteça essa construção. Anabolizantes, esteróides, suplementos alimentares, técnicas cirúrgicas de correção ou extração de gordura: são infinitas as formas de arquitetar a beleza. Muitas delas, porém, oferecem diversos riscos, desde a possibilidade da não mudança até a morte....Cada vez mais o corpo torna-se uma combinação de próteses, enxertos, metais e outros tantos artefatos que modificam sua estrutura química, física e, sobretudo estética. (GUZZO, 2005 p. 140 e 146).”
2.3 A corporeidade idosa
Desde o princípio da existência até nossos dias, a preocupação com o envelhecimento se faz presente no pensamento de teólogos, filósofos, cientistas, homens e mulheres comuns, buscando, através das gerações sucessivas, um sentido para a vida. Na Grécia antiga, segundo a visão de Platão, ficar velho era o apogeu de uma vida, ao passo que, para Homero, era ela associada à sabedoria. Já Sócrates pregava que, para indivíduos prudentes e bem preparados, a velhice não constituiria peso algum. Aristóteles a via como a decadência de um homem, condicionava a visão a propósito dela com o corpo saudável, dizendo ser uma bela velhice aquela que tinha a lentidão da idade, sem deficiências.
A partir dessas concepções, a atividade física assume, para o ser humano, lugar de vital importância nos dias de hoje, passando a ser vista como elemento primordial na melhoria da saúde diante das diferentes agressões sofridas pelo homem, notadamente a poluição, o estresse emocional, o sedentarismo, somados a problemas sociais que conduzem à diminuição da saúde e, consequentemente, da qualidade de vida. 
A programação e a efetiva realização de atividade física regular assumem papel de extrema importância na interrupção deste ciclo de deteriorização da saúde, considerando que os exercícios físicos podem retardar o curso de algumas modificações orgânicas que trazem prejuízos, e até mesmo interromper a evolução de outras. Além disso, descobriu-se que o Projeto genoma altera toda uma concepção e visão de corpo humano que tínhamos até então e torna possível a pesquisa e elaboração de vacinas e medicamentos que possibilitem a cura, quem sabe a erradicação de doenças.
Conforme RABINOW, KECK (2008), a descoberta de uma doença genética implica em uma nova maneira de se relacionar com o corpo, a identificação com a doença e a todo um destino familiar ligado a ela, produz outra imagem de seu corpo. A predisposição genética para uma determinada doença faz com que o comportamento da pessoa com relação ao seu corpo sofra alterações, por exemplo: uma reeducação alimentar caso se descubra uma predisposição para doenças cardíacas, deixar de fumar se for o caso de predisposição ao câncer do pulmão, permitindo uma medicina preventiva, onde o objetivo não é curar, mas sim evitar o surgimento de determinada doença e de todo o sofrimento ligado a ela na velhice.
Um dos pontos sensíveis, quanto à questão do idosos, é o direito à vida com qualidade, que, ainda quando inserido no mundo do trabalho, é limitado em ação.  Se conscientizar-se o jovem de que ele também vai chegar à velhice, educando-o para esta etapa da vida que todos irão passar, irá se oferecer ao mundo nova visão do que é um envelhecer integrado na sociedade, gozando de direitos e deveres. A discriminação aos velhos é o resultado dos valores típicos de uma sociedade de consumo e de mercantilização das relações sociais.
O exagerado enaltecimento do jovem, do novo e do descartável, além do descrédito sobre o saber adquirido com a experiência da vida, são as inevitáveis consequências desses valores. Se uma das causas da perda da memória, na terceira idade, parece estar associada à pouca irrigação sanguínea para o cérebro, percebe-se cabimento em realçar a necessidade da prática de atividade física para os  idosos. A atividade física bem orientada e planejada, somada a uma boa alimentação em um ambiente sadio, pode proporcionar melhor regulação das funções vitais do corpo.
Nesse sentido, a corporeidade vivida pelo idoso tem restrições, tendo eles consciência disso. Eles enfrentaram o desafio com determinação, vivenciando as diferentes e novas experiências sem a preocupação exagerada com os preconceitos que a sociedade ainda manifesta em relação a seus corpos. É necessário alertar os profissionais que trabalham com esta faixa etária, em especial o professor de Educação Física, para a importância do confiar nas potencialidades do corpo idoso.
Se, por um lado, há limitações próprias do processo de envelhecimento, por outro lado tem de ficar claro que isto não é obstáculo para uma ação consciente.  Corporeidade idosa não é nem pode ser sinônimo de inatividade, de passividade, de falta de referências adequadas par a execução de propostas na área de educação motora. Deve ser vista como ponto de partida, e não como ponto de chegada ou de comparação com padrões “normais”, retirados do mundo adulto produtivo e rentável.
É importante que os idosos percebam que ainda participam de uma sociedade que auxiliam a edificar, embora sua corporeidade evidencie algumas dificuldades. Por outro lado, suas experiências de vida os credenciam a ser referencial para os jovens. O que importa é que os homens possam viver com plenitude, alcançar o auge em boa forma, realizar seu potencial de ser humano com dignidade.
2.4 A influência da mídia          
Cotidianamente os meios de comunicação bombardeiam a população com o que consideram o atual padrão de beleza humana. Mesmo sendo a ideia de beleza carregada de subjetividade, daí a famosa expressão "gosto não se discute", ao longo do tempo foram construídos diferentes discursos em torno da beleza do corpo humano (particularmente o corpo feminino) que resultaram na delimitação de modelos estéticos e serem perseguidos e mesmo impostos.
A reportagem de VEJA sobre a boneca Barbie, intitulada “Ela ainda dá o que falar” é prova disso. Além de um dos brinquedos mais populares desde sua criação, ela transformou-se em ícone cultural e isso ocorreu não somente por conta do enorme sucesso que a boneca teve como objeto de desejo de meninas e adolescentes nas mais diversas culturas.
Como a revista VEJA revela, a boneca nasceu em 1959, inspirada numa boneca alemã e não demorou a tornar-se mundialmente popular, só recentemente se vendo ameaçada pela marca Bratz, nos EUA. A boneca vem sendo criticada desde seu surgimento por diversos motivos, principalmente por promover uma imagem corporal pouco realista para as meninas. A medida da sua cintura, por exemplo, é excessivamente fina, tendo sido finalmente alargada em 1997. A pele clara e os cabelos loiros também deram origem a muitos protestos, por promover um tipo étnico amplamente minoritário.
Conforme GIDDENS (1993), o corpo torna-se, nesse contexto, fonte cada vez mais importante da identidade de um sujeito. Ou seja, o corpo da Barbie chama tanta atenção por que, atualmente, as pessoas são cada vez mais preocupadas com a própria aparência, o que aumenta a importância de cuidar do corpo na nossa cultura. Isso leva à malhação, às tatuagens, a cortes, recortes e implantes de cabelo, cirurgias plásticas etc.
Imprescindível destacar que bonecas como a Barbie, além de ditar tendências, também se adequam a elas. Tais tendências referem-se não somente às roupas, mas também às formas do corpo. Os conflitos em torno da cintura de Barbie, por exemplo, são relacionados aos conflitos em torno de como devemos regular nossos corpos numa sociedade obcecada com a forma física, beleza e cirurgias estéticas.
Dentro desse cenário, a chamada indústria cultural, exerce forte poder sobre o corpo humano e o influencia com uma exposição de exemplos magros e malhados, idealizando estereótipos invejáveis. Por exemplo, no filme Sherek, a autora mostra que há possibilidades de fuga desse contexto, pois ao expor um personagem protagonista de aparência feia, fez o telespectador refletir que não precisa-se de transmutações para agradar os olhos alheios, e o que vale é o caráter moral, estar bem consigo mesmo e não ser uma figura linda visualmente, o que é uma exceção diante da galeria de filmes comerciais que ditam padrões de beleza.                           
2.5 O papel da educação física
Nota-se uma modificação na forma como o corpo vem sendo visto e manifestado ao longo do tempo, sendo que contemporaneamente é observado que este vem servindo de palco para uma busca desenfreada pela beleza, seguindo um padrão ideal. Face ao estereótipo construído nesta realidade, torna-se de suma importância um olhar crítico dos profissionais de educação física sobre esta condição.
Esses profissionais devem ter em consideração, que nem sempre este padrão apresentado, respeita as limitações individuais do sujeito. Estes devem servir como mediadores, agindo de forma crítica no exercício de sua ocupação. Torna-se imprescindível observar, as limitações e especificidades de cada indivíduo presente na sociedade, e até onde seria saudável esta busca desenfreada pelo arquétipo, apresentados pelas diversas representações midiáticas da atualidade.
Desde a época dos primatas o homem praticava atividade física, porém os exercícios evoluíram com o passar dos séculos. As primeiras atividades físicas praticadas pelo ser humano eram fugas de animais predadores e lutas por área e deram início ao que chamamos de esporte. Acredita-se que os gregos e os persas foram os pioneiros na prática esportiva. Os tempos mudaram, mas desde aquela época o ser humano vem se preocupando cada vez mais em ter uma boa qualidade de vida através dos exercícios físicos, além dos efeitos estéticos que eles proporcionam.
Considerado por Breton (2006, p. 9) como fenômeno social, cultural e biológico, eixo de ligação do homem com o mundo, fundamento da existência individual e coletiva, o corpo, nos dias atuais, vem se constituindo como um objeto obscuro, ambíguo e confuso, em razão do discurso da modernidade. Este prima pela apologia do corpo como um objeto, apoiado numa materialidade física, que incorpora em si a forma de mercadoria.
 Nesse sentido, a corporeidade, segundo o autor supracitado, é socialmente moldável, ainda que seja vivida de acordo com o estilo particular do indivíduo. Desse modo, os outros indivíduos contribuem para modular os contornos de seu universo e dar ao corpo o relevo social que necessita. O corpo torna-se, então, um produto, um rascunho a ser corrigido, um acessório da presença, testemunha de defesa usual daquele que o encarna, sendo, assim, a descrição da pessoa deduzida da feição do rosto ou das formas de seu corpo (BRETON, 2006, p. 9).
O corpo, então, é hoje um desafio sociopolítico-econômico importante e diante deste cenário redescobri-lo escreve um movimento que permite re-significá-lo como um potente marcador social da contemporaneidade, e a Educação Física tem um papel fundamental no contexto desse desafio. Tudo isso testemunha que o corpo tornou-se uma referência central, dotado de uma relevância social, suscitando investigações sobre esse fenômeno que especificadamente é objeto de estudo da Educação Física.
A apresentação física de si passa a valer socialmente como se fosse a apresentação moral: pessoas de traços fisionômicos finos, brancas e bem vestidas são vistas como de “boa índole”, angelicais e a elas não seria atribuído nenhum tipo de preconceito ou crime, pois a composição de sua aparência aproxima-se do ideal produzido ideologicamente, e as de traços contrários a esse modelo, estabelecido socialmente, seriam vistas como de “má índole”.
2.6 A Era das mulheres musculosas
O novo padrão de beleza atual é das mulheres musculosas e elas representam a materialização de uma nova estética que vai emergindo das academias e das pistas esportivas e que representa, a seu modo, uma tremenda mudança de valores. É como se as mulheres, cansadas da imagem passiva de fragilidade corporal que lhes foi imputada desde a Antiguidade, resolvessem, por conta própria, invadir a última arena simbólica exclusivamente masculina, a da força física.
Na resistência masculina reside um dos vários aspectos inovadores da nova estética: ela não é uma invenção dos homens. Elas estão inventando uma estética própria, que se opõe aos cânones consagrados da beleza e do bom gosto. O corpo é muito mais importante do que a roupa em nossa sociedade e  é ele que deve ser exibido, moldado, manipulado, trabalhado, costurado, enfeitado, construído, produzido e imitado.  Para isso, a atividade física, mais precisamente a musculação, vem sendo extremamente procurada pelas mulheres de todas as idades.
Molda-se o corpo com grande auxílio da atividade física, dos suplementos e de uma dieta a base de proteína, de modo a padronizá-lo, com maior incisão. No processo de emancipação feminina, a disputa pelas posições que antes eram exclusividade dos homens introduziu na vida feminina um novo padrão de culto ao corpo: a construção do tônus muscular como símbolo de sucesso e autoafirmação. A mulher musculosa afirma-se como uma mulher poderosa, atraente e sedutora na sociedade brasileira.
É preciso lembrar que foi só na década de 1980 que as academias de ginástica se popularizaram. Foi quando surgiram os primeiros torneios do tipo Miss Olímpia (em oposição ao tradicional Miss Universo) e os treinos de musculação entraram na rotina das famosas e anônimas. Foi o rompimento com uma tradição de séculos em que o corpo da mulher era o resultado de fatores alheios às escolhas que ela mesma fazia – como, de resto, quase tudo na vida feminina.
Essas musas fabricadas criam um corpo pós-moderno com peitos de silicone, barrigas definidas pelos exercícios, além de pernas musculosas e bumbuns turbinados. A mulher perde a cintura que definiu a feminilidade durante algum tempo em nossas sociedades e ganha formas e músculos, exemplos disso são as famosas “paniquetes”, que com seus corpos exuberantes e malhados atraem milhões de fãs e conquistaram tanto o público masculino, como o feminino. Essas mulheres fogem do que significou a mulher nos últimos séculos no Ocidente. É a definição de uma nova identidade, em uma nova era.
2.7 Ditadura da beleza
Nunca o culto ao corpo foi tão intenso como nos dias atuais, as preocupações das pessoas em estarem em forma, a procura por medidas ideais, satisfação pessoal, alegria, prazer ou até mesmo motivação na vida tem sido intenso nos últimos anos esses tipos de procuras. As mulheres e os homens se preocupam cada vez mais com a forma física: os quilinhos a mais, a pele, o cabelo, o corpo em geral. Manter uma aparência agradável é, sem dúvida, algo positivo para a vida de qualquer pessoa hoje, pois isso faz com que a pessoa se sinta mais feliz e mantenha uma boa auto-estima.
O corpo sem duvidas é o principal motivo de tanta inquietação, pois a beleza é vista como algo necessário para que alguém possa obter completa felicidade, muitas vezes as coisas mais essenciais na vida são deixadas de lado por causa da busca intensa de um corpo ideal, almejado por tais pessoas, ou seja, o excesso de preocupação, entretanto, pode não ser muito bom e muitas vezes interferem negativamente até mesmo na sua vida familiar e nas relações com as outras pessoas.
Há uma infinidade de pessoas que ficam inibidas ou envergonhadas por estar acima do peso, ter celulite ou não gostar do próprio corpo, muitas pessoas estão dispostas a tudo para alcançar o padrão desejado ou ditado pela moda atual. Pessoas se submetem as dietas rigorosas ou mesmo a inúmeras intervenções cirúrgicas, fazem implantes de silicones tudo para ter um corpo “sarado”, muitas vezes essa procura é apenas para causar impacto e admirações nas outras pessoas.
De nada adianta ter um corpo perfeito se a pessoa não estiver consciente do que realmente conta para uma vida prazerosa e harmônica. E assim vai caminhando a sociedade atual, em busca de um corpo perfeito que venha trazer benefícios pessoais, nos relacionamentos de casais, e também nos relacionamentos sociais. Vive -se uma ditadura da beleza onde o corpo é o alvo de todos os sacrifícios..
Se considerarmos que a existência não pode ser explicada senão por meio das formas corporais que nos situam no mundo e, neste processo, as sociedades, ao longo da história, definiram diferentes “marcas’ ou “inscrições”  neste corpo,  estas,  por sua vez,  precisam ser entendidas em sua característica de provisoriedade”. Ou seja, conforme afirma Couto (2002) citado por Guzzo (2005), alterando essas formas, alteramos também a definição, sempre em construção de sua humanidade.
Vale chamar atenção para o fato de que a construção dos padrões de beleza hegemonicamente aceitos mantém relação com as condições de classe. Na cultura contemporânea podemos confirmar esta afirmação, na medida em que os grupos sociais passam a se distinguir, tanto pela demonstração de riqueza pela posse, quanto de beleza e juventude pelas formas corporais e modos de expressar-se (DAMICO, 2006)
Neste sentido, torna-se importante para a educação física identificar os efeitos que estas tentativas de arquitetar novos corpos provocam na vida cotidiana. Não apenas identificar, como também problematizar os diferentes discursos da mídia que, ao mesmo tempo em que divulga, valoriza e dá destaque a produtos e pessoas que representam os ideais de beleza padronizados, também chama a atenção para os riscos da busca desenfreada por esses ideais, que ela mesma ajuda a construir.

CONCLUSÃO
Existe na sociedade contemporânea uma determinação por autoestima, uma busca inacabável por satisfação, realização e prosperidade. Mas o fator principal é a preocupação com a beleza, a aparência, a maneira como é visto ou rotulado de ‘sexy’. Pode-se observar que todos os videoclips de artistas famosos hoje em dia ditam essa moda, incorporando situações sexuais entre corpos malhados. Nas novelas, no cinema e no vocabulário das pessoas, tudo demonstra essa onda de ser ‘o alvo das atenções’.
 Há vários tipos de vaidade e a forma mais popular atualmente tem sido a dedicação de homens e mulheres na tentativa de adquirir o corpo perfeito, aderindo à alimentação saudável, exercícios físicos, suplementos, meditação espiritual e também a cirurgia plástica. O corpo continua sendo manipulado pelo modo de produção capitalista, os corpos feios, gordos, deficientes são marginalizados, não vendem e não dão lucro, por isso a imposição midiática em relação à padronização estética do corpo humano é visível nos dias atuais.
A corporeidade, contemporaneamente, passa a ser determinada por fatores extrínsecos à vontade do indivíduo. De certa forma, o indivíduo descobre, através do corpo, uma forma possível de transcendência pessoal e de contato. O corpo não é apenas uma máquina inerte, mas um alter ego de onde emanam sensações e sedução. Ele se transforma no lugar geométrico da reconquista de si, um território a ser explorado na procura de sensações inéditas a serem capturadas.
Não se pode esquecer do perigoso discurso midiático que é imposto, apresentado pela figura do ídolo a ser copiado, pois a cultura mostra pressupostos de beleza física constantemente valorizados e colocados como padrão estético, tornando o corpo descartável. Mas há como fugir desse determinismo e não acatar o que é efêmero, descobrindo o que o corpo sente e usando essas influências para saber o tipo e estilo de corpo que queremos.
Deve-se analisar tudo que é imposto e, a partir das identificações feitas, criar a própria identidade corporal num processo de individuação, sem ser “abusado” pelo ambiente social, ou seja, questionar os valores preestabelecidos como corretos, e poder tomar decisões. A Educação Física tem um papel primordial para que mudanças efetivas nos atuais paradigmas que norteiam o corpo possam ser concretizadas e, assim, combater os mecanismos de reprodução dos padrões estéticos referidos e conferir novas formas de interação entre o homem e seu corpo.
No que diz respeito aos padrões indicados às mulheres, ao lado de conquistas de direitos civis, elas se viram alvo de intensa e quase onipresente imposição de modelos estéticos, sobretudo através dos meios de comunicação como o cinema e as revistas que também criam imagens da beleza com partes ideais de corpos.  Muitas mulheres no Brasil e no mundo alteram seios, nádegas e outras partes do corpo para adequar-se a padrões estéticos. Esses padrões mudam de acordo com a época ou a moda. Isso não é apenas uma preocupação superficial com a aparência, mas determina também as identidades e as formas de relacionamento atuais. 
O que passa pela mente das mulheres que gastam horas de seu dia para montar tal corpo vigoroso e definido? O que as leva a enfrentar privações e uma rotina aborrecida pelo prazer de exibir um corpo bonito? Seria esse um gesto radical de autoafirmação ou apenas a forma mais extrema de subordinação à estética da saúde? No Brasil, é o corpo, e não o figurino, que entra e sai da moda, a roupa é apenas um acessório para a valorização e exposição desse corpo.
A descoberta do mapa completo do genoma humano altera toda uma concepção e visão de corpo humano que tínhamos até então, torna possível a pesquisa e elaboração de vacinas e medicamentos que possibilitem a cura, quem sabe a erradicação de doenças. O corpo, então, desvenda um campo infinito de possíveis pesquisas e a esse respeito, o homem só será “libertado” quando qualquer preocupação com o corpo estiver desaparecida. E isso algum dia acontecerá?

Referências:
BONFIM,Tânia Regina.Corporeidade e educação física.Revista Educação Física UNIFAFIBE /Centro Universitário UNIFAFIBE – Bebedouro.SãoPaulo, Ano I – n. 1 – set. 2012.
BRETON, David Le. A sociologia do corpo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.
DAMICO, José Geraldo Soares, MEYER, Dagmar Estermann. O Corpo como Marcador Social: saúde, beleza e valoração de cuidados corporais de jovens mulheres.  Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, p. 103-118, 2006.
GIDDENS, Anthony. A Transformação da Intimidade: amor & erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Editora Unesp, 1993.
GUZZO, Marina. Riscos da beleza e desejos de um corpo arquitetado.  Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, p. 139-152, 2005.
RABINOW, Paul; KECK, Frédéric - Invenção e Representação do Corpo Genético –Petrópolis, Vozes, 2008. 
SIMOES, Regina. Corporeidade e terceira idade: a marginalização do corpo idoso. 1998. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Metodista de Piracicaba, SP: Unimep, 1998.
VERNIER, Érica. Curvas- O novo padrão de beleza. Sessão-Beleza, matéria nº 237. Disponivel em: <http://www.universodamulher.com.br/index.php?mod=mat&id_materia=237> Acesso em: 06-07-16.
Carla Rocha Ferreira
Bacharel em Direito pela FURG

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