(Valor Econômico, 26/08/2016) Um ano antes de revelar ser homossexual, o CEO da Apple, Tim Cook, assinou um artigo no jornal “The Wall Street Journal” pedindo que membros do congresso americano considerassem aprovar uma lei, já adotada por pelo menos 19 dos 50 Estados do país, que proibiria empresas de discriminarem funcionários com base em identidade de gênero e orientação sexual. Mais do que proporcionar proteção para profissionais gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros, escreveu Cook, a lei – que não foi aprovada – contribuiria para gerar mais inovação dentro das empresas.
Dois professores de universidades asiáticas analisaram, em um novo estudo publicado na revista “Management Science”, se a adoção de medidas que protegem profissionais LGBT de discriminação realmente torna empresas mais inovadoras. E de acordo com os autores, Huasheng Gao, da Nanyang Business School, da Cingapura, e Wei Zhang, da Universidade de Finanças e Economia de Xangai, o CEO da Apple estava certo: empresas americanas em Estados que adotaram essas leis acabaram atraindo uma variedade maior de profissionais e, dois anos após a mudança na legislação, geraram mais inovação.
Dois professores de universidades asiáticas analisaram, em um novo estudo publicado na revista “Management Science”, se a adoção de medidas que protegem profissionais LGBT de discriminação realmente torna empresas mais inovadoras. E de acordo com os autores, Huasheng Gao, da Nanyang Business School, da Cingapura, e Wei Zhang, da Universidade de Finanças e Economia de Xangai, o CEO da Apple estava certo: empresas americanas em Estados que adotaram essas leis acabaram atraindo uma variedade maior de profissionais e, dois anos após a mudança na legislação, geraram mais inovação.
Para medir isso, eles observaram dados de quase cinco mil empresas americanas que fizeram registros de patentes entre 1976 e 2008. Após controlar por fatores relativos às empresas, como tamanho e rentabilidade, e aos Estados, como tamanho da população e nível educacional, eles observaram que companhias com sede em Estados que adotaram leis contra discriminação tiveram um aumento de 8% no registro de patentes na comparação com empresas em Estados sem essas leis.
Os resultados começam a aparecer dois anos depois da adoção da legislação e são mais evidentes em companhias de setores que dependem de capital humano, que não possuíam políticas próprias antidiscriminação e que estão localizadas em Estados que já possuem grandes populações de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Os autores também compararam empresas com endereços próximos, mas separadas pela fronteira estadual, e ainda assim encontraram diferença no número de patentes registradas.
De acordo com os autores, os resultados aparecem porque, ao adotar a lei antidiscriminação, o Estado passa a atrair mais profissionais LGBT e pessoas que se posicionam a favor dos direitos LGBT, ao mesmo tempo em que afasta aqueles com posição contrária. Segundo os pesquisadores, profissionais com postura “pró-LGBT” tendem a apresentar mais características relacionadas com a criatividade, como nível educacional mais alto, mente mais aberta, disposição maior de assumir riscos e um “background” mais diversificado. Já aqueles com uma atitude discriminatória tendem a ser mais conservadores.
Os autores também analisaram os endereços de 600 mil inventores no mesmo período, e viram que os Estados que adotaram leis anti-discriminatórias atraíram mais inventores nos três anos seguintes à aprovação, ao mesmo tempo em que outros profissionais com esse perfil deixaram o Estado. Os que chegaram, no entanto, tendiam a produzir 30% mais patentes do que aqueles que se mudaram.
Para os autores, os resultados indicam que políticas que buscam promover igualdade no ambiente de trabalho impactam os resultados das empresas ao promover mais inovação. “Esse tipo de legislação é justa porque melhora a inovação corporativa e tem efeitos econômicos reais”, escrevem em um artigo na “Harvard Business Review”.
No Brasil, uma pesquisa realizada no ano passado pela empresa de recrutamento Elancers, com 10 mil empregadores, apontou que quase 20% das companhias se recusariam a contratar um profissional homossexual por temer que a imagem da empresa seja associada a ele. Delas, 7% não contratariam pessoas gays “de modo algum”, e 11% considerariam a contratação apenas se o candidato não pudesse chegar um cargo mais visível, como o nível executivo. A lei trabalhista brasileira possui artigos proibindo a discriminação por sexo, raça, estado civil ou deficiência, mas não trata especificamente de orientação sexual ou identidade de gênero.
Letícia Arcoverde
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