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sábado, 29 de dezembro de 2018

Elza Soares tem vida já transcendental recontada com fluência em biografia escrita por Zeca Camargo

Por G1
19/12/2018
Elza Soares tem vida já transcendental recontada com fluência em biografia escrita por Zeca Camargo
Daryan Dornelles / Divulgação
A bem da verdade, os principais fatos das primeiras seis décadas de vida de Elza Soares já foram documentados em uma das biografias mais contundentes de um artista brasileiro, Elza Soares – Cantando para não enlouquecer, escrita pelo jornalista José Louzeiro (1932 – 2017) e editada em 1997.

O valor do livro de Louzeiro jamais tira o mérito da segunda recém-editada biografia da cantora carioca, Elza (Editora Leya), escrita pelo jornalista Zeca Camargo com o aval oficial e a ajuda fundamental da própria artista.
Dono de texto saboroso, Camargo reapresenta a história de Elza Soares com fluência, avançando na narrativa até este ano de 2018.
A rigor, o único acréscimo relevante na biografia da artista, em relação ao período abarcado pelo livro de Louzeiro, é o então nunca revelado mergulho da cantora nas drogas após a morte, em 11 de janeiro de 1986, aos 10 anos incompletos, do filho que Elza chamava de Juninho, mas que era conhecido como Garrinchinha pela semelhança com o pai, Manuel Francisco dos Santos (1933 – 1983), o jogador de futebol conhecido como Mané Garrincha, grande amor e dor da vida de Elza.
A folhetinesca vida conjugal de Elza com Garrincha, aliás, ocupa parte expressiva das 384 páginas do livro, atualizando uma história de amor, sexo & álcool que Elza já havia contado na atualmente raríssima autobiografia Minha vida com Mané, editada em 1969 e fora de catálogo há mais de 40 anos.
Capa do livro 'Elza', de Zeca Camargo — Foto: Arte gráfica de Victor BurtonCapa do livro 'Elza', de Zeca Camargo — Foto: Arte gráfica de Victor Burton
Capa do livro 'Elza', de Zeca Camargo — Foto: Arte gráfica de Victor Burton
Estruturada em 17 capítulos, a narrativa de Zeca Camargo glorifica a trajetória de Elza com o álibi de que essa trajetória improvável – que foi da pobreza quase extrema na periferia carioca à consagração planetária nos palcos em que o show A mulher do fim do mundo (2015 / 2018) foi apresentado com sucesso unânime de público e crítica – é digna mesmo de ovação.
Em essência, o que está contado no texto de Elza foi escrito com base no relato de vida feito pela cantora ao jornalista em depoimentos que totalizam mais de 50 horas. Só que o livro Elza escapa formalmente do formato da autobiografia por estar escrito na terceira pessoa. Mas é Elza quem fala. Somente Elza.
Projeto de Juliano Almeida e Pedro Loureiro, empresários que nos últimos anos conduziram a carreira da cantora a um patamar condizente com o alcance da esperta voz rouca, o livro tem caráter oficial. Juliano e Pedro são creditados no livro como "coordenadores de conteúdo".
Contudo, Zeca Camargo mostra que sabe escapar dessa chancela oficial quanto contesta Elza em alguns trechos do livro, desmentindo a inexistência de agressões físicas sofridas pela cantora no casamento com Garrincha – marido que ficava violento sob o efeito do álcool que o tiraria do campo terreno aos 50 anos – e apresentando outra versão quando o assunto é um imbróglio financeiro na volta de Elza ao Brasil, encerrando passagem conturbada pelos Estados Unidos no início da década de 1990.
A cantora Elza Soares é a única pessoa que depõe no livro escrito pelo jornalista Zeca Camargo — Foto: Daryan Dornelles / DivulgaçãoA cantora Elza Soares é a única pessoa que depõe no livro escrito pelo jornalista Zeca Camargo — Foto: Daryan Dornelles / Divulgação
A cantora Elza Soares é a única pessoa que depõe no livro escrito pelo jornalista Zeca Camargo — Foto: Daryan Dornelles / Divulgação
Por mais que o perfil da artista traçado nas 384 páginas seja excessivamente generoso, com exposição de qualidades e omissão de defeitos (ainda que um orgulho também por vezes excessivo apareça nas entrelinhas), a narrativa soa crível e sempre sedutora porque a vida de Elza Soares sempre oscilou nos níveis de uma gangorra, alternando altos e baixos emocionais e artísticos.
Por isso mesmo, é difícil desgarrar da leitura porque o livro Elza mais parece um romance cheio de ação, com trama que envolve racismo (sempre enfrentado e driblado por Elza de cabeça erguida), ascensão social, amor, sexo, vaidade, rejeição familiar, mortes, derrotas (inclusive financeiras) e sucessivas voltas por cima.
Nesse vaivém, é especialmente impactante o trecho em que Zeca conta que Elza, ex-lavadeira e ex-empregada já então transformada em cantora famosa, voltou à casa de uma patroa que lhe tinha imposto humilhações e maus-tratos somente para se mostrar vitoriosa para a madame. O que ela conseguiu, sem que a vitória tenha impedido o choro irrompido após sair da casa dessa ex-patroa.
Foi raro momento de fragilidade e vulnerabilidade dessa mulher desde sempre empoderada que se permitiu o prazer do sexo até bem perto dos 80 anos. Dura na queda, Elza Soares já adquire hoje, aos não declarados 88 anos, uma aura transcendental de deusa-mulher. É como se ela já pairasse soberana sobre todas as coisas, inclusive as dores do corpo e da alma que, no caso de Elza Gomes da Conceição, sempre foram muitas e muito fortes.
Sem a preocupação de salpicar dados enciclopédicos em texto centrado no essencial da vida humana, Zeca Camargo soube captar essa dimensão transcendental da personagem que biografa com assumida admiração. Esse é o maior acerto de Elza, o livro. (Cotação: * * * *)

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