Contribua com o SOS Ação Mulher e Família na prevenção e no enfrentamento da violência doméstica e intrafamiliar

Banco Santander (033)

Agência 0632 / Conta Corrente 13000863-4

CNPJ 54.153.846/0001-90

terça-feira, 11 de março de 2014

O constrangimento das mulheres

Regina Navarro Lins

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana considera falta de respeito um homem mexer com uma mulher na rua. Provavelmente, se a enquete fosse dirigida somente às mulheres, os percentuais seriam bem diferentes. Ao pensar nessa questão, lembrei-me de uma situação que presenciei.
Numa noite eu andava pela minha rua, em Copacabana, quando assisti a uma cena interessante em frente ao bar. Dois rapazes conversavam na calçada, cada um com seu copo de cerveja na mão. De repente passa uma moça, com shortinho jeans. Sabendo que causa um certo frisson, segue em frente sem olhar para os lados. Acho que os dois amigos já estavam ali há algum tempo contando vantagens, quando um deles, não resistindo à oportunidade de aumentar seu placar, decidiu mostrar para o outro que era um conquistador de sucesso, e então a chamou:
—Psiu! Gostosa, vamos conversar….
Ela nem olhou para trás. E ele, já meio sem jeito, repetiu mais alto:
—Psiu! Psiu!
A moça foi se afastando como se não fosse com ela.
A essas alturas, meio sem jeito, virou-se para o amigo que aguardava atento e disse, com ar de superioridade, enquanto dava um gole na cerveja:
—Já comi…
Pesquisando sobre o tema, descobri que 98% das mulheres foram assediadas na rua. A página Think Olga (http://thinkolga.com), criado pela jornalista Juliana de Faria, apresenta a campanha CHEGA DE FIU FIU contra o assédio sexual em espaços públicos. Abaixo, parte do resultado da pesquisa obtido na campanha.
Você acha que ouvir cantada é algo legal?
Sim 17%
Não 83%
Você já deixou de fazer alguma coisa (ir a algum lugar, passar na frente de uma obra, sair a pé) com medo do assédio?
Sim 81%
Não 19%
Você já trocou de roupa pensando no lugar que você ia por medo de assédio?
Sim 90%
Não 10%
Você responde aos assédios que ouve na rua?
Sim 27%
Não 73%
Quais cantadas você já ouviu em espaços públicos? (era possível selecionar mais de uma opção)
Linda 84%
Gostosa 83%
Delícia 78%
Fiu fiu 73%
Princesa 71%
Nossa senhora 64%
Ô lá em casa 62%
Boneca 47%
Vem cá, vem 44%
Te pegava toda 36%
Te chupava toda 36%
Outros 4%
Outra página interessante é a Cantada de Rua, no facebook (https://www.facebook.com/CantadaDeRua). O comentário a seguir foi postado por uma mulher que contesta o argumento de homens que consideram mexer com uma mulher na rua um elogio: “O que a galera defensora das “cantadas elogiosas'' não querem entender, é que além da maioria destas cantadas serem desrespeitosas e humilhantes, falta entender principalmente que mulheres não estão na rua para serem “vasos decorativos'' e serem obrigadas a aceitarem de bom grado de um desconhecido desde um “linda'' até um “te chupo toda''!''
Na minha página no facebook (www.facebook.com/regina.navarro.lins) também encontrei diversos comentários que mostram o desagrado da maioria das mulheres com essa atitude de alguns homens.
“Não somos patrimônio público para sermos avaliadas na rua. Uma cantada nada mais é do que uma avaliação,uma objetificação da mulher e uma demonstração de poder masculino.''
“Quando um homem faz comentários não requeridos sobre nossos corpos estabelece-se uma relação de hierarquia. Quem julga é quem tem poder. O julgado deve escutar quieto.É uma maneira de homens invadirem nosso espaço e nos fazer sentir sua posse visual (isso quando eles não nos tocam). Quero poder andar nas ruas como quem anda num espaço sem donos. Sem juízes e julgados.''
“É uma falta de respeito sim, e incomoda demais. Para mim não existe “cantada inofensiva'', eu posso estar na rua por inúmeros motivos, mas ter meu corpo avaliado pelos homens NÃO É um deles. Não interessa se o cara só diz “que linda'' ou “vou te chupar'', isso é intimidação e desrespeito.''
Será que as pessoas que criticam as feministas ou o próprio feminismo têm algum conhecimento da História? É difícil entender que alguém com um mínimo de informação não seja feminista. Afinal, a história da mulher é constante luta contra a opressão. Desde que o sistema patriarcal se instalou, há cinco mil anos, as mulheres sofreram todo tipo de constrangimento familiar e social. Foram humilhadas, menosprezadas, escravizadas e constantemente utilizadas como forma de prazer para os homens.
A mulher podia ser vendida, trocada ou roubada. No século 16, os rapazes se reuniam em bando e saíam pelas ruas para estuprar as mulheres que encontravam. E isso era aceito socialmente. Durante muito tempo as mulheres foram consideradas incompetentes e incapazes; diziam que tinham o cérebro úmido e não podiam aprender nada nem ter alguma função além de cuidar dos filhos. Até o século 19, havia leis que permitiam que o marido espancasse a mulher, desde que não lhe quebrasse os ossos. Esses são apenas alguns exemplos.
Os progressivos direitos adquiridos pelas mulheres são resultado de muitos anos de luta. O século 20 é marco do início da participação efetiva delas na sociedade. Hoje, assistimos à diluição gradual da fronteira entre masculino e feminino. Isso é fundamental para que surja uma sociedade de parceria entre homens e mulheres, na qual não ocorra ao homem a ideia de que tem o direito de mexer com uma mulher na rua e, assim, perturbar sua liberdade de ir e vir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário