Médicos escutam o coração partido após uma separação e sugerem quais medicamentos tomar para aplacar a dor
por Rogério Tuma
Existe um argumento ético sobre se os médicos devem ou não prescrever remédio para controlar oscilações de humor e sentimentos normais, mas na medida em que o término do relacionamento pode despertar pensamentos suicidas ou delirantes, a medicina pode e deve ajudar.
Para a ciência, o amor é um fenômeno biológico que pode ser de três subtipos, a paixão, a atração e a ligação afetiva com o objetivo principal de procriar para manter a espécie e aumentar as chances de sobrevivência dos envolvidos, pois dois lutam melhor que um. Todos esses sentimentos estão relacionados a circuitos neuronais onde há predomínio de um neurotransmissor e, portanto, para modular esses circuitos é preciso controlar o nível desse neurotransmissor dentro do cérebro ou de preferência apenas nas regiões interligadas pelo circuito.
Paixão, por exemplo, é um sentimento intenso que torna o indivíduo obcecado pelo outro. Essa condição é muito semelhante ao transtorno obsessivo-compulsivo, o TOC, em que o indivíduo tem uma compulsão a repetir um comportamento, como contar objetos, lavar as mãos ou testar as travas das portas diversas vezes antes de sair de casa. Um estudo da doutora Donatella Marazziti comparou o cérebro de 20 indivíduos apaixonados com o de 20 pessoas com TOC e descobriu que os dois grupos apresentavam baixos níveis de uma proteína transportadora de serotonina dentro do cérebro, tornando seu nível mais baixo que o normal. Depois de um ano, quando não estavam mais obcecados pelos parceiros, os cérebros dos apaixonados foram testados novamente e descobriu-se que o nível dessa proteína havia voltado ao seu normal, assim como o de serotonina. Os novos medicamentos antidepressivos que aumentam os níveis de serotonina melhoram o comportamento de pessoas com TOC, e podem modular as reações de humor e inibe as ligações afetivas, podendo ser utilizados para minimizar o sofrimento na hora da separação.
O doutor Larry Young, da Universidade de Atlanta, na Geórgia, administrou uma droga que bloqueia a ação da oxitocina no sistema nervoso em ratazanas-da-pradaria, Microtus ochrogaster, famosas por sua fidelidade (casais são formados e não se separam por toda a vida, é claro que a vida desse roedores dura apenas dois anos, mas, durante todo esse tempo o casal está sempre junto, um cuidando do outro, e ambos cuidando da cria e do ninho).
Et voilá, a droga acabou com o casamento das ratazanas-da-pradaria, todas se tornaram poligâmicas. O mesmo pesquisador também assegura que, se reduzirmos o cortisol no sangue, um hormônio liberado quando ocorre algum estresse, há redução de oxitocina e as ratazanas deixam de manifestar um comportamento depressivo quando seu parceiro morre.
Helen Fisher, da Rodgers University em New Jersey, vai mais além. Ela está envolvida em pesquisar os mecanismos neurais de quando o amor termina. Por exemplo, quando alguém está definhando após o término de um relacionamento amoroso, ocorre uma hiperatividade em um grupo de neurônios chamado pálido ventral, que também está relacionado à ligação afetiva. Quando a falta da pessoa amada não é mais tão sofrida, essa área do cérebro volta ao normal e a tristeza vai embora.
Enfim, existem medicamentos na prateleira que podem tornar as pessoas mais imunes às perdas afetivas, mas seu uso corriqueiro e “preventivo” tem um custo. Reduzir a chance de ligação afetiva, pode também tornar as pessoas mais antissociais e dificultar relacionamentos interpessoais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário