Medida é uma tentativa de policiar o que é e o que não é francês
21 ago, 2016
A recente proibição ao uso de burquinis em cidades costeiras da França se baseia em uma lógica profundamente contraditória, na medida em que a a ideia é impor regras sobre os tipos de roupas que as mulheres podem ou não vestir no intuito de combater a imposição de tais regras. Fica claro, portanto, que há algo maior por trás da proibição.
Burquinis são roupas de banho que cobrem a maior parte do corpo feminino de modo que obedecem aos padrões islâmicos de modéstia das muçulmanas. Na última quarta-feira, 17, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls defendeu a proibição e disse que o burkini é uma das ferramentas usadas “para escravizar mulheres”. No entanto, sociólogos afirmam que a verdadeira intenção não é proteger as muçulmanas do patriarcado, mas proteger a maioria não-muçulmana da França de ter de encarar um mundo em constante mudança. Essa nova realidade exige que os franceses ampliem seu senso de identidade quando muitos gostariam de manter as coisas como elas eram antigamente.
“É um forma de policiar o que é e o que não é francês”, disse Terrence Peterson, professor da Universidade Internacional da Flórida, que estudou a relação dos franceses com imigrantes muçulmanos.
Embora a batalha pela identidade francesa tenha ganhado projeção devido aos recentes atentados terroristas, ela existe na sociedade francesa há décadas, disse Peterson. O que parece ser uma disputa sobre um assunto específico – o código de vestimenta muçulmano – é, na verdade, sobre o que significa ser francês.
O simbolismo da era colonial que tachou o véu islâmico como prova da inferioridade da cultura islâmica transformou a vestimenta em um dos focos mais convenientes para aqueles que defendem a identidade francesa “tradicional”.
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