O verão é a época em que muitos aproveitam para viajar e curtir as férias com amigos e familiares. Neste período, além dos aeroportos mais cheios, o fluxo nas estradas também aumenta.
É justamente no ambiente das rodovias, principalmente nos postos de combustíveis com espaço de parada e descanso, que uma perversa violação dos direitos de crianças e adolescentes pode acontecer.
A exploração sexual faz parte dos "serviços" oferecidos, na maioria dos casos, por aliciadores. Nesse começo de ano, quando estiver na estrada e fizer sua parada, fique atento.
No mapeamento realizado pela Polícia Rodoviária Federal, entre 2013 e 2014, 1.969 pontos vulneráveis de exploração sexual de crianças e adolescentes foram identificados nas rodovias federais do Brasil.
Desse total, 566 foram considerados pontos críticos; 538, com alto risco; 555, com médio risco; e 310 pontos avaliados como de baixo risco. O mapeamento abrangeu em torno de 65 mil quilômetros de rodovias federais, distribuídos pelo país.
Batizado de Projeto Mapear, o estudo auxilia o desenvolvimento do programa Na Mão Certa, lançado em 2006 pela organização Childhood Brasil para reunir esforços e mobilizar governos, empresas e organizações da sociedade civil no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras.
Nos dez anos do programa, mais de 1 milhão de caminhoneiros já foram sensibilizados para atuarem como agentes de proteção. Em 2015, pesquisa encomendada pela Childhood Brasil sobre o perfil do caminhoneiro no país revelou o aumento dessa consciência.
Quando questionados se já saíram com crianças ou adolescentes, 87,3% dos entrevistados disseram que não, contra 82,1% na pesquisa de 2010 e 63,2% na de 2005.
Conquistar o apoio dos caminhoneiros é uma tarefa contínua, na qual é fundamental o engajamento das empresas que utilizam o transporte rodoviário de carga. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 87% da economia do Brasil transita por rodovias.
O problema da exploração sexual nas estradas deve ser enfrentado por toda a sociedade. Cabe ao poder público fazer valer a portaria 944 do Ministério do Trabalho, que trata das condições sanitárias dos locais de parada e descanso.
Após interlocução da Childhood Brasil, a portaria tem um artigo que determina a restrição do acesso de crianças e adolescentes a esses locais, exigindo identificação dos pais ou dos responsáveis legais.
A responsabilidade sobre o problema também recai em cada cidadão que, neste verão, trafegará pelas estradas do país em busca de diversão, lazer e descanso.
Não podemos fingir que não é conosco. Ao parar na estrada para um simples café ou lanche, lembre-se de que nessas circunstâncias a exploração sexual pode se manifestar. Olhe em volta. Caso suspeite de uma situação de risco, não hesite; denuncie, disque 100 - o serviço de atendimento telefônico gratuito do Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.
EVA DENGLER é gerente de programas e relações empresariais da Childhood Brasil, organização que atua na proteção da infância e adolescência
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