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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Mães de filhos com microcefalia pedem mais direitos e serviços para crianças em Pernambuco

Grupo se articula por meio de aplicativo online para trocar dicas sobre desafios da maternidade envolvendo crianças com síndrome congênita do zika. Mães lutam contra o preconceito e cobram das autoridades a ampliação da rede de atendimento especializado.

30/08/2016
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Aos 25 anos e grávida de três meses, Germana Soares teve zika. A doença deixou a jovem abatida por quatro dias e, mesmo depois de os sintomas desaparecerem, a infecção continuou assombrando a gestante por conta da associação entre o vírus e a microcefalia.
“Eu estava tão feliz quando finalmente fiquei grávida”, lembra Germana, que mora em Recife. Em novembro de 2015, quando o filho Guilherme finalmente nasceu, ela e o marido ficaram aliviados, pois as primeiras avaliações não indicavam nenhuma anomalia.
Exames posteriores, porém, trouxeram o diagnóstico: o recém-nascido tinha microcefalia. “Nosso mundo desabou”, conta a mãe. Ela sabia que ali começava uma nova fase na vida da família.
O caso de Germana é um entre tantos outros registrados em meio à epidemia de zika que afeta o Brasil. Até 6 de agosto de 2016, havia 1.806 casos confirmados de microcefalia e outros distúrbios neurológicos relatados como uma síndrome congênita possivelmente decorrente do vírus zika no país, de acordo com o Ministério da Saúde.

Mães se unem para pedir direitos e combater preconceito

Desde o nascimento, Germana usa todo seu tempo cuidando de Guilherme. É cansativo – ele precisa de consultas de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia, cinco dias por semana, além de idas frequentes com oftalmologista, pediatra e neurologista.
Em alguns dias, Germana acorda às cinco horas da manhã para fazer os deslocamentos em transportes públicos para os quatro centros de tratamento distintos.
“Eu me sentia muito sozinha. Então eu comecei a conversar com outras mães nas filas dos atendimentos nos centros de terapia e descobri que todas nós tínhamos os mesmos desafios. Então, eu criei um grupo de WhatsApp para nós no dia 22 de dezembro de 2015. No começo, éramos apenas oito mães de crianças com microcefalia no grupo”, conta. “Agora somos quase 300 mães de crianças com microcefalia no grupo.”
O bate-papo online deu origem a articulações concretas — e à associação oficial União de Mãe de Anjos (UMA) — pela busca de mais direitos para as mães e seus filhos com síndromes congênitas.
“Eu costumava ver muitas mães chegando às sessões de terapia, chorando e tremendo. Elas compartilhavam histórias semelhantes de preconceito e abuso nos ônibus e táxis. Muitas pessoas apontavam e riam de nossos bebês”, explica Germana.
A jovem lembra um episódio em que “uma mãe entrou num ônibus com seu bebê nos braços e um homem começou a empurrá-la para fora gritando ‘Não são permitidos monstros no ônibus!'”.
A ocorrência levou o coletivo de mães a pressionar governo e polícia por respostas contra o preconceito enfrentado por crianças com deficiência. Em julho, o governo estadual iniciou uma campanha na televisão, com outdoors e nos ônibus lembrando às pessoas que as crianças com deficiência têm os mesmos direitos que as outras.
“Crianças como o Guilherme são membros iguais da sociedade brasileira e eu quero que ele se sinta seguro, amado e incluído. Nenhuma criança no Brasil deveria viver nas sombras da zika”, afirmou Germana.
O coletivo de mães luta ainda por outras demandas para os filhos. “Pleiteamos mais centros de terapia em diferentes locais de Pernambuco para que as mães não tenham que viajar de ônibus por até 8 horas para uma sessão de 40 minutos de terapia para seus filhos”, disse.

Colaboração foi reproduzida por Pernambuco

Além de trocar dicas sobre como lidar com as necessidades específicas dos filhos com microcefalia, as mães também se ajudam e pedem doações para as famílias mais carentes que não conseguem arcar com os altos custos dos medicamentos, fraldas e transporte para locais de tratamento.
“Compartilhamos dispositivos médicos e, às vezes, até medicamentos de uma mãe que já não precisa para o seu bebê e outra mãe não pode pagar”, contou a mãe de Guilherme.
A experiência positiva na região metropolitana de Recife foi replicada em outras partes de Pernambuco, com “filiais” da UMA em Ipojuca, Caruaru, Belo Jardim, Salgueiro e Arcoverde.

Comissão de Combate à Violência contra a Mulher lança concurso de vídeo

A Comissão de Combate à Violência contra a Mulher do Congresso Nacional (CMCVM) promove o concurso de vídeo feito por celular "1 MINUTO CONTRA A VIOLÊNCIA", cujo tema é "Mulher e superação da violência".
O Brasil é o 5º país que mais mata mulheres do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). O Mapa da Violência (2015) ressalta que, em 2013, do total de homicídios de mulheres no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares e 33,2%, por parceiros ou ex-parceiros. Entre 1980 e 2013, foram assassinadas mais de 106 mil mulheres.
As inscrições para o concurso deverão ser feitas de 22 de agosto a 22 de outubro no site: www.senado.leg.br/concurso1minutocontraaviolencia, onde estão disponíveis- ficha de inscrição, regulamento e material informativo sobre o concurso.
As histórias sobre a superação da violência conta a mulher, pessoais ou não, devem ser relatadas em um minuto. A produção e a edição devem ser todas elaboradas por celular. Os vídeos vencedores serão veiculados pela TV Senado e pela TV Câmara. A premiação ocorrerá no final do ano.

Mulheres têm de omitir o gênero para que seus trabalhos sejam aceitos

Pesquisa mostra que programadoras têm projetos rejeitados apenas por serem mulheres


29/08/2016 / POR JOÃO BOURROUL

O GITHUB, serviço utilizado por mais de 12 milhões de pessoas, é uma plataforma online colaborativa — os profissionais escrevem linhas de códigos para softwares ainda em desenvolvimento e o responsável pelo programa aprova ou reprova a contribuição.

No site, códigos escritos por mulheres têm uma taxa de sucesso de 78,6%, ante 74,6% dos programadores homens. Acontece que o GitHub dá ao usuário a possibilidade de revelar ou omitir seu gênero nos dados de cadastro de perfil: então, o grau de aceitação dos trabalhos cai para 62,5% quando mulheres tornam pública a informação de que são... mulheres.

A discriminação foi identificada por pesquisadores das instituições norte-americanas da California Polytechnic State University e da North Carolina State University. “A pesquisa sugere que mulheres são melhores programadoras que homens. Haveria sérias implicações para a indústria da tecnologia se a porcentagem de mulheres escrevendo códigos fosse de 40% e não de 14%”, diz Clarissa Rainear, coautora do estudo.

Aliás, mulheres que estudam Ciências na universidade abandonam o curso em uma proporção maior que seus colegas homens. Uma das hipóteses para justificar o êxodo foi apresentada por um estudo divulgado recentemente por pesquisadores americanos: quando solicitados a analisar o grau de conhecimento de seus colegas de classe, homens baseiam suas impressões no gênero e não no desempenho acadêmico.

EUA têm aumento no número de mortes relacionadas à gravidez

Os EUA são um de apenas oito países onde a taxa subiu ao invés de descer entre 2000 e 2014

29 ago, 2016

Um estudo conduzido pela Universidade de Maryland, nos EUA, e divulgado pela revista New Scientist, mostra que mortes relacionadas à gravidez nos EUA aumentaram 26,6% entre 2000 e 2014. O problema é maior no estado do Texas, onde a taxa de mortalidade materna chegou a dobrar entre 2011 e 2012.

Em 2014, a taxa média de mortalidade materna nos EUA era de 23,8 mortes a cada 100 mil partos, frente a 18,8 a cada 100 mil partos em 2000. Em comparação, no Reino Unido e na Austrália, aconteceram apenas nove e seis mortes a cada 100 mil partos, respectivamente, em 2015.

De acordo com uma análise prévia, os EUA são um dos oito países no mundo onde a taxa de mortes relacionadas à gravidez cresceu ao invés de diminuir entre 2003 e 2013. Os outros países onde isso aconteceu são Afeganistão, Belize, El Salvador, Guiné-Bissau, Sudão do Sul, Grécia e Seychelles.

“É importante destacar que a morte materna ainda é um evento raro, mas é de grande preocupação que a taxa está aumentando ao invés de diminuir”, disse a principal autora do estudo, Marian MacDorman.

Por que o Texas preocupa

Os pesquisadores da universidade não atribuíram uma causa específica para o aumento acentuado no número de mortes no Texas, mas a equipe notou que o estado passou por “algumas mudanças na oferta de serviços de saúde femininos” desde 2011.

Essas mudanças incluem cortes no orçamento destinado à saúde feminina e ao planejamento familiar. Uma nova lei proibindo o aborto no Texas – que foi recentemente evogada pelo Supremo Tribunal americano – também causou um número de clínicas de aborto no estado a fecharem, o que pode ter dificultado que mulheres em risco por causa da gravidez interrompessem a gestação.

No país como um todo há alguns fatores prováveis por trás dos números crescentes, diz Regina Davis Moss, da Associação Americana de Saúde Pública. Há mais mulheres engravidando em uma idade mais avançada, passando por cesarianas, ou engravidando enquanto lidam com complicações como obesidade ou hipertensão, que podem aumentar riscos associados à gravidez ou parto.

Opinião e Notícia

Para evitar estupros, Índia pede que turistas não usem saias

Gabriela Ruic, de EXAME.com
30/08/2016 

São Paulo – O Ministério do Turismo da Índia está enfrentando uma saia justa depois que seu ministro disse em uma coletiva de imprensa que, por razões de segurança, turistas mulheres não devem sair à noite sozinhas e não devem usar saias ou vestidos.
A orientação é parte de um guia de segurança que será distribuído junto a um kit de boas-vindas para estrangeiros que desembarcam na Índia. Segundo o jornal britânico The Guardian, o kit foi lançado no ano passado, depois de o país observar uma queda no número de turistas mulheres, numa redução impulsionada pelo alto número de estupros registrados.
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“A cultura indiana é muito diferente da ocidental”, disse o ministro Mahesh Sharma em coletiva que foi divulgada pelo jornal britânico. As declarações do ministro foram recebidas com choque em todo o mundo. Nas redes sociais, milhares de usuários questionaram se essas orientações seriam uma tentativa de censurar os turistas. Veja abaixo algumas delas:
Sir please give us bad women a lecture on Indian Culture.We are getting outta control N need to be harnessed!  
 This minister is a joke and a terrible embarrassed to this country. Sack him, period!!
 This minister is a joke and a terrible embarrassed to this country. Sack him, period!!

Repercussão

As orientações do ministro foram criticadas também por ativistas pelos direitos das mulheres. Ranjana Kumari, do Centro de Pesquisas Sociais, em entrevista ao jornal indiano Business Standard, chamou as declarações de sexistas e lembrou que é tarefa do governo garantir a segurança de seu povo e seus turistas.
Nivedita Menon, professora de Ciências Políticas da Universidade Jawarharlal Nehru, ouvida pela mesma publicação, disse que a fala do ministro só comprova a incapacidade do governo indiano de garantir a segurança das mulheres e questionou o que saias e vestidos tinham a ver com ataques sexuais.
O calor das discussões fez com que o ministro viesse à tona se explicar momentos depois. Em coletiva na segunda-feira, ele disse que tem duas filhas e que jamais diria a uma mulher o que ela deve ou não vestir. “Estava falando no contexto de locais religiosos”, disse ele em entrevista ao jornal India Today, “estou apenas preocupado”, finalizou.
Essa não é a primeira vez que Sherma se vê envolvido em uma polêmica e é acusado de machismo. Em setembro do ano passado, o ministro foi novamente criticado depois de dizer que meninas que gostam de sair à noite podem se dar bem em outros países, mas que essa conduta não fazia parte da cultura da Índia.

Violência sexual na Índia

Em Nova Déli, a gravidade da situação de violência contra mulheres rendeu para a cidade o apelido de “capital do estupro”.
Dados compilados por autoridades do país e divulgados pelo jornal The Hindu mostram que os casos de estupro mais que dobraram entre 2012 e 2013. Em novembro de 2014, 1.879 episódios foram registrados só nessa cidade. A maioria dos casos tinham como autores homens conhecidos das vítimas.
Os números da violência sexual na Índia são aterrorizantes, assim como são chocantes os detalhes de muitos dos ataques registrados pelo país. Em 2012, uma estudante foi morta depois de ter sido atacada em um ônibus por seis homens. Ela foi espancada com um cano e violentada por todos eles. 

Jyoti Singh tinha apenas 23 anos de idade, estudava fisioterapia e voltava para casa do cinema na companhia de um amigo. Seu caso, embora tenha ganhado os holofotes no mundo inteiro e tema de um documentárionão é o único que mostra a seriedade do que especialistas já chamam de “epidemia de estupros” na Índia. 

Coletânea de artigos ajuda mulheres que desejam conhecer e aprofundar o feminismo

Com prefácio da escritora e professora Márcia Tiburi e organização da jornalista Nana Queiroz, autora de Presos que Menstruam, “Você já é feminista – Abra este livro e descubra porquê” reúne textos de Djamila Ribeiro, Luisa Marilac, Lola Aronovich, Amora Moira e várias outras mulheres.

Por Redação
26 de agosto de 2016

O livro “Você já é feminista – Abra este livro e descubra porquê” apresenta 23 textos de ativistas atuantes na chamada “Primavera das Mulheres” para falar de como é viver o feminismo na vida prática. Os assuntos vão de assédio no trabalho, divisão de tarefas domésticas, legalização do aborto até a indústria pornográfica.

Com prefácio da escritora e professora Márcia Tiburi e organização da jornalista Nana Queiroz, autora de Presos que Menstruam, o livro reúne textos de Djamila Ribeiro, Luisa Marilac, Lola Aronovich, Amora Moira e várias outras mulheres.

Em cada capítulo a obra procura despertar o público para situações que se tornaram rotineiras e acabam passando despercebidas no dia a dia, denunciando a desigualdade de gênero e incentivando a luta pelo direitos das mulheres. Com dados atuais e exemplos reais, o livro combina artigos e reportagens em uma linguagem acessível.

O lançamento será em São Paulo neste sábado (27) na Casa Bartira com um debate com as autoras e seguido de uma festa com DJs mulheres.

Editora: Pólen Livros em parceria com a revista Azmina

Páginas: 176

Preço: R$ 35

“O governo brasileiro é negligente com o zika”


Em novo livro, a advogada Debora Diniz revela a lentidão do governo para agir antes de o zika se transformar numa epidemia global

THAIS LAZZERI
30/08/2016

debora diniz antropologa (Foto: Breno Fortes/CB/D.A Press)
Um ano antes de a epidemia provocada pelo zika entrar para o noticiário mundial, em 2014, um time de médicos do sertão – formado por infectologistas, pediatras e obstetras – discutia no grupo de WhatsApp Chickv, a Missão (redução de Chikungunyauma doença provocada por vírus e transmitida pelo mosquito da dengue) sintomas incomuns encontrados em moradores do Nordeste. As queixas dos pacientes incluíam coceira no corpo, febre baixa e vermelhidão, um quadro que não se encaixava em nenhuma doença conhecida. “Na minha cabeça, só podia ser zika”, disse o infectologista Kleber Luz em entrevista para o recém-lançado Zika, do sertão nordestino à ameaça global, escrito pela advogada e professora de bioética Debora Diniz.

A coleta de sangue começou em janeiro de 2015, mas as amostras enviadas para laboratórios brasileiros voltavam sem diagnóstico. Em abril, o vírus foi identificado. Em 21 de maio, o Ministério da Saúde (MS) validou a descoberta. A primeira geração de gestantes cujo cérebro dos fetos não se desenvolveu como esperado, num drama conhecido inicialmente como microcefalia, é de agosto de 2015. Em novembro, a obstetra Adriana Melo anunciou ter encontrado o vírus zika no líquido amniótico de dois fetos. Doze dias depois, o MS assumiu o protagonismo na descoberta – sem mencionar Adriana. “Se por um lado o Ministério da Saúde mostrou-se cauteloso para checar o que estava acontecendo e refazer os testes, por outro mostrou como é difícil ouvir o barulho do sertão.”  E continua: “O zika mostrou que médicos sertanejos de leito, anônimos atentos ao adoecimento de uma multidão, descobriram que um novo vírus circulava no país.” Leia a íntegra da entrevista com Debora, infectada por zika durante a produção do livro.  
ÉPOCA – Em seu novo livro, a senhora é dura com o trato do governo brasileiro à epidemia do zika, mas a avaliação da Organização Mundial da Saúde sobre a atuação do Brasil é positiva. Em que se baseiam as críticas? 
Debora Diniz –
 O governo brasileiro é negligente. O causador da epidemia é um mosquito que o governo não combate há pelo 40 anos, o Aedes aegypti. Não se trata de uma luta perdida, mas de uma batalha na qual o Brasil nunca entrou. A segunda é falta de apoio às famílias cujos filhos nasceram com a síndrome congênita do zika [conjunto de sintomas comuns aos bebês, incluindo a microcefalia]. Não houve, por exemplo, alteração no benefício de proteção continuada, em que famílias com renda per capita de até R$ 220 podem receber um salário mínimo. Na prática, significa que apenas famílias extremamente vulneráveis, formadas por no mínimo quatro pessoas, têm direito a esse benefício. Com esse dinheiro a família precisa comprar fraldas, remédios, óculos de grau [as crianças têm problema de visão], comida, transporte e etc. O dinheiro não vai para a criança, que nasceu com múltiplas necessidades, mas para a família sobreviver. Além disso, o governo prevê apenas três anos de acompanhamento para as crianças com a síndrome, como se depois desse período elas milagrosamente deixassem de precisar dos tratamentos. Por essas e outras questões, um casal da Paraíba, cuja filha nasceu com a síndrome, entrou com a primeira ação jurídica no Brasil por danos morais. 

ÉPOCA – O que sua investigação pelo sertão tem mostrado?
Debora – 
Nenhuma mãe voltou a trabalhar. Uma recente portaria do presidente interino, Michel Temer (PMDB), fixou que o auxílio materno só deve ser recebido depois do fim da licença-maternidade. O que este governo parece desconhecer é que essas mulheres sabem que não voltarão ao trabalho já na licença, porque é isso o que acontece com as mães de crianças com múltiplas necessidades. Imagine que essa mulher sabe que não retornará ao trabalho, o que vai gerar um impacto financeiro importante na renda da casa, e que ela precisa esperar terminar a licença para, então, entrar com o pedido para receber o benefício – não há garantia se vai ou não acontecer. Quem vai ajudar essa família enquanto o dinheiro não chega? E se o dinheiro não chegar?

ÉPOCA – Uma das bandeiras do governo brasileiro é a eficiência dos centros de referência, as unidades de tratamentos múltiplos nas capitais. A senhora visitou os do Nordeste. Qual é sua avaliação?
Debora –
 Os centros não comportavam nem as crianças que já eram atendidas, e agora têm essa nova demanda. Para as mães do interior chegar aos centros, não raro, precisam do veículo da prefeitura, que não está disponível apenas para elas. A realidade das mães do sertão é levar de duas a três horas para chegar a um centro, fazer o atendimento de até uma hora e, então, levar o mesmo período para voltar para casa. Alguns exames elas não conseguem liberação para fazer. A lista de medicamentos que não chega ao posto de saúde é gigantesca. A criança que precisa de duas ou três sessões de fisioterapia faz uma. As 150 mães da Paraíba, carentes de atendimento psicológico, por exemplo, contam com uma psicóloga. Essa é a realidade dos centros de referência.

ÉPOCA – A senhora revela, no livro, a história da primeira mãe, a italiana Sofia Tezza, a questionar a ligação entre o zika e a microcefalia. Qual é a importância da dúvida dessa mulher? 
Debora – 
Sofia era casada com um brasileiro, separou-se aos seis meses de gestação e voltou para a Europa. Lá, soube que o desenvolvimento cerebral do feto estava aquém do esperado. Por e-mail, Sofia conversou com um médico brasileiro e fez a pergunta central: um arbovírus, no caso o zika, pode ultrapassar a placenta? Esse e-mail ficou guardado numa caixa postal por muito tempo. Meses depois, quando muitos fetos foram diagnosticados com comprimento cefálico anormal, a obstetra Adriana Melo, do interior da Paraíba, fez o mesmo questionamento. Primeiro perguntou como é que, até aquele momento, não avaliaram os fetos. Então, com aval das pacientes e dos respectivos maridos, colheu o líquido amniótico das placentas e testou ambos para o zika. Com os resultados em mãos, sentiu medo de que desacreditassem numa médica do interior da Paraíba e foi à imprensa divulgar os resultados positivos. O que esse processo mostra? Que as pacientes perderam o medo de confrontar os médicos, e que isso pode ajudar a produzir conhecimento. 
ÉPOCA – Qual é o impacto do zika na vida de uma mulher em idade reprodutiva?
Debora –
 É algo imensurável. Até agora a ciência não pode dizer se o bebê de uma mulher que teve zika antes de engravidar terá problemas, e as mulheres estão em pânico. Também não se sabe por que a epidemia avançou com tanta velocidade no nordeste, inclusive em regiões menos favorecidas economicamente. O zika, aliás, expõe essa outra fragilidade, a geografia econômica da epidemia. O pai do paciente zero, que menciono no livro, pediu que nem o nome dos filhos (são gêmeos, e um tem a síndrome congênita do zika) nem o da mulher fossem divulgados. Ele me disse que o filho dele não é o paciente zero, uma vez que os casos antes do filho dele podem não ter sido notificados. Por quê? Porque ele é um paciente da rede privada. Já os pais do sertão abrem suas casa e suas vidas para o mundo.

ÉPOCA – Semanalmente, o Ministério da Saúde notifica os casos suspeitos de Zika. Menos de um quinto recebeu diagnóstico da síndrome congênita do zika. Significa que os já liberados não terão problemas?
Debora –
 Não. As publicações mais recentes mostram que os critérios adotados pelo Ministério da Saúde na seleção são frágeis. As caravanas que percorrem o sertão estão mostrando isso também. Todos os bebês deveriam fazer exames de imagens para acompanhar o desenvolvimento cerebral. Estamos falando de mais de 8 mil crianças. Para esses pais, é uma angústia terrível de como a vida será.

Época