ONU
13/08/2018
13/08/2018
Ao completar 70 anos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos permanece necessária e atual em um mundo marcado por crescentes conflitos, desigualdades sociais, racismo, deslocamento forçado e violência, especialmente contra ativistas.
A avaliação é de diplomatas, representantes do Sistema ONU e de organizações da sociedade civil presentes na abertura da exposição de xilogravuras do artista plástico brasileiro Otávio Roth, na quarta-feira (8), no Rio de Janeiro.
É a primeira vez em mais de 30 anos que as xilogravuras que ilustram os artigos da Declaração têm exibição no país. As obras do artista morto em 1993, aos 40 anos, estão expostas permanentemente nas sedes da ONU em Nova Iorque, Viena e Genebra. No Rio, serão exibidas pela ONU Brasil até 9 de setembro no Centro Cultural Correios.
“As obras aqui expostas traduzem os ideais de paz e igualdade defendidos nos artigos da Declaração. É uma oportunidade não só de conhecer o trabalho deste artista que nos deixou precocemente, mas também refletir sobre os direitos e deveres que afetam a vida de todos nós”, disse Niky Fabiancic, coordenador-residente do Sistema ONU no Brasil, durante o lançamento da exposição.
Apesar da inegável relevância da Declaração atualmente, o sacrifício dos defensores dos direitos humanos globalmente é frequentemente testado e esquecido, afirmou Fabiancic. “Seus defensores muitas vezes pagam com suas próprias vidas em busca de um mundo mais justo e pelo cumprimento da nobre missão de manter a Declaração viva”, afirmou.
O coordenador-residente da ONU Brasil atentou para os crescentes fluxos de migrantes e refugiados no mundo. Em 2017, havia 68,5 milhões de pessoas em situação de deslocamento forçado, maior volume da história.
Para Fabiancic, esse desafio tem sido exacerbado pela atuação pouco generosa ou solidária de muitas lideranças políticas. “Devemos construir pontes entre países e pessoas, não erguer muros e fechar fronteiras”, disse.
Também presente no evento, o diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), Maurizio Giuliano, afirmou que, nos últimos 70 anos, os esforços da comunidade internacional e das Nações Unidas foram capazes de trazer algum sucesso na implementação dos direitos humanos.
“Mas, o caminho ainda é longo. Desde guerras no Oriente Médio e na África, até situações de migração forçada em Mianmar, violência em muitos países incluindo na América Latina, abusos contra minorias étnicas, religiosas e pessoas LGBTIQ+, ameaças ao meio ambiente, temos gravíssimas situações que prejudicam os direitos humanos”, alertou.
“A Declaração é extremamente atual, porque estamos, principalmente na área ambiental, vendo essa discussão de direitos sobre recursos naturais”, disse a representante da ONU Meio Ambiente no Brasil, Denise Hamú, lembrando que o Brasil é líder em morte de ativistas ambientais, citando dados da organização internacional Global Witness.
Esse contexto torna a arte um agente essencial para a promoção e difusão dos direitos humanos no mundo, na opinião de Ângela Pires, assessora do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) no Brasil.
“(A obra de Otávio Roth) provoca a partir da imagem. Provoca cada um de nós a lembrar o que são os direitos humanos, e nos convida à ação, a nos engajarmos”, declarou.
“Fico emocionada de ver as obras do Otávio Roth e a exposição que ele fez de cada um dos artigos da Declaração”, disse por sua vez Isabel Marquez, representante da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Brasil.
“A Declaração é para todos, independentemente de qualquer categoria. Essa falta de respeito com os direitos humanos, essas violações, é o que faz com que muitas pessoas tenham que fugir de seus países e procurar proteção”, completou Isabel, mencionando a situação dos venezuelanos que vêm ao Brasil diante da crise econômica e política em seu país.
Para o major Flávio Henrique, instrutor do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), Otávio Roth conseguiu transmitir através de sua obra uma linguagem universal para ilustrar os princípios da Declaração.
“Quem vê sua obra se identifica de imediato com a defesa dos direitos humanos. O legado que Otávio Roth deixou como brasileiro é muito importante, sua obra é muito perene por conta disso.”
Participação da sociedade civil
O coquetel de inauguração da exposição teve a participação de cerca de 150 convidados, entre eles membros de organizações da sociedade civil, que falaram sobre a importância da Declaração em seu trabalho cotidiano de defesa dos direitos humanos localmente.
Mônica Sacramento, coordenadora de projetos da ONG Criola, afirmou que a Declaração é um balizador do que é “comum estabelecer como direitos humanos”. “No caso brasileiro, em especial da Criola, a gente lida com a ameaça constante aos direitos humanos das mulheres negras em situação de maior vulnerabilidade”, explicou.
“São também jovens negros e mães de jovens negros vitimados pela violência. Então, a relevância do aniversário da Declaração tem a ver com este momento de retrocessos que estamos vivendo”, disse.
“Estamos diante de um desafio contemporâneo que é o reconhecimento da humanidade e do direito de todos, da equidade de todos. Não é muito diferente, infelizmente, de quando a Declaração foi elaborada.”
Os princípios da Declaração também estão intimamente ligados à proteção dos direitos de migrantes e refugiados, trabalho realizado no Brasil pela organização Cáritas, cujos representantes também visitaram a exposição de Otávio Roth.
“A gente tem uma conexão muito intensa com a questão dos direitos humanos, porque o direito que é dado ao refugiado, de atravessar a fronteira, e o direito de não ser devolvido ao país do qual saiu por se sentir violado e ameaçado, é um direito baseado na Declaração”, afirmou Mariana Sacramento, consultora em mobilização de recursos da Cáritas.
O lançamento da exposição no Centro Cultural Correios também teve a presença de representantes de consulados do Rio. Para Evelyne Coulombe, cônsul geral do Canadá na capital fluminense, as obras inovam ao mudar a forma com a qual o visitante está habituado a visualizar os artigos da Declaração.
“Se lermos a Declaração só no papel, não retemos tanto (as informações) do que quando vemos as imagens (criadas por Otávio Roth), a interpretação desse artista, que foi tão boa. Acho que nos permite refletir sobre cada artigo, com tempo e nesse espaço tão bonito que é o Centro Cultural Correios”, declarou.
Para o coordenador-residente da ONU no Brasil, o trabalho de construir significados, estratégias e agendas comuns para o mundo que todos compartilhamos tem sido cada vez mais desafiador.
“Nos últimos anos, a comunidade internacional conseguiu construir em consenso uma agenda universal e abrangente, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, um roteiro para criar as oportunidades para que todas as pessoas possam realizar seu potencial e desfrutar de condições de vida dignas, protegendo ao mesmo tempo nosso planeta”, declarou.
Atingir as metas propostas pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é uma missão difícil, cercada de complexidades, “o que significa que não podemos prometer sozinhos, sem a parceria dos Estados, das demais organizações internacionais e, decisivamente, sem o apoio da sociedade civil e ONGs”, salientou.
“Nesse contexto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos se faz ainda mais necessária. Desde 1948, ela tem sido o farol que nos guia, nos inspira, a cada dia, na incansável consecução de nosso mandato de promover a paz, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos”, concluiu Fabiancic.
Serviço
Período da exposição para o público: 08/08 a 09/09
Visitação: terça a domingo, das 12h às 19h
Classificação: Livre
Endereço: Centro Cultural Correios – Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro, Rio de Janeiro
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