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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

GUEST POST: O AMBIENTE MACHISTA DA PROGRAMAÇÃO

"Quando os anos 50 aconteceram pro nosso diretor: Gostaria que pudéssemos ficar aqui pra sempre"

Já faz um tempinho que leitoras (e leitores também) me enviam denúncias de como as mulheres são discriminadas na programação, na área da Tecnologia de Informação.

Uma história chocante que li foi a de uma jovem que foi fazer um curso técnico. Era a única menina da sala, junto com 15 meninos. Ela era a melhor da turma, o que fez com que alguns passassem a sabotá-la: todos os dias ela tinha problemas com seu computador. Precisava reformatá-lo ou trocar peças do hardware. 

Quando reclamou com o professor, ele disse que aquilo era apenas brincadeira de moleque. O instituto nada fez contra o assédio moral que sofreu, e ainda lhe negou uma bolsa de estudos. Ela acabou deixando a área.

Faz três anos, um leitor me escreveu recomendando este site, e acrescentou: "Não é difícil perceber a predominância de homens em cursos de engenharia como o meu (Engenharia de Computação na Unicamp, uma turma de mais de 90 alunos com 6 mulheres). A piada mais comum é que as mulheres de nosso curso são homens e não contam. 

"Como em outras áreas do mercado de trabalho, a mulher sofre preconceito na área de TI, talvez até mais. Por quê? Acredito que nosso curso não é algo claro durante o ensino fundamental e médio. Existem pessoas que perguntam se fazemos sites ou consertamos computadores. Junte a isso o fato de engenharia ser considerado um curso de homens e computadores um interesse de meninos nerds que passam seus dias jogando online".

Ano passado, uma leitora que trabalha com TI me escreveu: "Sou muito feliz com o que faço e conheço pessoas maravilhosas na minha área. Mas, é impossível não notar. Na equipe que trabalho hoje, são 20 homens e 3 mulheres (o que é bastante, acredite). É provavelmente uma das melhores equipes com quem trabalhei, somente a diferença numérica me assusta. 

"No entanto, ao longo da minha experiência, pude vivenciar diversos tipos de preconceito. Cantadinhas, piadinhas, 'mansplainning', salários menores, falta de reconhecimento e até mesmo casos de assédio". 

Ela me recomendou este ótimo tumblr, de onde tirei a maior parte das imagens usadas para ilustrar o post.

Agora foi a vez da jovem programadora Priscila, conhecida como @MayogaX, me enviar o guest post que publico a seguir.

Quando eu estudava programação no ensino técnico havia muitas poucas meninas, no fim do curso menos ainda. O mesmo aconteceu na faculdade, e curiosamente o inverso ocorreu no mestrado, mais mulheres! Porém, antes de tudo, lá no ensino técnico os meus colegas me diziam que eu nunca deveria seguir na carreira -- onde acabei de completar quatro anos profissionais.

Confesso que foi complicado, muitos homens ridicularizavam mulheres, diziam que não éramos capazes. Quando meu namorado na época quis me ajudar a arrumar um estágio, recebi um não da empresa dele; afinal, mulheres não podiam trabalhar com tecnologia.

Durante muito tempo ouvimos que homens são melhores com matemática e ciências exatas, que mulheres não entendem de tecnologia, e isso acabou fazendo com que muitas desistissem dos cursos e da carreira. Achei que era algo isolado, mas em uma empresa que trabalhei meu chefe explicou que não fazia entrevista com gays para a proteção deles, então percebi que era algo muito mais profundo, não algo somente contra mulheres.

Meu ex-chefe explicou que quando via o rapaz tendo algum jeito “feminino” nem entrevistava, mandava embora. Segundo ele era para a segurança do rapaz, para não expô-lo a seus funcionários machistas. Achei uma falácia sem tamanho.

Muitos dos recursos tecnológicos foram feitos por homens para homens. Curiosamente algumas pessoas e empresas perceberam isso e resolveram que as mulheres precisam começar a atuar em tecnologia. Muitas empresas grandes como Microsoft, Intel, Google, entre outras, começaram com campanhas para atrair mulheres para o desenvolvimento. Microsoft teve um concurso de aplicativos em 2012 para mulheres, somente para elas, o que eu achei um tamanho sucesso. Há um grupo brasileiro chamado Mulheres na Tecnologia que cria eventos para mulheres, para desmistificar a área para elas, outra ótima frente.

Mas, adivinhe, muitos homens foram contra.

As explicações eram várias: “vocês estão sendo preconceituosas”, “não podem segregar assim”, “que absurdo, e os homens?”. Algo muito semelhante aconteceu no final do ano com o barulho do app Lulu versus Tubby, que foi um app real, tenho testemunhas sobre o desenvolvimento do aplicativo e da péssima habilidade técnica de seu criador, mas isso só reflete esse ponto.

Em abril de 2013 fui convidada a organizar um evento chamado Google Developers Group DevFest W, voltado para mulheres. Foi uma ótima experiência. Teve uma palestra com uma doutora sobre o machismo no mercado de trabalho, outra com uma funcionária do Google contando sua trajetória, Suelen Carvalho falando sobre desenvolvimento de apps pro android, entre outras.

Homens puderam participar do evento, porém somente mulheres podiam palestrar. Foi extremamente difícil achar palestrantes, afinal, há poucas mulheres, e as que tem, têm receio de aparecer em ambientes masculinos.

Posso dizer que esse foi o principal motivo para a criação do evento. Homens não entendem por que mulheres têm medo deles, mas têm. Eu participo de muitos eventos de tecnologia e a maioria é machista. Mulheres de collant entregando prêmios, meninas, participantes que estão assistindo as palestras, cercadas por rapazes com olhar de maníaco do parque...

A homofobia e o machismo (nessa ideia que o homem branco pegador heterossexual é superior) estão ligados à tecnologia. E o racismo também. Um caso famoso era um determinado item que permitia um vídeo game não reconhecer negros no inicio. Mas essa é outra longa história.

Termino com: tecnologia prefere o homem branco. Mas espero que vocês ignorem isso e façam o que quiserem (não prejudicando ninguém). Não deixe que uma pessoa diga que você não pode trabalhar na área por gênero, cor ou orientação sexual. Vá em frente, mude o mundo. E se não mudar o mundo, ao menos viva melhor no seu próprio mundo.

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