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sábado, 18 de maio de 2013


Estupros lideram casos de violência sexual contra crianças no Pará


Enfrentamento deve ser compromisso da sociedade, diz delegada.

Quase 1.500 casos de abuso sexual foram registrados em 2012 no estado.

Do G1 PA

Segundo a delegada Simone Edoron, combater a violência sexual contra crianças e adolescentes exige um compromisso de toda a sociedade (Foto: Ingo Müller/ G1)
Segundo a delegada Simone Edoron, combater a
violência sexual contra crianças e adolescentes
exige um compromisso de toda a sociedade
(Foto: Ingo Müller/ G1)
O dia 18 de maio é o Dia Nacional de luta contra o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. No Pará, a data será marcada por uma série de ações do governo através das prefeituras e do sistema de segurança pública do estado, que terá o envolvimento de ongs e entidades de defesa dos direitos humanos para reforçar a importância da sociedade na luta contra a exploração sexual.

Segundo a Polícia Civil, a maioria dos crimes sexuais cometidos contra crianças e adolescentes são estupros: entre 2004 e 2012 foram 7.704 casos - um número considerado elevado, mas que pode esconder uma realidade muito pior já que muitos crimes sequer são denunciados. Apenas no ano passado, pelo menos 1.409 crianças e adolescentes foram vítimas de abuso sexual no Pará, que registrou sete casos de tráfico humano com a finalidade de exploração sexual no mesmo período.

Estas ocorrências são apuradas por Delegacias Especializadas no Atendimento em Crianças e Adolescentes (Deacas), que fazem parte do programa Propaz integrado e da Divisão de Atendimento a Vulneráveis (DAV) da Polícia Civil. O G1 conversou com a delegada Simone Edoron, diretora da DAV, que garante: na maior parte dos casos, quem abusa das crianças e adolescentes costuma ter algum grau de intimidade com as vítimas.

G1 - Quais as principais ocorrências de violência contra crianças e adolescentes no estado?
Simone Edoron - Sem sombra de dúvida a nossa maior incidência de violência sexual contra crianças e adolescentes ainda é o abuso sexual. A violência sexual tem várias tipologias, é o abuso sexual, a exposição, a exploração... mas o abuso sexual, principalmente com a característica  intrafamiliar, representa a maior quantidade dos nossos atendimentos.

Se a violência ocorre principalmente em casa, como a polícia faz o enfrentamento destas situações, já que é impossível termos policiais dentro das residências?A polícia consegue identificar um perfil de quem comete este tipo de crime?
Não há um perfil. Essa é uma das dificuldades do enfrentamento. Não podemos chegar e afirmar para a comunidade ter cuidado com determinados perfis físicos ou emocionais. Quem abusa pode ser um homem educado ou um homem rude, uma pessoa com posses financeiras ou sem, pode ser alto, baixo, magro gordo, é impossível definir um perfil para identificação.

Quem abusa de crianças e adolescentes costuma estar próximo das vítimas?
Quem abusa está dentro de casa. A violência sexual não está mais na rua. Não existe mais aquela situação do “Jack Estripador”, que ataca sorrateiramente a donzela que passa na rua. Claro que existe violência sexual em vias públicas, mas a incidência contra crianças e adolescentes é intrafamiliar na  figura do pai, do padrasto, do avô, do tio, de uma pessoa que tem uma relação de convivência íntima e pessoal com a família e com a criança.
As delegacias especializadas tem muito a característica de serem uma polícia que faz a prevenção. Não tem como hoje você reprimir a violência sexual contra crianças e adolescentes sem educação, informação, zelo, cuidado e denúncia. Hoje a gente percebe que as pessoas têm que fazer seu papel: pais, mães, família e comunidades têm que denunciar se perceberem uma alteração de comportamento na criança, uma sexualidade exacerbada. A denúncia pode ser feita pessoalmente, ou através dos canais de denúncia anônima como o 181 da Polícia Civil e o "Disque 100" da Secretaria de Direitos Humanos.

E com relação ao tráfico de pessoas? Tivemos um caso emblemático em Altamirano sudoeste do Pará, quando uma adolescente explorada denunciou o crime. Isto é comum?
Em relação especificamente ao tráfico é muito mais comum terceiros denunciarem, seja a família ou a própria sociedade. É bem raro a denúncia partir da vítima - este caso em Altamira foi a única situação que registramos em que a vítima chegou denunciar. Geralmente se trata de um adolescente em fuga, a família registra uma ocorrência de pessoa desaparecida e, quando a gente vai investigar, descobre que se trata de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. A novela (Salve Jorge, cuja protagonista foi traficada para a Turquia) tem ajudado muito neste sentido, provocado um debate sobre o tema e fazendo com que famílias procurem ter contato com parentes que estavam distantes, verificando a condição dessas pessoas.

Este tipo de crime é comum no Pará?
Nós já temos um índice significativo de atendimentos referentes a este tipo de exploração. O Pará é um dos estados brasileiros que mais tem apurações criminais de tráfico de pessoas. Os números não chegam a ser alarmantes, mas existem poucas notificações da situação. Geralmente o nosso atendimento envolvendo adolescentes para fins de exploração sexual envolve pessoas que viajam com a expectativa em busca de uma vida melhor, de fazer uma mudança no corpo como colocar silicone e apliques nos cabelos. Essas pessoas não conseguem nem se identificar como vítimas até que a realidade seja exposta e eles se vejam numa situação de cárcere ou ameaça, porque criam uma expectativa muito grande naquele sonho.

Ainda existem muitas ocorrências de exploração sexual em paradas de caminhão e postos de gasolina no Pará?
A Polícia Rodoviária Federal divulgou um balanço dos pontos críticos identificados através de um estudo, e aponta que a BR 316 continua sendo um dos pontos de preocupação pelo índice de caminhoneiros que transitam lá, e isto acaba fazendo a rodovia ser propícia para a questão da exploração sexual.

A Polícia Civil trabalha de que forma para impedir os crimes sexuais que são facilitados pelas novas mídias?
Tanto a diretoria quanto as unidades especializadas de proteção estão em contato com a Delegacia de Crimes Tecnológicos, porque hoje a tecnologia é muito utilizada para pornografia infantil. São ocorrências como exposição de crianças e adolescentes em situações de pornografia. Precisamos ter esse contato estreito e essa parceria porque o enfrentamento não pode ser feito por um órgão só. Temos que formar uma rede para enfrentar essa violência, senão ninguém vai conseguir.

Quem recebe este material tem consciência de que comete um crime?
Falta consciência para enxergar o que está correto. Por isso fazemos programações junto a escolas. O adolescente que compartilha estas imagens encara como uma reação de brincadeira - mas hoje todos têm celular e, quando a gente vê, a imagem ou vídeo se disseminou. As pessoas não conseguem ver que a ação coletiva de um grupo é prática de um crime. Manter pornografia infantil e repassar para terceiros é crime. As pessoas vinculam o crime a quem produz esse material, mas simplesmente manter em casa ou no celular é um crime.

Serviço: Para denunciar crimes contra crianças e adolescentes de forma anônima basta ligar para o telefone 181, da Polícia Civil, ou 100, da Secretaria de Direitos Humanos. Fora do Brasil, o número é +55 61 3212.8400. Também é possível denunciar através do site da Secretaria de Direitos Humanos.

http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2013/05/estupros-lideram-casos-de-violencia-sexual-contra-criancas-no-para.html

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