Poder em determinar tendências é comparado ao movimento #BlackGirlMagic
por Gessica Borges
28.set.2017
Elas são apenas 14% da população feminina americana, mas o impacto é grande. Um dos institutos de pesquisa de mídia mais respeitados do mundo, Nielsen, divulgou um relatório que mostra o poder de influência de mulheres negras em conduzir categorias de produtos e mudar a cultura de consumo, fazendo o que popularmente é chamado de #BlackGirlMagic.
O próprio nome da pesquisa, “African-american Woman: Our Science, Her Magic”, faz alusão à hashtag, que começou a ser usada como uma forma de agrupar imagens, ideias, e outras formas que ilustram o orgulho em ser uma mulher negra, e com o tempo tornou-se uma espécie de movimento de empoderamento para impulsionar mulheres negras a demonstrar seu lugar único de poder na intersecção entre cultura, comércio e consciência coletiva.
O relatório diz que as preferências das consumidoras afro-americanas e suas afinidades de marca ressoam em todo o mainstream dos EUA, e a expectativa de total de gastos deste público é de US$ 1,5 trilhão até o ano de 2021. Avanços em categorias chave da análise explicam tal número: mulheres negras crescem em termos de população, escolaridade e empreendedorismo.
Highlights da pesquisa que sinalizam o fenômeno:
64% das mulheres negras concordam que seu objetivo é chegar no topo de sua profissão (95% a mais do que mulheres brancas não-hispânicas)
49% dizem que gostam de aprender sobre produtos ou serviços financeiros, e que regularmente lêem notícias financeiras ou publicações financeiras (34% a mais que mulheres brancas não-hispânicas)
Consumo de mídia
“As mulheres negras são consumidores vorazes de vídeo e outros conteúdos digitais, e são líderes mesmo em categorias de mídia mais tradicionais”, diz Cheryl Grace, da Nielsen. E completa: “[Elas] também são grandes fãs de revistas, mas consomem mais conteúdos multimídia em dispositivos do que qualquer outra categoria de mulheres. Tanto como consumidoras como criadoras, elas serão um excelente nivelador no futuro”
Um exemplo disso é Issa Rae, cujo trabalho pioneiro no YouTube foi visto e aproveitado pela HBO, que produz a premiada série “Insecure” (vale a pena conferir).
69% DAS MULHERES NEGRAS USAM O YOUTUBE, 22% A MAIS DO QUE O TOTAL DE MULHERES AMERICANAS
A pesquisa ainda conclui que, cada vez mais, mulheres negras estão abraçando seu poder em assumir o controle de como consomem entretenimento e informações, e como querem gastar o dinheiro que ganham. O impacto dessa consciência continuará a moldar as principais facetas de cultura popular americana – do entretenimento e da moda à política e mudança social. Os comerciantes que entendem a influência de tal grupo poderão identificar formas culturalmente impactantes de envolvê-las e, então, encontrar um efeito multiplicador em seu investimento em marketing.
No Brasil tudo ainda é classe
Uma pena que ainda não tenhamos um estudo tão relevante no Brasil que, quando se trata de pesquisa de mercado, tende a focar dados em classe, possivelmente negligenciando um fator cultural importantíssimo para a indústria como todo, que perpassa gênero (mulheres) e com certeza raça (negros e pardos).
Mas, à parte das discussões profundas e acaloradas sobre a indústria cultural e como marcas lidam com questões de diversidade, é fácil notar que o setor de beleza, por exemplo, já percebeu a importância de mulheres negras para o mercado. Produtos para cabelo, pele e acessórios, que há poucos anos eram praticamente inexistentes, hoje são encontrados nas prateleiras com certa facilidade. E é só ligar a TV (e a internet) para ver mulheres como Karol Conka, Magá Moura, Sheron Menezes, Taís Araújo, e outras “black divas” estampando campanhas, recentemente até de marcas de luxo, como no caso da Mercedes.
Se lá em terras norte-americanas, onde elas são mesmo minoria (em escala populacional), o impacto já é percebido e absorvido pela indústria, imagina se as marcas brasileiras levassem realmente a sério o fato de que aqui, somos a maioria da população? Provavelmente muito mais dinheiro para o bolso deles, campanhas com uma representação fidedigna do que é povo brasileiro, e bem menos revolta por parte da turma do #representatividadeimporta.
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