04/08/2015 por Antonio José Eça
Dentre outros temas da psiquiatria, escolhemos hoje um relativo ao Direito de Família, que nos chama muito atenção pelo número assustador de mulheres que ainda vivem no silêncio por serem atacadas por seus maridos, companheiros e namorados. Mesmo com o advento da ‘Lei Maria da Penha’, infelizmente isto ainda faz parte do nosso dia a dia.
O que realmente, na maioria das vezes coloca um fim a essa triste história, (excluindo um caso real de loucura), é que o caso acaba chegando à delegacia ou a um pronto socorro, por intermédio da família, vizinhos e outros; entretanto em alguns casos, o casal mantém uma integração neurótica, fruto da atitude de um, mas principalmente dos dois e continua a repetir o mesmo padrão destrutivo, tendo como vítima, na maioria das vezes, a mulher.
Como diz o ditado “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Esta é uma verdade inexorável, pois esses casais retomam sua rotina neurótica; a mulher continua sendo agredida, por sua própria aquiescência, ficando ambos em ‘paz’ momentaneamente, deixando psiquiatras, psicólogos, advogados e até mesmo a família, em posição extremamente vulnerável e sem saber qual caminho tomar.
Para elucidar esse comportamento, vejamos um exemplo ocorrido conosco: certa vez, atendíamos um casal, no hospital, em nossa sala, quando de repente o marido, sem o menor escrúpulo, diante de nós, começou a agredir sua esposa; imediatamente tentamos detê-lo, com a intenção de evitar o agravamento da situação. Para nossa surpresa, a esposa agredida, procurou o Diretor do hospital, queixosa de nosso comportamento rígido com seu esposo. Disse inclusive, mesmo agredida, que fomos estúpidos com seu marido.
Essas situações nos levam a crer no seguinte:
“ Meu marido me bateu, porque de certa forma, não sei lidar com isso e permiti”.
Imaginamos, que a essa altura, muitas pessoas estão decepcionadas com o que estão lendo, mas estão se esquecendo de avaliar o quão difícil é para nós profissionais lidar com toda essa impotência.
Sugiro então que pensemos juntos sobre o assunto:
O marido agride sua companheira, pois só dessa forma, acredita que pode dominá-la. Por ser um homem inseguro e fraco ou primitivo e sem recursos mentais e culturais, não acredita que possa convencê-la, através do diálogo. O poder prevalece e é isso que vale para ele.
Por outro lado, a esposa, vitima de uma sociedade repressora e machista, à primeira tentativa de argumentação se intimida com uma reação grosseira verbal ou física e opta por permanecer ao lado de um homem desajustado e desequilibrado, preferindo santificá-lo a sofrer maiores danos.
Então se estabelece o círculo vicioso de comportamentos. À primeira ameaça do marido, seja verbal ou física a esposa, receosa de reviver tudo novamente, opta por se calar a sair machucada, além de se expor às pessoas que já conhecem o histórico e o pior, sentir-se envergonhada e humilhada por não ter forças ou recursos para mudar a situação doentia.
Podemos exemplificar melhor, através de uma situação bem conhecida: se começarmos a brincar com nosso cão, ele nos corresponde naturalmente; porem se a brincadeira torna-se mais violenta, ele começa a se irritar, se afastando e inclusive, dependendo do grau de irritabilidade, podendo mordê-lo.
O mais curioso é que, a partir dessa reação, passamos a respeitá-lo e inclusive alertar as pessoas sobre esta sua possível reação, se provocado.
Aprendemos com esse exemplo que precisamos pensar no risco de que se provocarmos, corremos o risco de sermos “mordidos”.
Isto então nos leva a pensar que à primeira ameaça de agressão do marido, se a esposa o enfrentar de igual para igual, demonstrando firmeza e não se intimidado com sua possível força física, a situação não se repetirá, a menos que ele demonstre que sua estupidez seja maior que seu bom senso.
Caso a situação continue, não seria mais interessante e seguro que a esposa agredida, crie coragem e vá viver sua vida, livre do risco de tanta opressão e humilhação, como no exemplo do cão?
No primeiro instante ela certamente pensará: Como vou viver sem ele? Vou passar fome? É muito importante que ela crie confiança em si mesma e tenha certeza de que sua vida vai mudar em todos os aspectos, sem as inseguranças de viver ao lado de um homem que a qualquer momento a espanque e que a deixe como sua refém.
Por isso que concluímos: ‘Ele me agrediu porque eu permiti’. Claro que isso ocorre, mas apenas na primeira vez, pois é uma situação inusitada; mas e nas seguintes?
A pessoa agredida deve considerar que suportou essa situação por acreditar em uma pessoa covarde, que se prevalece do fato de ser mais forte fisicamente e que crê que somente com agressão, pode resolver seus problemas e não ser contrariado. Por essa razão é muito importante que essa mulher procure ajuda para recuperar sua autoestima e entender que se continuar nessa situação, nada realizará de produtivo em sua vida.
Pensemos: Se ele, tão desprovido de humanidade, crente que só consegue o que quer através da agressão e poder, consegue conduzir sua vida, por que outra pessoa, com sentimentos mais nobres não o faria?
Pense nisto!
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