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quarta-feira, 12 de março de 2014

Estou grávido de 8,8 meses

Paulo Darcie

De repente, estou grávido de 8,8 meses. Durante esse período, me dediquei a uma arte que eu não imaginava ser tão instigante: a arte de se preparar para ser pai. O exercício é diário, exige a atuação em várias frentes diferentes e há diversas ferramentas a que podemos recorrer. Dentre elas, a literatura. E foi com ela que veio a primeira impressão de que há um bocado de coisas mal contadas nessa história de virar pai.

Confesso que não pus abaixo o acervo da Mário de Andrade, mas o pouco com que me deparei tratava quase exclusivamente da mãe e de sua relação com o bebê. Tudo ok, se o capítulo solitário dedicado ao pai não desse um recado equivalente a: "como fica o pai? ah, ele tem os amigos, o bar e o futebol para ajudar".

Não que eu não goste de uma pelada, nem que eu não tenha amigos, mas a maior parte dos meus amigos corroboram a tendência evidente nos últimos censos de se casar tarde e ter filhos muito tarde. Tenho 30 anos e poucos chegados na mesma situação. Nesse período, senti em várias ocasiões que não tinha fácil, à mão, um foro adequado e convidativo para dividir minhas dúvidas, angústias e incertezas - ao contrário das felicidades. Futebol e bar, coisas de macho, foram saindo gradativa e naturalmente do meu radar à medida que fui trocando de prioridades e me entendendo em uma nova fase - o que prova que a literatura consultada pouco se prestou a compreender o que acontece na vida do homem depois que gametas se encontram.

Esse e outros sinais de que eu deveria encontrar um espaço para debater (monologar?) que raios é ser pai me cutucaram durante toda a gestação. Inúmeras decisões tomadas no meio do caminho me fizeram refletir ou boiar em devaneios que ainda podem ser aproveitados aqui. Qual o nome da nenezinha? Por que branco, e não rosa? Precisamos de tudo isso? Como se escolhe um padrinho? É preciso de um?

O derradeiro veio por acaso quando, no trabalho, falava por telefone com uma recém-mãe. Quando contei que eu teria uma filha, ela logo me perguntou: "Sua mulher já fez o quadrinho da porta da maternidade?" Péra aí, péra aí, minha jovem. Por que "minha mulher"? Por que "já"? Por que "o quadrinho"? E por que não "vocês fizeram alguma coisa para colocar na porta da maternidade?" aberto para respostas plurais, criativas e até para um sonoro "não"?

Apesar de a resposta, nesse caso, ser adequadíssima à pergunta e confortável para quem perguntou (ou seja, "sim, ela já fez"), esse papo me levou a pensar em quanto os passos e decisões que eu e minha esposa vamos tomar em relação à criação da nossa filha devem ser adequadas a algum padrão e quanto elas podem ser surpreendentes.

Trocando em miúdos, estou mesmo é sem saber se devo fazer o que acho que devo ou se devo fazer o que dizem por aí que devo nos próximos todos os anos da minha vida. Estou sem saber se a criação de uma filha tem um roteiro pré-definido e, se tiver, quanto respeito devemos a ele. Enquanto ela não chega, prefiro acreditar que vou ser capaz de inventar um caminho gostoso para encarar o que vem pela frente. E que vou me divertir e crescer compartilhando um pouco disso por aqui, sem grandes pretensões literárias.

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