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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ESCUTA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Aspectos Teóricos e Metodológicos 

Guia para Capacitação em Depoimento Especial de Crianças e Adolescentes

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) tem muitos motivos de satisfação por ter participado da elaboração deste livro-guia destinado à capacitação dos vários profissionais envolvidos na escuta de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Esses profissionais têm a dupla missão de proteger crianças e adolescentes e, ao mesmo tempo, tomar as providências para a devida responsabilização daqueles ou daquelas que praticam a violência. 

Esta obra apresenta um conjunto de subsídios, ainda inéditos no país, para orientação e treinamento de profissionais que atuam na promoção e na defesa dos direitos da criança e do adolescente. Além de ser uma primeira coletânea substancial de textos para a capacitação em Depoimento Especial, o livro-guia inova pela abrangência de seu conteúdo que oferece elementos teóricos e metodológicos para os vários atores da rede de proteção de crianças e adolescentes, incluídos aqueles pertencentes aos sistemas de segurança e justiça, que efetivamente realizam de forma cotidiana a escuta. 

Esta publicação é fruto do esforço coletivo de pessoas com muita experiência em temas relacionados à infância e adolescência e comprometidas com o respeito e com a proteção dos direitos da criança e do adolescente. 

A publicação deste livro-guia é uma excelente maneira de celebrar o 25o aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, um dos marcos legais mais importantes na história dos direitos humanos. Em seu artigo 12, a Convenção assegura o respeito à opinião de crianças e adolescentes sobre “todos os assuntos” a elas relacionados, e, em particular, o direito de “ser ouvida em todo processo judicial ou administrativo” que lhes afetem. Por sua vez, qualificar a ação de profissionais que trabalham com crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas foi um compromisso que o Estado brasileiro assumiu ao ratificar, em 2004, o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança, que trata da venda de crianças, prostituição e pornografia infantil.

Os Estados Partes adotarão medidas para assegurar treinamento apropriado, em particular treinamento jurídico e psicológico, às pessoas que trabalham com vítimas dos delitos proibidos pelo presente Protocolo (Art. 8o , Inciso 4). 

Em suporte à Convenção sobre os Direitos da Criança e ao Protocolo correspondente, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas estabeleceu em suas diretrizes que a formação adequada, educação e informação devem ser disponibilizadas aos profissionais que trabalham com crianças vítimas e testemunhas, com vistas a aperfeiçoar métodos especializados, abordagens e atitudes, a fim de proteger e lidar de forma eficaz e sensível com crianças vítimas e testemunhas. (Art. 40 Resolução 20/2005 da ECOSOC). 

Esta iniciativa, portanto, nos permite dar concretude ao nosso mandato de apoiar e acompanhar a implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança. Ela também nos permite ser parte de um processo de construção de procedimentos judiciais amigáveis, centrados na proteção dos direitos da criança e alinhados às mais recentes construções da normativa internacional elaborada pelas Nações Unidas com a qual estamos comprometidos. 

Brasília, outubro de 2014. Gary Stahl Representante do UNICEF no Brasil

É com alegria que a Childhood Brasil e as organizações parceiras disponibilizam a todos os interessados na temática da proteção e do respeito aos direitos da criança e do adolescente o livro A escuta de crianças e de adolescentes vítimas ou testemunhas de violência sexual: aspectos teóricos e metodológicos. O propósito desta obra é servir como o primeiro material de referência para a capacitação de profissionais em escuta especializada de crianças e de adolescentes, incluindo o Depoimento Especial. 

Os artigos que fazem parte desta publicação distinguem os vários tipos de escuta e abordam desde concepções de infância e de adolescência até a escuta de crianças e de adolescentes pelos órgãos da rede de proteção e de defesa de seus direitos, incluindo tópicos como a preparação de crianças e de adolescentes antes e o acompanhamento após seus depoimentos nos órgãos de segurança e de justiça. Ademais, na perspectiva dos cuidados aos cuidadores, este material enfatiza a necessidade, pouco discutida, de atenção aos profissionais que realizam escuta de crianças e de adolescentes sobre a violência sexual da qual foram vítimas ou testemunhas. 

A abordagem realizada pelos autores concebe a escuta de crianças e de adolescentes, além de um procedimento ético, político e pedagógico, como uma atitude ontológica de reconhecimento da criança e do adolescente na condição de pessoas em si mesmas, em sua igualdade e em suas diferenças em relação aos adultos, conferida pela condição peculiar de desenvolvimento. Tal concepção é condição essencial para a ocorrência de uma verdadeira e profunda escuta da criança e do adolescente. 

O processo de elaboração deste material consistiu em um ato de parceria. A equipe da Childhood Brasil, particularmente do Projeto Depoimento Especial, fez uma primeira identificação de conteúdos e de conteudistas e organizou uma oficina na qual os autores foram solicitados a apresentar as ementas de seus capítulos, contendo conteúdo programático, estrutura do capítulo e bibliografia básica de referência. Esse rico material foi apresentado e debatido por todos os conteudistas participantes da oficina, em um processo de intercâmbio muito produtivo que contribuiu, substancialmente, para a qualificação de cada uma das 16 Escuta de crianças e adolescentes em situação de violência sexual: aspectos teóricos e metodológicos propostas de capítulos apresentadas. Também nessa oficina, foram identificados outros conteúdos não previamente incluídos no projeto original, os quais se buscou incorporar no projeto de publicação. 

Sucedeu-se, a essa primeira oficina, um período de dois meses para diálogos, por meio eletrônico, entre os diversos autores, trabalho esse que culminou em uma segunda oficina sobre a primeira versão dos capítulos já elaborados. A metodologia utilizada nessa nova oficina previu que cada um dos autores se tornasse comentador de dois outros capítulos diversos do de sua própria autoria. Esse intercâmbio, muito bem-avaliado por todos os participantes, permitiu que todos os capítulos passassem pela primeira crivagem de uma audiência qualificada. O resultado foi uma substantivação das propostas originais. 

Os autores, em um curto espaço de tempo, buscaram incorporar as sugestões recebidas pelos pares. Os capítulos foram, então, entregues à equipe organizadora deste livro que estamos chamando aqui, informalmente, de guia de referência para capacitação em escuta de crianças e de adolescentes. Essa equipe fez uma revisão técnica do conteúdo, solicitou ajustes e concluiu o material na sua fase de produção técnica. Da elaboração do projeto original à fase de editoração do material, foram basicamente dois anos de trabalho. 

Para finalizar, uma palavra sobre os autores copartícipes desta obra: profissionais experientes, da mais alta respeitabilidade, dos vários campos do saber, articulados em uma construção inter e multidisciplinar, todos muito comprometidos com o respeito e com a proteção dos direitos da criança e do adolescente, cujas contribuições tiveram caráter voluntário. 

A todos aqueles que contribuíram com esta produção, os nossos mais sinceros agradecimentos. 

Ana Maria Drummond Diretora-Executiva Childhood Brasil

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