- 31 outubro 2014
As mulheres brasileiras já engravidam menos na adolescência, estudam mais do que os homens e tiveram aumento maior na renda média mensal, mostram as Estatísticas de Gênero do IBGE, um recorte inédito de dados do Censo de 2010 divulgado nesta sexta-feira.
Mas elas ainda ganham salários menores e têm dificuldade de ascender na carreira.
Segundo a pesquisa, entre os anos de 2000 e 2010, as mulheres brasileiras tiveram um aumento de 12,8% na renda média mensal, contra 3,6% de aumento da renda dos homens, o que na visão dos especialistas mostra um avanço rumo à equiparação salarial.
Vantagem educacional
A renda média do homem brasileiro, no entanto, ainda é maior. Os dados mostram que um homem ganha em média R$ 1.522 por mês, enquanto uma mulher recebe R$ 1.123.
Quando comparados por área de atuação, os salários das mulheres também são sempre menores.
Pessoas na faixa dos 25 anos ou mais, atuando nos ramos de Ciências Sociais, negócios e Direito, por exemplo, ganham em média R$ 4.650,90 se forem homens e R$ 3.081,40 se forem mulheres.
Já no setor de engenharia, produção e construção, os homens recebem em média R$ 5.985,60 e as mulheres R$ 3.976,10.
Em contraste, a mulher aparece com vantagem em praticamente todos os indicadores educacionais.
Há menos mulheres analfabetas e ,entre as pessoas de 18 a 24 anos, 15,1% das mulheres frequentam o ensino superior, contra 11,3% dos homens.
A proporção dá vantagem para as mulheres em todas as regiões do país.
Avanços e desafios
Para Eleonora Menicucci, ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), a pesquisa mostra tanto um avanço geral e um aumento do protagonismo das mulheres na sociedade quanto a necessidade de continuar progredindo na eliminação das desigualdades de gênero.
“As mulheres engravidam mais tarde, estudam cada vez mais e ocupam um número maior de postos no mercado de trabalho. Estão em todas as profissões, inclusive aquelas consideradas masculinas, como engenharia civil, mecânica, automação, condução de veículos pesados, taxistas, entre outras", afirmou a ministra, em entrevista à BBC Brasil.
"Mas mesmo assim continuam ganhando menos”.
A ministra chama a atenção para o dado sobre a gravidez na adolescência, visto como uma melhora social que dá mais empoderamento à mulher.
De acordo com o IBGE, a proporção de mulheres na faixa entre 15 a 19 anos com ao menos um filho diminuiu de forma geral - de 14,8% para 11,8% - entre 2000 e 2010.
Embora haja Estados com percentuais maiores ou menores, todos apresentam redução na taxa.
“É um dado importante. Primeiro, eu acredito que as adolescentes estejam procurando mais os serviços de orientação reprodutiva no SUS, conforme o preconceito contra esse serviço diminui. Por outro lado, temos o programa Rede Cegonha, que amplia as ações nesta área desde o planejamento reprodutivo”, afirma Menicucci.
Reprodução, patriarcado e altos cargos
Para a Professora Ligia Pinto Sica, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Direito e Gênero da Fundação Getúlio Vargas (FGV), dois motivos ajudam a explicar os salários menores das mulheres.
Ela cita a cultura patriarcal, que valoriza mais o trabalho do homem, e a questão reprodutiva - empregadores enxergam perdas produtivas quando funcionárias grávidas saem de licença maternidade.
“É um traço cultural. O Brasil mantém o estereótipo de gênero no qual o salário do homem vale mais do que o da mulher, e isso é reforçado pelo fato de que a licença maternidade, de até seis meses, é muito maior do que a paternidade, de apenas cinco dias. Passa-se assim a ideia de que cuidar do filho é responsabilidade única da mulher”, afirma a pesquisadora.
Sica diz que uma possível medida para mudar tal percepção seria aumentar o período de licença paternidade.
“A sociedade precisa perceber que num dado momento o homem pode entrar em campo para que a mulher não tenha que necessariamente perder sua posição no mercado de trabalho”.
Num estudo recente, Sica analisou 837 companhias de capital aberto, bem como 73.901 cargos de diretoria e membros de conselhos administrativos no período de 1997 a 2012.
A conclusão foi de que a taxa de mulheres nos cargos mais altos das empresas brasileiras se manteve a mesma em 15 anos.
“Há uma estagnação. A mulher estuda, prepara-se e entra no mercado. Mas não consegue avançar na carreira".
"Apenas 7,7% destes 73.901 cargos são ocupados por mulheres".
Para Menicucci, o cenário deixa claro que a mulher consegue “entrar no mercado de trabalho, mas não consegue ascender".
Ranking Internacional
Nesta semana o Fórum Econômico Mundial, com sede na Suíça, divulgou um ranking internacional de igualdade de gênero no qual o Brasil caiu nove posições, aparecendo na 71ª colocação.
Em 2013, o país ocupava a 62ª posição na lista.
A organização avaliou as diferenças entre homens e mulheres na saúde, educação, economia e indicadores políticos em 142 países. Apesar de ressaltar que no setor educacional o Brasil ganhou a nota máxima, viu problemas nas questões salariais e de empoderamento político.
"A queda do Brasil (…) aconteceu mesmo tendo preenchido com sucesso ambas as lacunas entre gêneros no nível educacional e de saúde e sobrevivência. Sua prioridade agora deve ser garantir retornos em seus investimentos através do aumento da participação feminina na área de trabalho", disse o relatório.
Embora reconheça que o Brasil precise avançar na participação das mulheres na política, a ministra Menicucci diz que o ranking não levou em conta avanços recentes.
“Temos a primeira mulher eleita e reeleita presidente. Tivemos 11 mulheres ocupando cargos de ministras. Pela primeira vez nesta eleições o TSE rejeitou listas de candidatos de partidos que não continham um mínimo de 30% de mulheres. São dados importantes que deveriam ter sido computados”, avalia.
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