O medo da rejeição não nos deixa baixar a guarda. Mas sem vulnerabilidade não teremos as coisas boas dos relacionamentos: intimidade e conexão.
By Kelsey Borresen, HuffPost US
A vulnerabilidade é vista como um ingrediente importante para os relacionamentos sadios, que nos deixam realizados. Mas muitos de nós temos dificuldade em nos abrir e ser vulneráveis de fato na vida real.
Contrariamente ao que muitas pessoas foram ensinadas a pensar, ser vulnerável é sinal de força e coragem, não de fraqueza.
A pesquisadora Brené Brown, conhecida autora de trabalhos sobre vulnerabilidade, define a vulnerabilidade como “o risco, a exposição e incerteza emocional” que “alimenta nossa vida diária”.
A pesquisadora Brené Brown, conhecida autora de trabalhos sobre vulnerabilidade, define a vulnerabilidade como “o risco, a exposição e incerteza emocional” que “alimenta nossa vida diária”.
Num relacionamento romântico, isso pode significar ser o primeiro a dizer “eu te amo”, o primeiro a admitir os erros que você cometeu, o primeiro a sugerir que vocês façam uma terapia de casal ou ter a coragem de dizer a seu parceiro diretamente o que você precisa dele.
“Ser vulnerável envolve nos expormos pessoalmente de uma maneira que corre o risco de suscitar vergonha, constrangimento, autocrítica ou outras emoções incômodas”, disse ao HuffPost o psicólgo Lee Land.
Por mais que isso possa parecer arriscado, a vulnerabilidade traz muitas recompensas. “Com a abertura e a vulnerabilidade, as pessoas podem se aproximar mais e desenvolver uma intimidade real”, ele explicou.
Pedimos a especialistas em relacionamentos para explicar por que a vulnerabilidade pode parecer assustadora e como podemos incorporar mais vulnerabilidade em nossas vidas.
Por que temos dificuldade em nos mostrar vulneráveis
Em nossos relacionamentos românticos, hesitamos em mostrar abertamente ao nosso parceiro nossas inseguranças, necessidades, nossos erros, medos e defeitos de caráter, temendo que o parceiro mude de ideia a nosso respeito. Achamos que seremos ridicularizados ou rejeitados. Nosso parceiro nos julgará, nos interpretará mal ou nos abandonará. E todas essas possibilidades são apavorantes.
“Ser vulnerável implica compartilhar nossos sentimentos e pensamentos mais íntimos com outros, de maneiras que podem conduzir à rejeição”, disse Land. “Todos nós já passamos por momentos na vida em que as pessoas reagiram de maneiras que nos magoaram ou decepcionaram. A dor da desconexão emocional pode levar as pessoas a esconder seus sentimentos reais, numa tentativa de se protegerem.”
Muitas vezes o grau em que uma pessoa fica à vontade em mostrar-se vulnerável está relacionado a como ela foi criada e outras experiências passadas. Se seus pais incentivaram esse tipo de expressão honesta e serviram de exemplos dela, uma criança tem mais chances de conseguir conectar-se com outras pessoas de uma maneira semelhante, disse o terapeuta conjugal e familiar Spencer Northey, de Washington.
“Mas se você mostrou sua vulnerabilidade quando era criança ou jovem e saiu ferido, é mais provável que mais tarde tenha dificuldade em se abrir novamente”, ele explicou.
Como ser mais vulnerável
Se você tem dificuldade em manifestar vulnerabilidade em seus relacionamentos, saibe que não está só. Compilamos alguns conselhos de especialistas que podem ajudar você a treinar a vulnerabilidade não apenas em seus relacionamentos românticos, mas também em outras áreas da vida.
Identifique as pessoas em sua vida que demonstram vulnerabilidade. E aprenda com elas.
Talvez seja uma colega de trabalho que escreveu no Instagram sobre o aborto espontâneo que sofreu. Pode ser aquele amigo que teve a coragem de pedir ajuda para enfrentar seu problema de dependência química. Quando você se cerca de pessoas vulneráveis, pode acabar absorvendo um pouco da autenticidade delas. Pouco a pouco você também pode começar a baixar sua guarda.
“Passar tempo com pessoas que são emocionalmente abertas e vulneráveis pode lhe trazer conforto emocional, e esse tipo de relacionamento pode facilitar a segurança interpessoal que nos dá licença de compartilhar mais abertamente”, disse Land.
Comece devagar.
Pessoas que têm dificuldade em mostrar-se vulneráveis a um parceiro romântico “muitas vezes já foram feridas no passado”, disse a terapeuta conjugal e familiar Ann Osborn. Mas não é preciso mergulhar de cabeça. Comece aos poucos, abrindo-se sobre coisas menores, até que você se sinta à vontade para compartilhar as coisas mais pesadas ou importantes.
“Quanto mais você treinar e perceber que é capaz de se abrir, mais você vai se dispor a continuar a correr o risco de ser vulnerável no amor”, afirmou a terapeuta.
Reflita sobre seus pensamentos e pare de vez em quando para checar como você está.
Se você tem o hábito de fugir de emoções sofridas ou reprimi-las, pode acabar perdendo o contato com seus próprios sentimentos. Para Landa, escrever um diário, praticar meditação, fazer terapia e outras práticas semelhantes podem ajudar você a se compreender melhor e aprofundar sua vida emocional.
“Quando vão ficando mais à vontade em sentir emoções fortes, as pessoas são capazes de aprender a compartilhar sentimentos vulneráveis de maneiras que fomentam a conexão e proximidade com outros”, ele comentou.
“A terapia pode ser um ambiente seguro no qual as pessoas podem aprender a ter vulnerabilidade emocional sadia.”
Valide os sentimentos de seu parceiro.
As desavenças nos relacionamentos começam quando um dos parceiros cria coragem de revelar algo vulnerável sobre si mesmo e o outro parceiro ou assume postura defensiva ou começa imediatamente a propor soluções, em vez de ouvir a primeira pessoa realmente, disse o coach de relacionamentos Jonathan Robert.
“Muitas vezes a pessoa se apressa para procurar uma solução, passando por cima da emotividade do parceiro magoado ou temeroso”, ele disse. “Em primeiro lugar, valide o sentimento de seu parceiro. Depois procure uma solução. Pode ser confuso para o ouvinte porque ele pensa que está ajudando quando, na realidade, está magoando.”
Para validar os sentimentos de seu parceiro, você precisa reconhecer a experiência dele, mesmo que não necessariamente concorde com suas reações e perspectivas.
Robert propôs alguns exemplos de afirmações que validam: “Entendo como você pode interpretar desse modo o que eu falei”, “Deve ser tão assustador/doloroso/surpreendente para você passar por isso”, ou simplesmente “Faz sentido”.
Depois de validar o que seu parceiro lhe mostrou, você pode começar a manifestar seu próprio ponto de vista, com gentileza, e abrir uma conversa sobre como resolver o problema. Experimente dizer algo como “eu não queria que você tivesse sentido isso, mas entendo por que sentiu”, sugeriu Robert, ou “quero entender como você se sente para que possamos buscar uma solução”.
Quando quiser discutir um problema com seu parceiro, use a “introdução suave”.
Quando expressam uma queixa no relacionamento, muitas pessoas partem diretamente para a crítica: “Você sempre volta tarde do trabalho. O jantar já esfriou. Você só enxerga suas próprias questões”. Mas uma abordagem melhor – e mais vulnerável – seria refletir e depois reformular a crítica para expressar sua carência, e não para criticar o caráter de seu parceiro.
Os célebres pesquisadores sobre relacionamentos John e Julie Gottman idealizaram a técnica da “introdução suave”, em que esse tipo de discussão é iniciada com a frase: “Sinto .... sobre ...., e preciso de .....”
“No meu trabalho”, disse Northey, “já pude perceber que críticas quase sempre indicam carências disfarçadas da pessoa que tece a crítica.”
Assim, no exemplo citado acima, você pode dizer, por exemplo: “Eu me sinto sozinha e decepcionada quando você chega tarde do trabalho. Preciso que você chegue a tempo do jantar com mais frequência. Quando não puder, preciso que você me ligue para avisar.”
E lembre-se que as pessoas geralmente reagem positivamente a manifestações de vulnerabilidade.
Pense em alguma vez quando alguém se abriu com você. O mais provável é que você tenha se sentido honrado porque a pessoa compartilhou sua história com você. Talvez tenha admirado a coragem que isso exigiu. Talvez tenha se sentido mais ligada à pessoa.
“Lembre-se que quando outras pessoas compartilham suas experiências conosco de maneira autêntica, vulnerável, geralmente nos sentimos mais próximas delas e mais capazes de reciprocar emocionalmente”, disse Land.
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