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quinta-feira, 16 de maio de 2013


A escola do futuro e a favela na Índia

Denis Russo Burgierman

Sugata Mitra é um indiano rechonchudo e sorridente, que em 1999 dava aulas de programação de computadores numa área pobre de Nova Delhi, ao lado de uma grande favela. Foi naquela época que ele resolveu fazer um experimento. Abriu um buraco no muro da favela, colocou um computador no buraco e deixou as crianças brincarem com ele. Uma delas se aproximou e perguntou: “o que é isso?” Ele sorriu, respondeu que não sabia e foi embora. Quando voltou, poucas horas depois, aqueles garotos que não falavam inglês, nunca tinham tocado num computador e não sabiam o que era internet já tinham aprendido a navegar.

Ao longo dos anos que se seguiram Sugata aprofundou suas pesquisas e foi descobrindo que crianças, desde que tenham acesso a boas ferramentas e que sejam instigadas e encorajadas por educadores, são capazes de aprender sozinhas as coisas mais complexas. É como uma menininha de um vilarejo miserável do interior da Índia disse a ele, quando ele perguntou como ela foi capaz de entender um website em inglês: “você nos deu uma máquina que só funciona em inglês, aí tivemos que ensinar inglês a nós mesmos.” É assim que o aprendizado acontece: dê um problema e os meios para resolvê-lo, e afaste-se.

Sugata virou um defensor ardoroso da ideia de “educação minimamente intrusiva”. É muito simples: proponha perguntas desafiadores para as crianças, dê a elas boas ferramentas (no geral digitais), encoraje-as, elogie seus esforços. Se você fizer isso, a educação acontece sozinha.

No começo deste mês, encontrei Sugata na Califórnia. A vida mudou para ele nestes 14 anos, desde as pesquisas nas favelas da Índia. Quando o vi, ele estava no alto do monumental palco do TED, a conferência anual de “ideias que merecem ser espalhadas”, agradecendo pelo TED Prize, no valor de 1 milhão de dólares, que ele recebeu para “desenhar a educação do futuro”.Depois fui falar com Sugata nos bastidores. Ele contou que o dinheiro será usado para construir espaços para o aprendizado mundo afora (os chamados SOLE, sigla inglesa de “Ambientes de Aprendizado Auto-Organizado”) e para erguer uma infraestrutura digital para dar desafios e encorajamento para os alunos do mundo inteiro. Um dos projetos que já está em andamento é a “Granny Cloud”, ou nuvem de vovós: uma rede de senhoras britânicas que doam horas de trabalho para ajudar na educação de crianças indianas. Tudo o que elas têm que fazer é ouvir o que as crianças aprendem e encorajá-las com exclamações do tipo “uau, como você descobriu isso?” Esse mínimo estímulo tem resultados excelentes no aprendizado.

É claro que as ideias de Sugata são controversas. Há quem ache que suas teses desvalorizam ainda mais a combalida carreira de professor. Afinal, se educação é algo que acontece sozinha sob as condições certas, professores tornam-se desnecessários, certo?

Errado, claro. Crianças largadas aos seus próprios interesses dificilmente aprenderão algo: tudo o que elas conseguirão é destruir o tal “ambiente”. O aprendizado só acontece se houver alguém propondo desafios e elogiando os avanços.

Mas é fato que o papel do professor terá que mudar radicalmente, se as ideias de Sugata estiverem certas – e tudo indica que estão. Não se trata mais de padronizar o conhecimento que todas as crianças de todas as escolas terão que absorver – como funciona hoje, com currículos impostos pelo governo que não deixam nenhum espaço para a descoberta. No futuro, a educação não será mais simplesmente absorver conteúdo: será resolver problemas. Sugata exemplifica: “hoje a escola ensina a calcular a tangente de um círculo. No nosso modelo, propomos um problema real: um meteorito se aproxima da Terra e precisamos calcular uma forma de desviá-lo.” O aprendizado sobre a tangente do círculo se dá do mesmo jeito, mas de maneira quase imperceptível, no processo de resolver um problema.

É como disse um outro palestrante do TED deste ano, o neurocientista Stuart Firestein: “educação não é encher baldes, é acender fogos”. Não precisamos mais criar pessoas padronizadas, cada uma delas com o conhecimento idêntico das outras. Precisamos é estimular cada pessoa do mundo a resolver problemas do seu jeito, para que a próxima geração seja capaz de descobrir novos jeitos de pensar. Precisamos urgentemente deles.
Sugata recebe o prêmio de sir Ken Robinson, o educador britânico
famoso pela palestra na qual afirma que "a educação está matando
a criatividade"
http://super.abril.com.br/blogs/mundo-novo/2013/03/25/a-escola-do-futuro-e-a-favela-na-india/

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