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sábado, 1 de abril de 2017

“Meu Corpo, Minha Vida”: documentário levanta a bandeira da descriminalização do aborto no Brasil

30.03.2017 - POR DANIELA CARASCO

O filme de Helena Solberg, que será exibido pelo GNT, se debruça sobre o caso da carioca Jandyra Magdalena dos Santos, que morreu em 2014, aos 27 anos, em uma clínica clandestina no Rio de Janeiro, enquanto tentava interromper sua terceira gravidez. “Enquanto estamos debatendo a descriminalização do aborto, mulheres estão morrendo”, disse a cineasta à Marie Claire

Uma mulher morre a cada 9 minutos no Brasil em decorrência de abortos clandestinos. Estima-se que, por ano, uma milhão de brasileiras se submete à interrupção da gravidez de maneira ilegal. Nas ruas, feministas clamam pela descriminalização da prática, enquanto no Congresso políticos se unem para impedi-la a qualquer custo. Diante de um cenário tão brutal, Helena Solberg fez o documentário “Meu Corpo, Minha Vida”, que será exibido nesta quinta (30.03), às 23h30, no canal GNT.

“Enquanto estamos debatendo a descriminalização do aborto, mulheres estão morrendo”, disse a cineasta em entrevista à Marie Claire. Para apresentar esta realidade de maneira franca e reflexiva, Helena se debruçou sobre a história da jovem carioca Jandyra Magdalena dos Santos, que foi morta em uma clínica clandestina no Rio de Janeiro, em 2017, quando tinha 27 anos e pretendia interromper sua terceira gestação. O caso ganhou repercussão mundial e jogou luz sobre a realidade dramática de muitas brasileiras.

Jandyra foi uma personagem icônica, “vítima do discurso religioso que contaminou as políticas públicas brasileiras”, diz a jornalista Flávia Oliveira, que participa do filme. A jovem reunia vários elementos que dão tanta complexidade ao tema: moradora da periferia, de família religiosa, mãe de dois filhos, separada e que engravidou pela terceira vez por acidente. “Diante do dilema de embarcar na carreira profissional ou em mais uma gestação, ela recorre ao procedimento realizado de maneira clandestina e ainda precisa lidar com sintomas de depressão decorrentes de uma decisão absolutamente solitária”, explica Flávia. “Ela é muito simbólica por ter passado por todos os problemas que as mulheres não deveriam passar, se não fosse esse debate hipócrita e cínico que tomou conta da sociedade e da política.”

Para não parecer militante demais, mas ao mesmo tempo se posicionar a favor da descriminalização que pode salvar a vida de muitas mulheres, Helena procurou ouvir opiniões contrárias, que dessem um panorama bem completo sobre o assunto – do Pastor Silas Malafaia ao ministro do STF Luís Roberto Barroso, que decidiu que aborto nos três primeiros meses de gravidez não é crime, passando pela família de Jandyra e por uma jovem brasileira que realizou o procedimento na Alemanha com todo o aporte do governo local.

Em pouco mais de uma hora, o documentário, que trata até da indefinição sobre o início da vida, deixa claro o quanto o tema ainda é fortemente impactado por questões morais e religiosas. “O que precisa ficar claro é que não é um debate sobre ser contra ou a favor, mas de políticas de saúde pública que envolve uma gama de ações não só de direito ao aborto, como também de acesso a contraceptivos, atendimento psicológico, educação sexual, orientação de planejamento familiar...”, diz Flávia. “Isso sem contar ainda uma outra grande problemática que está presente no discurso de quem se posiciona contra a descriminalização que é a de transformar a maternidade em um castigo para aquela mulher que engravidou sem querer. Se você acha que são pessoas sem condições morais e responsabilidades de assumir um compromisso, como é que a punição a elas é levar a gravidez adiante e ter o filho? É absolutamente contraditório.”

O filme mostra ainda a maneira empoderada com que um grupo cada vez maior de feministas tem se organizado para ir às ruas e lutar não só por mudanças, mas também para barrar o avanço de agendas mais conservadoras encabeçadas principalmente pela bancada evangélica no Congresso.

“No fundo, a criminalização do aborto é o melhor exemplo da negação da liberdade das mulheres. Ter ou não ter um filho? Essa escolha é dela e de mais ninguém. Nenhuma lei tem o direito de impor a uma mulher ter um filho, como também não tem o direito de impor que ela não o tenha, como é o caso, por exemplo, das políticas de esterilização. Portanto, decidir, ‘vou ou não vou ser mãe’, é a manifestação de uma liberdade” diz a escritora Rosiska Darcy de Oliveira, no documentário. “A história das mulheres é a história da negação da liberdade e é também, sobretudo recentemente, a história da conquista desta liberdade. Nós estamos brigando por isso há mais de dois séculos. Nosso corpo é nossa vida, e a nossa vida nos pertence”, encerra.

Marie Claire

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